O prazo para que os partidos políticos brasileiros registem os seus candidatos junto da Justiça Eleitoral chegou ao fim e a campanha de rua para as eleições de Outubro no Brasil começa oficialmente esta quinta-feira.
Cerca de 124 milhões de eleitores vão escolher os seus candidatos a Presidente, governador (27 Estados), senador (1/3 das 81 cadeiras do Senado, ou seja, 27), deputado federal (todos os 513 assentos da Câmara) e deputado estadual ou distrital, no caso do Distrito Federal (1059 no total).
Os processos de candidatura serão julgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no caso de candidatos à Presidência, e pelos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), nos demais casos, até o dia 23 de Agosto, quando a Justiça decidirá se todos estão aptos a participar das eleições.
Oito concorrentes já anunciaram as respectivas candidaturas à Presidência e deverão formalizá-las hoje junto ao TSE.
A disputa presidencial ficará, contudo, polarizada entre o actual Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Após meses de campanha disfarçada em inaugurações e cerimónias públicas, a candidatura de Lula da Silva à reeleição foi oficializada no último dia 24 de Junho em convenção nacional do PT, formação que o ex-líder sindical ajudou a fundar em 1980 e que está no poder desde 2003.
O PT está coligado nestas eleições com o inexpressivo Partido Republicano Brasileiro (PRB), do vice-presidente José Alencar, que compõe novamente a lista encabeçada por Lula da Silva.
Os tradicionais aliados do PT, o Partido Social Brasileiro (PSB) e o Partido Comunista do Brasil (PC do B), vão apoiar a candidatura do Presidente Lula, mas não formalizaram a aliança com o PT, o que permitiria aumentar o tempo de TV do partido no horário eleitoral gratuito.
O Partido do Movimento Democrático Brasileiro, que tem o maior número de assentos no Congresso Nacional e apoiou Lula da Silva na eleição de 2002, está dividido, mas a cúpula do PMDB vai defender a reeleição do Presidente.
José Sarney, actual senador e ex-presidente da República, e Renan Calheiros, presidente do Senado, do PMDB já estão a definir as condições para que o partido apoie o candidato do PT, que certamente incluirão uma participação maior no governo num eventual segundo mandato de Lula da Silva.
Esta será a quinta vez consecutiva que Lula da Silva disputa a Presidência do Brasil e a corrida eleitoral começa com uma larga vantagem para o actual presidente.
As últimas sondagens apontam que o Presidente Lula poderá reeleger-se já na primeira volta das eleições, no dia 01 de Outubro, com mais da metade dos votos válidos, sem precisar disputar a segunda volta, prevista para o dia 29 de Outubro.
O seu principal adversário, Geraldo Alckmin, do PSDB, que conta com o apoio do Partido da Frente Liberal (PFL), de direita, tem vindo a registar o crescimento de sua candidatura, mas ainda está distante do primeiro colocado.
De acordo com a última pesquisa do instituto "Datafolha", Alckmin subiu de 22 por cento em Maio para 29 por cento em Junho, enquanto as intenções de voto para o actual Presidente aumentaram de 45 para 46 por cento no mesmo período.
Sustentado pela aliança eleitoral entre PSDB e PFL, dois dos maiores partidos brasileiros, Alckmin terá no horário eleitoral gratuito, entretanto, um tempo significativamente maior que o de Lula da Silva.
O horário eleitoral gratuito começa no dia 15 de Agosto e vai até 28 de Setembro.
Os candidatos à Presidência participarão em dois blocos de 25 minutos cada às terças-feiras, quintas-feiras e sábados, sendo um terço do tempo dividido igualmente entre todos os concorrentes.
Os outros dois terços serão repartidos de forma proporcional pela bancada na Câmara dos Deputados.
Disputarão também as eleições presidenciais de Outubro dois antigos integrantes do PT: os senadores Cristovam Buarque e Heloísa Helena, considerados candidatos de porte médio.
Buarque, que já foi ministro da Educação do governo Lula, sairá como candidato do Partido Democrático Trabalhista, o PDT do ex- governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola.
A senadora Heloísa Helena é a candidata do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), criado no ano passado por dissidentes do PT que foram expulsos do partido.
Os outros quatro postulantes à Presidência são de partidos inexpressivos e por isso chamados no Brasil de "candidatos nanicos".
Entre eles estão o ex-deputado federal e empresário pernambucano Luciano Bivar, do Partido Social Liberal, que defende a redução da carga tributária e a adopção de um imposto único no Brasil, e José Maria Eymael, do Partido da Social Democracia Cristã (PSDC), ex- deputado federal que já foi candidato à Presidência em eleições anteriores.
O principal desafio dos opositores de Luiz Inácio Lula da Silva nas próximas eleições será tentar lograr uma segunda volta das eleições e certamente os candidatos vão explorar os sucessivos escândalos de corrupção que marcaram o último ano do actual governo.
A crise começou em Maio do ano passado e agravou-se um mês depois com as denúncias do ex-deputado Roberto Jefferson, que deram origem a uma das mais graves crises políticas brasileiras.
Jefferson revelou a existência de um esquema de compra de votos no Congresso Nacional - o chamado "mensalão" - financiado pelo "saco azul" do PT, o que foi comprovado mais tarde pelas investigações de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) e da Polícia Federal.
O curioso é que, apesar dos escândalos que derrubaram toda a cúpula do PT e também ministros fortes do governo, como José Dirceu, da Casa Civil, Antonio Palocci, das Finanças e Luiz Gushiken, secretário de Comunicação da Presidência Lula da Silva, Lula da Silva saiu ileso e apresenta-se como favorito.
O candidato do PT já anunciou que não vai cair em provocações dos adversários, numa indicação de que pretende repetir o lema "Lulinha paz e amor" da última campanha.
O Presidente Lula da Silva vai procurar também manter o seu favoritismo destacando, entre outros pontos da campanha, os benefícios do programa "Bolsa Escola", que já alcança mais de 11 milhões de famílias, a estabilidade da economia brasileira e a conquista da auto- suficiência do Brasil em petróleo.