O Governo canadiano emitiu, na terça-feira, um alerta aos membros da comunidade LGBT que queiram viajar para os Estados Unidos. Em causa estão possíveis riscos que podem enfrentar em determinados Estados norte-americanos com políticas hostis para com estas pessoas.
O termo 2SLGBTQI+ é o usado oficialmente pelo Governo do Canadá para se referir a esta comunidade, sendo que o "2S" se refere a "pessoas de dois espíritos", feminino e masculino.
Uma porta-voz da agência governamental Global Affairs Canada explicou à CBC News que, "desde o início de 2023, alguns Estados nos EUA passaram leis a proibir espetáculos drag e a restringir o acesso da comunidade transgénero a cuidados específicos de afirmação do género, assim como a sua participação em eventos desportivos".Este tipo de avisos sobre viagens lançados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Canadá abrange, habitualmente, países associados a violações dos direitos das pessoas LGBT, como a Rússia, Egito ou Uganda.
Questionada sobre o alerta do Governo, a vice-primeira-ministra canadiana, Chrystia Freeland, frisou que esta decisão não é política. "Temos funcionários no Governo cujo papel é observar o que está a acontecer no mundo e monitorizar os perigos específicos que certos grupos de canadianos enfrentam", elucidou.
Freeland não respondeu quando questionada sobre se houve alguma conversa entre Otava e Washington antes de a recomendação do Governo ter sido atualizada.
O Canadá, país com cerca de 40 milhões de habitantes, tem aproximadamente um milhão de pessoas LGBT, segundo a empresa Statistics Canada.
Os Estados Unidos são o destino número um da população canadiana, com 2,8 milhões de visitas registadas apenas no último mês de junho.
Comunidade LGBT enfrenta “estado de emergência”
A recomendação do Governo canadiano chega numa altura em que, nos Estados Unidos, aumentam as leis contra pessoas LGBT por parte de políticos conservadores.
Em junho, o Supremo Tribunal dos EUA autorizou pela primeira vez que algumas empresas recusassem servir clientes LGBT por motivos religiosos, ao decidir a favor de uma designer gráfica que se recusou a prestar serviços a casais homossexuais.
Antes disso, em maio, o governador republicano do Estado da Florida, Ron deSantis, assinou leis que proíbem menores de se submeterem a tratamentos médicos para mudança de sexo e de assistirem a espetáculos drag, restringindo também o uso de pronomes neutros em salas de aula.
Em março, foi o governador do Tennessee quem passou legislação a proibir espetáculos drag na presença de crianças e a restringir os tratamentos médicos à juventude transgénero.
A Human Rights Campaign, maior grupo de defensores dos direitos LGBT nos Estados Unidos, disse em junho que os americanos desta comunidade estavam a enfrentar um estado de emergência devido às novas legislações.