A vice-presidente do Parlamento húngaro, Duró Dóra, do partido "Nossa Pátria",
colocou no seu gabinete um busto do almirante Miklos Horthy, comentando depois no Facebook que se tratava do "busto de um estadista no templo da nação".
O marido da parlamentar de extrema-direita, também ele dirigente do "Nossa Pátria", acrescentou a estas considerações que o tempo da regência de Horthy foi marcado por "impressionantes resultados económicos" e por uma notável "efervescência cultural".
A outra face da política de Horthy foi a sangrenta repressão contra a esquerda em 1919 e, mais tarde, as deportações de 437.000 judeus húngaros que ele caucionou, depois de a Alemanha nazi ter ocupado a Hungria, por desconfiar que o país aliado estivesse a preparar-se para um acordo de paz separada com as potências ocidentais.
Já antes da invasão alemã tinham sido mortos na Hungria, sob a indisputada autoridade de Horthy, 63.000 judeus.
A Coligação Democrática, de esquerda, comentou que "quem homenageia um chefe de Estado pró-nazi é um nazi", acrescentando que "os nazis não têm que estar no parlamento. Em lugar nenhum".
Do Governo de Viktor Orbán não se registam até agora comentários sobre a colocação do busto, embora genericamente tenha havido uma atitude favorável à reabilitação de Horthy. O próprio Orbán disse uma vez que Horthy foi "um estadista excepcional", mas logo precisando que foi também "um colaboracionista que não merece uma estátua".
Horthy conseguiu no final da guerra escapar aos julgamentos de Nuremberga,refugiando-se em Portugal, onde Salazar lhe permitiu um exílio dourado numa mansão do Estoril. Morreu em 1957, foi enterrado em Portugal e só muitos anos depois trasladado para a Hungria.
Embora os mais recentes governos israelitas tenham sempre mantido boas relações com o governo populista de direita de Orbán, a Embaixada israelita em Budapeste não pôde agora deixar de protestar contra a inauguração do busto do ditador em pleno parlamento.
Numa declaração ontem emitida, afirmava a Embaixada: "É difícil imaginar que na Hungria moderna, no coração da Europa, ainda haja círculos políticos que tratam de glorificar a pessoa que foi responsável por sofrimentos desumanos e pela morte de centenas de milhares de cidadãos húngaros, entre eles a maioria da comunidade judaica".
Um deputado do partido de extrema-direita afirmou que tudo isto são falsificações históricas e que até houve "judeus agradecidos" que foram pôr uma coroa de flores na campa de Horthy.
András Heisler, presidente da Federação das Comunidades Judaicas da Hungria, respondeu-lhe prontamente que "75 por cento dos judeus húngaros não podem estar-lhe agradecidos, porque foram mortos na Segunda Guerra Mundial e no Holocausto".