Canadá reforça presença militar no Ártico perante ameaça russa

por Inês Moreira Santos - RTP
Olivier Morin - AFP

O Canadá pretende aumentar a presença militar e diplomática no Ártico para enfrentar o que denominou de ameaças da Rússia. Com os graves efeitos das alterações climáticas e as mudanças geopolíticas como principais desafios da região, o Governo de Ottawa anunciou que quer unir esforços com os Estados Unidos para garantir a segurança regional.

Entre as medidas planeadas destaca-se a implantação de mais navios patrulha e contratorpedeiros, quebra-gelo e submarinos, além de mais aeronaves e drones. A par das autoridades norte-americanas, o Canadá está a modernizar as defesas continentais, incluindo a vigilância a norte, com novos sensores marítimos e satélites.

“O Ártico está a passar por grandes mudanças. A paisagem geopolítica em mudança, as ameaças de segurança em evolução e a aceleração das alterações climáticas estão a ter impacto no Ártico de maneiras únicas e destacam a necessidade de uma forte liderança canadiana para responder à realidade em mudança na região”, argumentou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Canadá, num comunicado esta sexta-feira.

Neste contexto, a ministra Mélanie Joly anunciou uma nova estratégia de Política Externa Ártica do Canadá (AFP, na sigla em inglês), definindo-a como uma “estratégia diplomática abrangente para o posicionamento do Canadá no e sobre o Ártico”, garantindo “presença e parcerias alargadas que respondam às necessidades atuais”, assim como “flexibilidade para adaptação a desafios futuros”.

Esta abordagem, adianta ainda a ministra canadiana dos Negócios Estrangeiros, permite a Ottawa continuar a “salvaguardar a soberania [do Ártico], os interesses nacionais e a promover um Ártico estável, próspero e seguro com base numa visão compartilhada para o futuro da região”.

“A AFP é composta por quatro pilares de política externa: afirmação da soberania do Canadá; promoção dos interesses do Canadá através da diplomacia pragmática; liderança na governança do Ártico e desafios multilaterais; e adoção de uma abordagem mais inclusiva à diplomacia do Ártico”.

O objetivo, esclarece ainda no comunicado, é promover uma região mais “segura, próspera e resiliente para os canadianos perante novas e emergentes ameaças à região”.

“Estamos num mundo difícil, e precisamos de uma resposta dura. A competição está a aumentar em todo o mundo e o Ártico não é imune. Muitos países, incluindo Estados não-árticos, aspiram por um papel maior nos assuntos do Ártico”, afirmou Joly, citada no comunicado oficial do Governo.

O documento de política externa revela ainda que Ottawa tem procurado, nos últimos anos, administrar o Ártico cooperativamente com outros Estados e mantê-lo livre da competição militar.

“No entanto, as proteções que previnem conflitos estão cada vez mais sob pressão”, afirmou mais tarde a ministra Mélanie Joly, numa conferência de imprensa.

“O Ártico já não é uma região de baixa tensão”, disse ainda, culpando as operações russas no Ártico e aprofundando as rivalidades geopolíticas.

A somar às questões geopolíticas, o Ártico está a aquecer em média quatro vezes mais depressa que o resto do mundo, o que está a dar espaço para a exploração de passagem e de recursos como petróleo, gás e minerais. Ou seja, o mais fácil acesso à região está a aumentar os desafios de segurança, alertou também o ministro da Defesa, Bill Blair, na mesma conferência.

"As alterações climáticas estão a aumentar o acesso aos recursos do Ártico e às rotas de navegação, atraindo outras nações para a região e aumentando a competição. Esse ambiente em evolução cria novos desafios de segurança", afirmou Blair.

A Política Externa do Canadá no Ártico responde, por isso, "a esses desafios crescentes com foco em afirmar a nossa soberania no Norte, ao mesmo tempo que apoia a prosperidade para aqueles que vivem lá".

O documento estratégico de 37 páginas cita ainda a agressão russa, as ambições chinesas na região, bem como os efeitos do aquecimento global, que podem abrir canais de navegação.

"O Ártico norte-americano não está mais livre de tensões. O Canadá deve trabalhar ainda mais de perto com seu aliado mais próximo, os Estados Unidos, para manter uma pátria norte-americana segura", conclui o Governo de Ottawa no plano estratégico.
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