Em direto
Guerra na Ucrânia. A evolução do conflito ao minuto

Capitólio. Invasores comprometem Donald Trump como instigador da invasão

por RTP
Reuters

Duas semanas depois da invasão ao Capitólio, centro da democracia americana, apoiantes de Donald Trump que foram presos começam a sua defesa perante os tribunais. Muitos culpam manifestantes da extrema-esquerda, outros culpam membros do movimento Black Lives Matter e até há quem chegue a envolver o ainda vice-presidente Mike Pence como responsável pela invasão. No entanto, alguns dos manifestantes presos alegam que Donald Trump foi o responsável pelos acontecimentos de 6 de janeiro, já que se guiaram pelas palavras do Presidente num discurso feito horas antes.

Os argumentos que muitos advogados querem usar para defender os acusados podem até ter um papel importante na destituição de Donald Trump. Em documentos do tribunal e entrevistas realizadas aos manifestantes, muitos são os que culpam o ainda presidente pelo que aconteceu no Capitólio.

Pelo menos quatro dos invasores que estiveram em Washington a 6 de janeiro afirmam que se juntaram à marcha que terminou com a invasão ao Capitólio porque as palavras de Donald Trump os inspiraram a atuar.

De acordo com o New York Times, um bombeiro reformado, acusado de agressões a forças da autoridade, revelou a um amigo que entrou no Capitólio seguindo “instruções do presidente”. Robert Sanford ouviu as palavras de Donald Trump, juntou-se à multidão e atirou um extintor contra um grupo de polícias que ficaram feridos.

O advogado de Sanford explicou que pretende explorar uma possível culpa de Donald Trump como origem das ações do seu cliente. “Alguém te diz: 'Tens de lutar muito'. 'Lutar muito' significa que se pode atirar coisas a outras pessoas? Talvez”. E ainda fez notar que o seu cliente só esteve em Washington no dia 6 de janeiro porque Trump se encontrava lá.

No caso de uma agente imobiliária de Dallas, Texas, a ida a Washington foi “uma resposta à chamada do presidente”. “Ele [o presidente] disse: 'Estejam lá', e assim eu respondi à chamada do meu presidente”. Jennifer L. Ryan voou num jacto privado com amigos para Washington e foi vista num vídeo, entretanto apagado no Facebook, a entrar no Capitólio e a gritar “Luta pela Liberdade” e “Esta é a nossa casa”.

O advogado de uma das figuras mais proeminentes da invasão, o homem com cara pintada e vestido com roupas viquingues, um líder do grupo QAnon, afirmou que Donald Trump é responsável pelos acontecimentos no Capitólio.

“Tem o nosso presidente responsabilidade? Claro que tem”, afirmou o advogado ao New York Times, explicando posteriormente que vai pedir um indulto à Casa Branca para Jacob Chansley, que entrou no Capitólio e deixou uma mensagem ao vice-presidente Mike Pence: “É apenas uma questão de tempo, a justiça vai chegar”.

O advogado do manifestante não nega a presença do cliente no Capitólio mas alega que a presença de Chansley em Washington aconteceu porque ele, tal como outros, se “agarrou às palavras do presidente” para ter conforto e orientação.

“O que temos aqui são pessoas que levam as palavras do presidente a sério e olham para ele para se sentirem relevantes num sistema que as fez sentirem-se negligenciadas”.

Um outro homem da Virginia revelou ao FBI que ele e o primo marcharam até ao Capitólio porque Donald Trump “disse algo sobre invadir a Avenida da Pensilvânia”.

Os inquéritos aos acusados encontram-se apenas no início e deverão levar semanas até haver contornos mais definidos das investigações a decorrer. Com muitas pessoas a aparecerem pela primeira vez em tribunal, os relatos que dão sobre a responsabilidade de Donald Trump na invasão não só funcionam como provas em procedimentos criminais, como em alegações para um novo processo de “impeachment” de Trump.

Estas acusações acabam por contrariar a narrativa do advogado de Donald Trump, Rudy Giuliani, segundo a qual a invasão aconteceu por parte de manifestantes que não apoiavam o presidente e “servidores desleais”.

Com o avançar dos processos, muitos dos seguidores de Donald Trump ficarão numa posição complicada, já que irão culpar o ainda presidente, o homem que foram apoiar em Washington no dia 6 de janeiro. Com este tipo de estratégia, os advogados podem alegar que os seus clientes não são culpados, já que foi um responsável do Governo que permitiu que o crime de invasão do Capitólio fosse cometido.
Dúvidas legais sobre a culpa de Trump
Apesar de alegarem que Donald Trump é o responsável pelo que aconteceu no Capitólio, muitos especialistas em direito explicam que a viabilidade desta defesa pode ser colocada em causa, já que terá de ser provado que os manifestantes acreditavam piamente que Trump os autorizou a realizar certas ações.

No entanto, Judith P. Miller, professora de Direito na Universidade de Chicago, explicou que tentar culpar Donald Trump pelo que aconteceu no Capitólio pode atenuar a sentença para crimes relacionados com o que aconteceu no Capitólio.

“O facto de o maior líder deste país estar a promover esta grande mentira, dar a milhões de pessoas este sentimento de justiça e que se encontram do lado certo dos anjos, faz parecer que existem provas fortes para alegar a culpa de Trump”.
Tópicos
PUB