A Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) disse hoje que o conflito armado em Cabo Delgado requer "atenção especial" e uma "avaliação muito cautelosa", apesar dos avanços registados pelas forças conjuntas que combatem rebeldes no norte do país.
"Parece-nos que a situação ainda requer uma atenção especial, apesar de se registarem avanços", disse João Carlos, vice-presidente da CEM, numa conferência de imprensa em Maputo.
A ofensiva das tropas moçambicanas naquela região no norte de Moçambique ganhou vigor em julho, com o apoio do Ruanda, a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), permitindo aumentar a segurança e recuperar várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.
A missão militar conjunta da África Austral em Moçambique (Samim, no acrónimo em inglês) anunciou na quinta-feira a destruição de três bases de insurgentes em Macomia e o resgate de 13 pessoas que terão sido raptadas por rebeldes.
Para o CEM, ao mesmo tempo que os militares registam avanços, é possível que os insurgentes estejam a "desdobrar-se" pelo terreno e, por isso, é necessário que se faça uma "avaliação muito cautelosa" da situação, frisou João Carlos.
De acordo com os bispos, é "prematuro" fazer uma avaliação definitiva sobre as motivações do conflito armado em Cabo Delgado.
"É uma leitura com base muitas vezes em militares que estão lá a operar", declarou João Carlos, referindo que é difícil fazer uma avaliação sobre os direitos humanos naquela província.
"Para uma avaliação justa [sobre os direitos humanos] devia ter outros intervenientes, [além de militares], o que não temos no terreno", disse.
Cabo Delgado, província rica em gás natural, é aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.
Além do terrorismo em Cabo Delgado, na ocasião, a CEM manifestou-se preocupada também com a onda de raptos que tem afetado as principais capitais provinciais do país, considerando que o país tem ainda um desafio para garantir a estabilidade e paz.
"Oxalá que quem de direito consiga dar essa formação que precisam para enfrentar esses e os novos desafios de segurança que o país está a enfrentar", disse João Carlos, que defende a importância de "formação específica" para travar a onda de raptos no país.
A Polícia da República de Moçambique lançou na quinta-feira a formação de uma força mista para responder aos raptos e ao terrorismo no país, um grupo de oficiais que será capacitado por especialistas ruandeses.
A situação levou a Confederação das Associações Económicas de Moçambique, a maior entidade patronal do país, a exigir mecanismos concretos para travar a onda de raptos, disponibilizando-se para apoiar o Governo materialmente para melhorar a eficiência das autoridades no combate aos crimes.