Isso mesmo anunciou o líder do MAS no Congresso, Sergio Choque, ao revelar à Agência Reuters a intenção dos deputados de não estarem presentes nessa sessão.
"Sem nós não haverá quórum e essa é a posição de todo o partido a nível nacional", garantiu Choque.
A Bolívia arrisca por isso cair num impasse político, ecoando o que se passa nas ruas de La Paz, ainda bloqueadas por barricadas e manifestantes.
Só as patrulhas contínuas de polícias e soldados, cujo apoio foi pedido pelas forças da ordem da capital administrativa do país, impedem confrontos entre grupos políticos rivais e pilhagens como as que irromperam após a demissão do Presidente.
Sindicatos exigem regresso à normalidade em 24 horas
O impasse poderá ficar resolvido antes de ocorrer, se os deputados do MAS desistirem do boicote, em resposta à ameaça emitida nas últimas horas pela maior central sindical boliviana.
A Central dos Trabalhadores da Bolívia anunciou a intenção de avançar para uma greve geral por tempo indeterminado, se a paz e a ordem constitucionais e civis não forem restauradas num prazo de 24 horas.
"Aos líderes políticos e civis que causaram todo este caos... Damo-vos 24 horas para restaurar a ordem constitucional, a paz social e a unidade do povo boliviano", declarou o líder da Central, Juan Carlos Huarachi, numa mensagem vídeo.
"O nosso país não merece isto", acrescentou.
Alternativa Jeanine Añez
À demissão de Morales seguiu-se a renúncia de todos aqueles nomeados na Constituição para assumirem a presidência, em caso de partida súbita do chefe do país, nomeadamente o vice-presidente do país, a presidente e o vice-presidente do Senado e o presidente da Câmara dos Deputados.
Neste vazio de poder, resta a segunda-vice presidente do Senado, a líder da oposição Jeanine Añez, que já afirmou esperar ser designada Presidente interina pela Câmara Alta, onde os apoiantes de Morales ocupam 19 dos 36 lugares.
Ser nomeada para o cargo interinamente "é o objetivo", afirmou Añez
aos jornalistas, ao chegar ao Parlamento. "Espero que possamos lá
chegar", acrescentou, "não podemos ficar sem Governo".
No caso da demissão de um Presidente, a Constituição do país prevê 90 dias para a convocação de um novo ato eleitoral.
A
senadora de 52 anos já prometeu "convocar eleições" para ter "um
Presidente eleito a 22 de janeiro".
Seria esta a data prevista para a
tomada de posse do próximo Chefe de Estado boliviano após as recentes eleições, cuja vitória foi reclamada por Morales, candidato a um quarto mandato, à revelia da Constituição e de um referendo popular.
"A luta continua"
Evo Morales demitiu-se domingo, depois de 10 dias de paralisação com greves, protestos e violência nas ruas, e por não ter recebido o apoio do exército. Anunciou no Twitter a sua partida segunda-feira, para o México, onde chegou terça-feira.
"Todos os povos têm o direito de se libertar", afirmou Evo Morales ao pisar solo mexicano e depois de agradecer ao México por lhe ter "salvado a vida".
"A luta continua", garantiu ainda, afirmando que nunca deixará de "fazer política".
Com o ex-chefe de Estado, viajavam o antigo vice-presidente, Alvaro Garcia Linera e a ex-ministra da Saúde, Gabriela Montaño.