Camiões com ajuda humanitária entram em Ghouta

por Sandra Salvado - RTP
Omar Sanadiki - Reuters

Quarenta e seis camiões da ONU entraram finalmente em Ghouta Oriental, onde cerca de 400 mil pessoas têm sido fustigadas por bombardeamentos intensos diários, que fizeram mais de 650 mortos civis no espaço de duas semanas. Um local cercado pelas forças de Bashar al-Assad desde maio de 2013.

As Nações Unidas confirmam que, juntamente com os parceiros no terreno, vão fazer chegar "ajuda humanitária a Douma, Ghouta Oriental, com um comboio de 46 camiões que transporta medicamentos e alimentos para 27.500 pessoas".

Estes são os primeiros camiões a entrar no enclave desde o início da ofensiva, em meados de fevereiro.

O coordenador da ONU para as questões humanitárias na Síria, Ali al-Zaatari, que viajou na dianteira do comboio, já manifestou o desejo de que a operação desta segunda-feira, que visa prestar assistência à população e às graves carências de alimentos e medicamentos, seja "seguida de outras mais".

"Não estamos limitados pelas cinco horas. Dissemos que era uma duração impossível para qualquer comboio humanitário. Organizámos e negociámos doze a dezasseis horas para este comboio. Descarregá-lo irá levar muitas horas, por isso talvez saiamos de Douma muito depois do anoitecer", explicou o responsável da ONU.

O comboio de ajuda humanitária entrará em Ghouta Oriental durante as cinco horas de cessar-fogo diárias, por um período de 30 dias, estabelecidas pela resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, na passada terça-feira.

A ONU prevê ainda realizar outra ação na quinta-feira e disse já ter recebido "as autorizações" para desencadear a ajuda humanitária "a 70 mil pessoas" no enclave.

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De acordo com os números avançados esta segunda-feira pelo Observatório Sírio dos Direitos do Homem, 14 civis morreram na sequência de ataques aéreos das forças de Bachar al-Assad, horas antes da chegada prevista dos camiões com ajuda humanitária.

Segundo esta organização não-governamental, o Presidente Bachar al-Assad está determinado em continuar a ofensiva iniciada no dia 18 de fevereiro. O regime de Damasco é apoiado pela Rússia que tem forças e meios no terreno.

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Um funcionário da Organização Mundial de Saúde denunciou à agência Reuters que as forças governamentais retiraram dos camiões material cirúrgico e kits para tratar feridos antes de autorizarem a comitiva a partir dos armazéns para Ghouta.
“Não existe contradição entre uma trégua e as operações de combate"
A operação contra o enclave rebelde de Ghouta Oriental vai continuar. Quem o garante é o próprio presidente sírio, Bashar al-Assad que, independentemente das críticas de que tem sido alvo, afirmou no domingo que “não há contradição entre uma trégua e operações de combate. O progresso obtido ontem e anteontem em Ghouta pelo Exército Árabe da Síria foi conquistado durante esta trégua”, disse Assad aos jornalistas.

“Portanto, devemos continuar com a operação em paralelo à abertura do caminho para que os civis saiam.”

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Assad referia-se ao cessar-fogo diário de cinco horas, decidido de forma unilateral a pedido da Rússia, que apoia o regime sírio. Uma pausa nos combates que os Estados Unidos já consideraram "uma piada" e que a ONU já afirmou não estar a produzir efeitos, sendo um “castigo coletivo de civis” que é “simplesmente inaceitável”.

As denúncias do Ocidente de uma situação humanitária catastrófica para a população síria foram classificadas no domingo por Bashar al-Assad como uma "mentira rídicula".

De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, os bombardeamentos na Síria já fizeram mais de 650 mortos civis no espaço de duas semanas.
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