Cabo Delgado. OIM defende retorno "planeado" a pontos reconquistados pelas autoridades

por Lusa

O diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM) defendeu hoje que o retorno das populações deslocadas devido ao conflito armado em Cabo Delgado deve ser feito com garantia de segurança, sugerindo um modelo gradual e devidamente planeado.

"Neste momento, é preciso avaliar as condições de segurança em cada uma das regiões e, nesta perspetiva, é preciso planear o retorno", disse António Vitorino, durante uma conferência de imprensa em Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, no âmbito de uma visita de três dias que realiza a Moçambique.

Num momento em que as forças conjuntas de Moçambique e do Ruanda registam avanços nas operações, tendo recuperado posições importantes como a sede da vila de Mocímboa da Praia, tida como a base dos insurgentes, o diretor-geral da OIM entende que um retorno massivo às zonas reconquistadas não seria exequível.

"Um retorno massivo não seria exequível, mas à medida em que forem sendo criadas as medidas de segurança vai ser possível que as populações regressem às zonas de origem", declarou António Vitorino, acrescentando que a maior parte dos deslocados com os quais esteve durante a sua visita querem voltar para os seus distritos.

"Estas pessoas viram as suas vidas destruídas: ficaram sem casas. É necessário garantir que as entidades do Estado reentrem no terreno e que seja feita a reconstrução das infraestruturas fundamentais", acrescentou.

António Vitorino alertou ainda para a necessidade de uma maior atenção ao apoio psicossocial dos deslocados, salientando que as vítimas da violência armada em Cabo Delgado carregam traumas.

"São pessoas que viveram situações extremamente traumáticas e dramáticas, que deixam sempre impacto na mente de quem as viveu", frisou.

A luta contra os insurgentes em Cabo Delgado ganhou um novo impulso, quando há 10 dias forças conjuntas de Moçambique e do Ruanda reconquistaram a estratégica vila portuária de Mocímboa da Praia, que estava nas mãos dos rebeldes há mais de um ano.

Durante este período de domínio dos rebeldes, mais de 62 mil pessoas, quase a totalidade da população, fugiram da vila de Mocímboa da Praia e o rasto de destruição é profundo, disse hoje, em entrevista à Lusa, o presidente da autarquia, Cheia Carlos Momba.

A vila costeira de Mocímboa da Praia, uma das principais do norte da província de Cabo Delgado, foi a região em que os grupos armados protagonizaram o seu primeiro ataque em outubro de 2017.

Mocímboa da Praia está situada a 70 quilómetros a sul da área de construção do projeto de exploração de gás natural conduzido por várias petrolíferas internacionais e liderado pela Total.

Os ataques armados por grupos insurgentes em distritos do norte de Cabo Delgado provocaram mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.

Na sua visita à província, António Vitorino esteve no distrito de Metuge, que acolhe mais de 125.000 dos cerca de 827 mil deslocados.

A OIM estima necessitar de 58 milhões de dólares (49,4 milhões de euros) para apoiar os esforços de emergência e pós-crise em Moçambique ao abrigo do Plano de Resposta à Crise da OIM Moçambique, que inclui 21,7 milhões de dólares (18,5 milhões de euros) "para responder às necessidades humanitárias imediatas de salvamento de vidas no norte" do país.

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