Brasil. Polícia Rodoviária ignorou ordens do TSE e multiplicou operações stop em dia de eleição

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Adriano Machado - Reuters

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) está a ser acusada de ter tentado impedir milhares de eleitores de votarem, no passado domingo, ao ter multiplicado o número de operações stop na região nordeste. Tais operações tinham sido proibidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil, que entretanto garantiu que nenhum eleitor foi impedido de votar.

Ao longo deste domingo, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) realizou uma série de operações stop a autocarros, criando obstáculos a milhares de brasileiros que se dirigiam às mesas de voto. Algumas estradas chegaram mesmo a ser cortadas devido a estas blitz.

De acordo com os números internos da PRF, aos quais a Folha de S. Paulo teve acesso, até ao início da tarde de domingo tinham sido feitas 537 operações – um número 70 por cento superior ao que foi registado na primeira volta das eleições, a 2 de outubro.

Mais de metade dessas operações foi realizada na região nordeste, onde o presidente eleito Lula da Silva tinha mais vantagem sobre Jair Bolsonaro.


No sábado, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre Moraes, tinha proibido qualquer operação por parte da Polícia Rodoviária a transportes públicos por entender que tais ações poderiam atrasar ou impedir os eleitores de se deslocarem às mesas de voto.

Ao final da tarde de domingo, depois de Moraes ter reunido de urgência com o diretor da PRF, Silvinei Vasques, o presidente do TSE garantiu que nenhum eleitor foi impedido de votar devido às operações.

"O prejuízo que causou aos eleitores foi o eventual atraso durante aquela inspeção. Eu volto a dizer: nenhum autocarro voltou à origem, todos foram ao local de votação e votaram. Todos votaram", afirmou Moraes aos jornalistas.


Moraes afirmou ainda que Vasques garantiu que a PRF estava apenas a seguir o código de trânsito. "Ou seja: um autocarro com pneus carecas, com o farol quebrado, sem condições de circular era abordado e era feita a autuação", disse Moraes.

No entanto, ao início da tarde de domingo, um agente da TRF enviou uma mensagem no WhatsApp a comemorar o bloqueio a eleitores do Lula. Na mensagem, obtida por meios de comunicação sociais brasileiros, o agente policial afirmava ainda que as operações nas estradas tinham sido uma ordem da “cúpula” da TRF.

“Ó a cara de alguém que está preocupado com as determinações do ministro”, disse Adalberto Alfredo Schumann, agente policial na Brasília, numa mensagem partilhada num grupo de WhatsApp com outros colegas de trabalho.

“Só cumprindo o cartão programa e correndo atrás dos eleitores do Lula que saíram do cercado para voltar e não conseguiram voltar”, acrescentou na mensagem. Com “cartão programa”, o agente refere-se às diretrizes de policiamento para aquela data, vindas da “cúpula” da PRF.

O diretor-geral da instituição terá enviado uma mensagem na madrugada de domingo a todas as divisões da PRF a afirmar que a decisão do TSE não impunha “qualquer limite ao exercício da regular atividade fiscalizadora da Polícia Rodoviária Federal” e determinou o “fiel cumprimento” da operação. No sábado, Vasques também manifestou o seu apoio a Bolsonaro na sua conta do Instagram, mas mais tarde apagou a imagem.

As operações da PRF estão a ser criticadas nas redes sociais como uma tentativa de interferir no resultado das eleições ao impedir eleitores de Lula da Silva de comparecerem às urnas. Em contrapartida, os “bolsonaristas” têm aplaudido a atuação da PRF, afirmando que prestou um grande serviço à nação.

A coligação de Lula da Silva pediu que a PRF fosse multada em 500 mil reais pelo incumprimento das ordens do TSE.
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