A primeira-ministra britânica prometeu aos deputados conservadores que se demite caso estes assegurem o apoio ao seu acordo para a saída do Reino Unido do bloco comunitário. Theresa May deixou esta promessa numa reunião à porta fechada com deputados do Partido Conservador.
A informação foi inicialmente avançada com base na declaração de deputados conservadores, mas foi entretanto confirmada pelo gabinete da primeira-ministra, que disponibilizou na íntegra a declaração que Theresa May fez esta quarta-feira perante uma reunião à porta fechada com o comité 1922, responsável pela organização parlamentar do Partido Conservador.
"Estou preparada para me demitir antes do que pretendia, de forma a fazer o que está certo pelo nosso país e pelo nosso partido", disse Theresa May, numa tentativa de resolver a situação de impasse em Westminster.
Um deputado conservador sublinhou que a primeira-ministra não avançou com uma data para a demissão, mas que a acontecer seria "razoavelmente em breve", antes da próxima fase de negociações com a União Europeia.
"Peço a todos nesta sala que apoiem o acordo de saída, de forma a cumprirmos o nosso dever histórico: corresponder à decisão do povo britânico e sair da União Europeia de uma forma suave e ordeira", afirmou Theresa May.
A primeira-ministra referiu ainda que está ciente de que vários deputados tories pretendem que se demita. "Eu sei que existe vontade de uma nova abordagem - e de uma nova liderança - na segunda fase das negociações para o Brexit, e eu não vou ser um obstáculo", disse Theresa May.
Depois de ter sido alvo de uma moção de censura dentro do Partido Conservador, chumbada em dezembro do ano passado, Theresa May já tinha prometido que se demitiria antes das eleições legislativas de 2022.
DUP mantém voto contra
"Sei que estão preocupados que, em caso de aprovação do Acordo de Saída, eu vá assumir esse voto como um mandato para apressar a segunda fase de negociações sem que ocorra o debate de que precisamos. Não vou fazê-lo. Estou a ouvir o que vocês dizem. Mas precisamos de aprovar este acordo e cumprir o Brexit", assinalou ainda a primeira-ministra na declaração desta tarde.
O acordo desenhado pela União Europeia e o Governo do Reino Unido foi chumbado pelo Parlamento britânico pela primeira vez em janeiro, com 432 votos contra e 202 a favor.
Dois meses depois, o mesmo acordo foi submetido a uma segunda votação, tendo recolhido 391 votos contra e 242 a favor.
De acordo com o jornal The Times, 40 deputados conservadores já mudaram o sentido de voto para a votação deste acordo de saída, enquanto outros 40 permanecem indecisos.
No entanto, o Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte (DUP) já veio confirmar que os deputados não vão alterar o sentido de voto contra o acordo negociado pela primeira-ministra.
Para conseguir fazer passar o acordo numa hipotética nova votação,
Theresa May necessitaria do apoio de mais 75 deputados, uma vez que a
12 de março o documento foi chumbado por uma margem de 149 votos.
Dia decisivo
Com estes novos dados em cima da mesa, não está ainda assim confirmado que o acordo negociado entre Londres e Bruxelas seja votado por uma terceira vez no Parlamento britânico, ainda que o Governo tenha anunciado hoje que o pretende fazer.
No início da semana, a Câmara dos Comuns recusou que essa votação ocorresse, ao considerar que, uma vez que o documento não sofreu alterações significativas, não seria necessária uma nova ponderação por parte dos deputados.
Na segunda-feira, a própria primeira-ministra reconhecia que ainda não tinha conseguido reunir os votos necessários para fazer passar o acordo numa nova votação.
A promessa de demissão apresentada por Theresa May aos deputados do Partido Conservador surge num dia que pode ser decisivo para o Brexit.
Desde as 15h00 desta quarta-feira que a Câmara dos Comuns assumiu, por 24 horas, o controlo do processo, em substituição do Governo.
Os deputados britânicos debateram e votaram várias alternativas ao plano do Governo. Em concreto, são oito propostas escolhidas pelo speaker que estão a ser discutidas e que deverão ser votadas pouco depois das 21h00. Um novo round de debate e votação no Parlamento está previsto para a próxima segunda-feira.
Estas oito propostas prevêem os mais variados cenários e vão desde a possibilidade de uma saída sem acordo a 12 de abril, até à marcação de um novo referendo, ao apoio a uma nova união aduaneira ou mesmo à revogação do Artigo 50º.
No entanto, o resultado do debate poderá ser inconclusivo, sendo possível que nenhuma das propostas apresentadas reúna o consenso dos deputados, dada a grande divisão de fações no Parlamento britânico.
Os votos de hoje servem para sentir o pulso do Parlamento britânico e perceber para que solução se inclinam os deputados, mas serão apenas votos "indicativos" e não vinculativos, pelo que o Governo não será forçado a seguir qualquer proposta.
De recordar que, durante o Conselho Europeu da semana passada, Theresa May conseguiu um adiamento do Brexit, que estava inicialmente previsto para 29 de março.
Bruxelas admitiu um adiamento até 22 de maio, às 23h00, mas apenas se o acordo negociado com o Governo britânico for aprovado até ao final desta semana, até às 23h00 desta sexta-feira.
Se o documento não passar numa nova votação na Câmara dos Comuns e se não houver uma revogação do Artigo 50º do Tratado da União Europeia, o Reino Unido abandona o bloco comunitário sem um acordo no próximo dia 12 de abril, às 23h00.
Laura Kuenssberg, editora política da BBC, salienta que não é claro o que irá acontecer em Downing Street no caso de acordo de Theresa May ser rejeitado uma terceira vez pelo Parlamento. "Se não for aprovado [...], não é certo que a promessa de May se mantenha. Mas é praticamente impossível que ela seja capaz de continuar", refere.