O porta-voz das Forças de Defesa do Ruanda (RDF, em inglês), Ronald Rwivanga, saudou hoje a captura da cidade portuária de Mocímboa da Praia, que considerou "essencial para a sobrevivência dos insurgentes" e onde estes planeavam operações.
"Era essencial para a sobrevivência dos insurgentes, porque se pode dizer que é um sítio estratégico -- tem o aeroporto, tem hospital e vários edifícios que seriam importantes para os insurgentes", disse Rwivanga à Lusa, por telefone, sobre a operação que no domingo recapturou a vila de Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado.
"Era um bastião crítico para os insurgentes, até o termos capturado, e era o local onde estavam a planear as suas operações", apontou o coronel, acrescentando que, "em termos táticos, era como se fosse o seu centro".
Rwivanga referiu também que a ofensiva conjunta de Moçambique e Ruanda perturbou os insurgentes, e eles "estão agora em bolsas".
"Não desapareceram completamente, mas estão em bolsas", contou.
Segundo Ronald Rwivanga, o plano da presença ruandesa em Cabo Delgado tem quatro fases: a realização de operações de combate para afastar os insurgentes dos locais capturados, a condução de operações de segurança para "assegurar a consolidação dos ganhos", a estabilização, onde é dada uma "certa confiança" aos civis na segurança da região, e, por fim, "uma reforma do setor da segurança".
Apesar de surgir em último, Rwivanga sugeriu que a reforma do setor da segurança pode começar já.
"Podemos começar a reforma do setor da segurança em simultâneo com outras operações, até podemos começar hoje. É tudo sobre treino e sobre o treino mental e deixar as forças com confiança nas suas operações", afirmou o porta-voz ruandês.
No domingo, o Ruanda tinha anunciado a recuperação da cidade portuária de Mocímboa da Praia, no norte do país, que tinha sido capturada por rebeldes.
A vila costeira de Mocímboa da Praia, por muitos apontada como a "base" dos insurgentes, é uma das principais do norte da província de Cabo Delgado, situada 70 quilómetros a sul da área de construção do projeto de exploração de gás natural conduzido por várias petrolíferas internacionais e liderado pela Total.
A vila tinha sido invadida e ocupada durante um dia por rebeldes em 23 de março do ano passado, numa ação depois reivindicada pelo grupo `jihadista` Estado Islâmico, e foi, em 27 e 28 de junho daquele ano, palco de longos confrontos entre as forças governamentais e os grupos insurgentes, o que levou à fuga de parte considerável da população.
As Forças de Defesa e Segurança de Moçambique contam, desde o início do mês, com o apoio de mil militares e polícias do Ruanda para a luta contra os grupos armados, no quadro de um acordo bilateral entre o Governo moçambicano e as autoridades de Kigali.
Grupos armados aterrorizam a província de Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Na sequência dos ataques, há mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.