O Governo britânico vai pedir à Rainha que seja alargado o período durante o qual o Parlamento se encontra suspenso para o chamado “intervalo de Verão”, de modo a que fique encerrado até 14 de outubro. Uma manobra para impedir os deputados de aprovarem leis que bloqueiem o Brexit sem acordo. Boris Johnson já frisou várias vezes que o país abandonará a UE no último dia de outubro, com ou sem acordo de saída.
A intenção do Governo chega um dia depois de legisladores que se opõem a um Brexit sem acordo se terem reunido para discutir modos de prolongar a data de saída do Reino Unido da União Europeia.
O plano de suspender o Parlamento tem estado a gerar controvérsia, com críticos a alegar que tal impediria os deputados de desempenhar o seu papel democrático no processo do Brexit.
Foram vários os membros do Parlamento britânico a manifestarem-se no Twitter contra a manobra do Governo. A deputada trabalhista Yvette Cooper acredita que Boris Johnson “está a tentar usar a Rainha para concentrar o poder nas próprias mãos”, o que representa “uma maneira profundamente perigosa e irresponsável de governar”.
Boris Johnson is trying to use the Queen to concentrate power in his own hands - this is a deeply dangerous and irresponsible way to govern https://t.co/UEn1isXbSp
— Yvette Cooper (@YvetteCooperMP) August 28, 2019
Já a deputada independente Anna Soubry considerou “escandaloso que o Parlamento seja encerrado numa altura em que se enfrenta a saída desordenada da UE sem acordo”.
“Precisamos de seguir com a nossa agenda doméstica e por isso estamos a agendar o discurso da Rainha para 14 de outubro”, declarou o primeiro-ministro. Quando às críticas de deputados que consideram estar a ser impedidos de debater o Brexit, Johnson afirmou que tal “é completamente mentira”.
“Se olharem para o que estamos a fazer, estamos apenas a trazer um novo programa legislativo. Haverá tempo de sobra para ambas as partes na crucial cimeira (de líderes europeus) a 17 de outubro, tempo de sobra no Parlamento para que os deputados debatam a UE, o Brexit e todos os outros assuntos”, argumentou.
Boris Johnson’s letter to MPs conforming prorogation of Parliament pic.twitter.com/OvtZ7cIwOA
— Jessica Elgot (@jessicaelgot) August 28, 2019
“Posso confirmar que, a 9 de setembro, ambas as Câmaras irão debater as moções sobre os primeiros relatórios relativos à Irlanda do Norte (…). Após estes debates, iremos iniciar as preparações para o fim da sessão parlamentar até ao discurso da Rainha” a 14 de outubro, explicou.
“É óbvio que o objetivo de uma prorrogação neste momento seria travar o Parlamento de debater o Brexit e desempenhar o seu dever de moldar um caminho para o país. Neste momento, um dos mais desafiantes na história da nossa nação, é vital que o nosso Parlamento eleito tenha uma palavra a dizer. Afinal de contas, vivemos numa democracia parlamentar”.
Statement from Speaker’s Office 🚨🚨💥💥 pic.twitter.com/BGSYCcpxjB
— Jayne McCormack (@BBCJayneMcC) August 28, 2019
“Encerrar o Parlamento seria uma ofensa contra o processo democrático e contra os direitos dos deputados enquanto representantes eleitos pelo povo”, acrescentou.
“Isto é um ultraje e uma ameaça à nossa democracia. É por isto que o Partido Trabalhista tem estado a trabalhar no Parlamento para responsabilizar este Governo inconsciente e para prevenir a desastrosa ausência de acordo que o Parlamento já descartou”.
“Se Johnson confia nos seus planos então deveria apresentá-los para eleições gerais ou voto público”, defendeu.
O comentador da Antena 1 para Assuntos Internacionais, Bernardo Pires de Lima, relembra que “a Rainha tem estado completamente ausente deste debate” e que a jogada de Boris Johnson “torna o papel da Rainha preponderante na resolução deste previsível choque institucional”.
“A crise do Reino Unido não é uma crise habitual, é uma crise de regime, é uma crise constitucional e é até uma crise de segurança a alargarmos ao quadro irlandês”, sendo que a Rainha se torna agora um ator que poderá ter um papel a desempenhar naquele que é um “choque institucional sem paralelo na história recente britânica”.