Indígenas da etnia pataxó denunciaram, na última semana, um novo ataque por parte de pistoleiros numa aldeia da cidade do Prado, no sul do Estado brasileiro da Bahia. Segundo os indígenas, na base do ataque efetuado a mando de "fazendeiros bolsonaristas" esteve a disputa de terras. Poucos dias antes, um adolescente pataxó de 14 anos foi morto a tiro na mesma zona.
"Eles invadiram as terras, quebraram as portas e até mataram cachorros. Desta vez, nenhum indígena ficou ferido, porque eles se esconderam no mato. Se as pessoas tivessem ficado em casa, seriam assassinadas. O cacique [chefe indígena] está escondido", explicou ao portal G1 Zeca Pataxó, membro da tribo.
"Esses pistoleiros estão a mando de fazendeiros da região, que tentam invadir as terras indígenas, que já são demarcadas antropologicamente", acrescentou.
Segundo Zeca Pataxó, a polícia dirigiu-se ao local, “mas fez uma ronda e foi embora”. “Nós solicitámos de imediato a presença da Força Nacional na região, para apaziguar os conflitos, mas o que vemos é a omissão do governo federal e do governo estadual. Além disso, tem muito policial militar que faz a segurança particular dos fazendeiros", adiantou.
A Polícia Militar avançou entretanto que vários agentes estiveram no local do alegado crime após receberem a denúncia pelo líder indígena. Não terão, no entanto, encontrado quaisquer armas, munições ou suspeitos.
Desde então, as autoridades têm realizado ações de policiamento na área em conflito, tentando assim prevenir a desordem pública.
O alegado ataque aconteceu poucos dias depois do assassinato de um indígena pataxó de apenas 14 anos, morto a tiro na madrugada de 4 de setembro, também na cidade do Prado.
“Bolsonaristas aterrorizam o Extremo Sul da Bahia”
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) assegura que estes não foram episódios isolados e acredita que fazem parte de “uma série de atentados que têm se intensificado com o estímulo de Bolsonaro às milícias, que têm se organizado na região”.
“A população reconhece o envolvimento de policiais na milícia, articulados com fazendeiros bolsonaristas que têm realizado manifestações contra os indígenas e espalhado notícias falsas para difamar a legitimidade do movimento. Bolsonaristas aterrorizam o Extremo Sul da Bahia”, denunciou a associação que representa os povos indígenas brasileiros.Na Aldeia Nova, no município do Prado, vivem atualmente cerca de 38 famílias indígenas.
Já o Movimento Indígena da Bahia (MIBA) enviou ao Ministério Público Federal um pedido para que apure e tome medidas em relação aos ataques que têm acontecido em áreas habitadas por comunidades tribais, nomeadamente em Prado e Porto Seguro.
As duas áreas são ocupadas por indígenas desde 1999 e estão atualmente em processo de demarcação pelo Governo Federal. Esse processo foi, porém, paralisado durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro.
A escalada de violência tem acontecido desde que mais áreas da região foram alegadamente ocupadas por indígenas. Em junho, 180 pataxós terão ocupado uma fazenda na cidade do Prado, localizada na área de demarcação do território indígena Comexatibá.
Desde essa altura, os indígenas dizem ter recebido ameaças e sido alvo de ataques de homens armados.