Um encontro de líderes intra-partidário foi marcado para esta terça-feira pelo líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn, para estudar formas de bloquear um Brexit sem acordo, a 31 de outubro próximo.
A 66 dias da data final para o Brexit, o Reino Unido está à beira de uma crise constitucional e económica, sem que haja sequer um vislumbre de entendimento entre as várias fações partidárias, quanto à estratégia a seguir.
Só o Parlamento poderá impedir um tal cenário e Boris Johnson ameaça encerra-lo, para cancelar toda e qualquer oposição. Um cenário que enfureceu os deputados, a começar pelo speaker da Câmara dos Comuns, John Bercow.
Os parlamentares só deverão regressar das suas férias de verão a três de setembro. A urgência levou contudo o líder da oposição Trabalhista, Jeremy Corbyn, a pedir um encontro com alguns dos líderes dos pequenos partidos presentes no Parlamento.
A reunião ficou marcada para o seu gabinete em Westminster, às 11 horas da manhã, e inclui os Democratas Liberais, o SNP (partido Nacional Escocês), o Plaid Cymru (do País de Gales) e o Grupo Independente para a Mudança, um grupo centrista e pró-europeu fundado este ano e que conta com cinco deputados.
Corbyn PM? Não, obrigado
No encontro, Corbyn irá procurar uma base
parlamentar para eventualmente conseguir derrubar o Governo de Boris
Johnson, na esperança de deter o Brexit.
O que não se afigura fácil, já que esse é praticamente o único interesse que todos têm em comum, e as votações sobre o acordo apresentado por Theresa May nos primeiros meses de 2019, espelharam a divisão que grassa entre os deputados - incluindo no próprio Partido Conservador, de May e de Johnson.
Corbyn pode ,
desde já, pôr de lado a ambição de ascender à chefia do Governo de forma
interina, em caso de colapso do Governo de Johnson.
Jo Swinson, a líder
dos Democratas Liberais, convidada para a reunião, já disse que
esse não é o melhor caminho e que o seu homólogo dos Trabalhistas devia
desistir da ideia.
"O meu receio é que, se realmente enfrentarmos o cenário em que teremos de ter um voto de confiança, será mais difícil ganha-lo se houver a perspetiva de Jeremy Corbyn se tornar primeiro-ministro", afirmou à Sky News.
"Precisamos mesmo de investir o nosso tempo precioso e escasso em soluções que podem dar resultado", referiu.
O "Brexit, sem acordo, dos banqueiros"
Esta terça-feira, antes do encontro, o jornal britânico The Guardian publicou um documento interno escrito pelo procurador-geral sombra trabalhista, Shami Chakrabarti, no qual este afirma que poderão ser os juízes do Supremo Tribunal a bloquear Boris Johnson, caso este tente suspender o Parlamento.
O documento, entregue ao The Guardian, afirma que os tribunais poderiam conceder uma "ação de cessação interina", classificando a suspensão do Parlamento como "o maior abuso de poder e ataque aos princípios constitucionais do Reino Unido de que há memória".
Jeremy Corbyn escreveu por seu lado no jornal Independent, que "a batalha para impedir um Brexit sem acordo não é uma luta entre os que querem sair da UE e os que querem permanecer membros".
"É a batalha de muitos contra uns poucos que estão a desviar o resultado do referendo para levar ainda mais poder e riqueza para os que estão no topo. É por isso que o Partido Trabalhista irá fazer tudo o que for necessário para impedir um Brexit, sem acordo, dos banqueiros", escreveu o líder trabalhista.
Para Corbyn, uma tal saída iria deixar o Reino Unido à mercê do Presidente norte-americano, Donald Trump, e das grandes corporações americanas.