Brasil vive pior momento da pandemia agravado por estirpe que preocupa o mundo
Quase um ano depois de um primeiro grande surto de Covid-19, o Brasil enfrenta agora uma nova vaga da pandemia. Esta semana registou um novo recorde, com mais de 1800 mortes diárias, e mantém-se no topo da lista de países mais afetados do mundo. Para piorar o cenário, os brasileiros lutam contra uma variante mais contagiosa e que consegue infetar pessoas já recuperadas de outras versões do vírus. Ainda assim, Jair Bolsonaro garante que nunca vai haver um confinamento geral.
O que diferencia o Brasil desses outros países é a presença de uma variante mais contagiosa, que surgiu no município de Manaus, capital do Estado do Amazonas, e que rapidamente começou a espalhar-se por outras cidades.
Estudos preliminares sugerem que esta estirpe do vírus não só é mais contagiosa como consegue infetar pessoas que já foram dadas como recuperadas de outras versões do novo coronavírus. São más notícias para o Brasil e, possivelmente, para o resto do mundo, uma vez que a variante de Manaus já passou as fronteiras e foi encontrada em mais de 20 países.
Apesar de ensaios clínicos de algumas das vacinas contra a Covid-19 indicarem que estas protegem da doença grave mesmo quando não impedem a infeção pela nova variante, a maioria da população mundial ainda não está vacinada, pelo que continua em risco. Na quarta-feira, o Brasil bateu o recorde de mortes diárias: 1840, o que representa 6,3 óbitos por milhão de habitantes. O número foi o pior do mundo nesse dia, superando mesmo o dos Estados Unidos, que registaram 5,8 por milhão de habitantes.
No Brasil, a estirpe de Manaus – conhecida por P.1 – já se encontra em 21 dos 26 Estados do país. “A aceleração da epidemia em vários Estados está a levar ao colapso dos seus hospitais públicos e privados, e isso pode rapidamente tornar-se a realidade em todas as regiões do Brasil”, alertou esta semana a Associação Nacional de Secretários da Saúde do Brasil.
Os secretários da Saúde dos vários Estados brasileiros divulgaram uma carta conjunta na qual afirmam que o país vive “o pior momento da crise sanitária” provocada pelo novo coronavírus e pedem maior rigor nas medidas, para evitar que a nação entre em colapso.
“Infelizmente, a distribuição anémica das vacinas e o ritmo lento ao qual elas ficam disponíveis ainda não permite sugerir que este cenário seja revertido a curto prazo”, lamentam.
O Brasil começou a vacinar grupos prioritários no final de janeiro, incluindo profissionais de saúde e idosos. O Governo tem, porém, falhado em conseguir garantir um número suficiente de doses. Até agora, apenas 5,8 milhões de brasileiros – o equivalente a 2,6 por cento da população total – receberam a vacina, segundo o Ministério da Saúde.
“Devíamos estar a vacinar mais de um milhão de pessoas por dia”, defendeu a pneumologista brasileira Margareth Dalcolmo, em declarações ao New York Times. “Mas não estamos, não por não sabermos como fazê-lo, mas porque não temos vacinas suficientes”, explicou, acrescentando que esta falha explica a grave situação que o país atravessa.
Bolsonaro rejeita hipótese de confinamento geral
Mesmo depois de o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ter dito na semana passada que o Governo estava a aumentar os esforços para conseguir vacinar metade da população até junho e toda a população até ao final do ano, muitos brasileiros têm pouca esperança num Executivo liderado por um Presidente sempre cético em relação à gravidade da pandemia.
Ainda na semana passada, Jair Bolsonaro voltou a desvalorizar o papel das máscaras, dizendo mesmo que estas são prejudiciais para as crianças por causarem dores de cabeça e dificuldades de concentração.
O líder continua também a opor-se a restrições que poderiam ajudar à descida da curva pandémica. “No que depender de mim, nunca teremos lockdown [confinamento geral]”, garantiu o Presidente na terça-feira, dia em que o país registou um recorde de mortes diárias por Covid-19.
“Nunca, uma política que não deu certo em lugar nenhum do mundo. Nos Estados Unidos vários Estados anunciaram que não têm mais [confinamento]”, argumentou, segundo o jornal Folha de São Paulo. “Não aguenta mais. O cara quando fecha uma empresa, 10, 12 pessoas mandadas embora, dificilmente arranja emprego novamente”.
Dezassete países limitam entrada de brasileiros
Mesmo que não venha a existir um confinamento geral, os governadores de cada Estado brasileiro podem adotar as restrições que acharem adequadas para conter o vírus. Em São Paulo, por exemplo, entra em vigor na sexta-feira a chamada “fase vermelha” do plano de combate ao SARS-CoV-2, com apenas os serviços essenciais a funcionar.
Apesar de Bolsonaro se recusar a adotar medidas mais rigorosas, o Brasil continua a ter de enfrentar também restrições externas, sendo atualmente um dos países que soma mais limitações de entrada noutros países.
Segundo a Folha de São Paulo, pelo menos 17 nações não permitem a entrada de brasileiros no seu território ou exigem quarentenas obrigatórias ou testes negativos à chegada.
O Brasil é o terceiro país mais afetado a nível de casos de infeção, com 10,7 milhões, e o segundo a nível de vítimas mortais (259 mil), sendo apenas superado pelos Estados Unidos. Até agora, 9,5 milhões de pessoas foram dadas como recuperadas.