Os ambientalistas brasileiros estão preocupados com o futuro depois de a terceira candidata mais votada nas eleições presidenciais, Simone Tebet, ter declarado o seu apoio a Lula da Silva. Apesar de ambos terem o clima como prioridade na agenda, há quem lembre políticas passadas de uma coligação entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) que prejudicaram então o ambiente.
Apesar da referência ao desenvolvimento sustentável, quando o apoio de Tebet foi oficializado o ambiente não constava entre os pedidos feitos pela ex-candidata a Lula, focando-se apenas na educação, saúde, endividamento das famílias e igualdade de género.
Além disso, os ambientalistas lembram que, no passado, a relação entre o PT e o MDB não trouxe vantagens à Amazónia, que abrigou então projetos de infraestruturas como uma central hidroelétrica ou o gasoduto Urucu-Coari-Manaus.
"A Amazónia e as florestas não podem mais ser a moeda de troca deste tipo de aliança", defendeu na segunda-feira o jornal ambientalista sem funs lucrativos O Eco.
No entanto, Simone Tebet veio já criticar essas políticas passadas do seu partido. A agora ex-candidata defende, tal como Lula, a revogação dos decretos chamados de “anti-ambientais” de Jair Bolsonaro. Simone Tebet arrecadou 4,2% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil, surgindo depois de Jair Bolsonaro, com 43,2%, e de Lula da Silva, que ficou em primeiro lugar com 48,4%.
Tebet é também contra os ocupantes ilegais, os garimpeiros e a “grilagem” de terras, termo usado no Brasil quando se falsificam documentos para se tomar posse de terrenos ou prédios devolutos.
Tanto Tebet como Lula defendem ainda o “desmatamento ilegal zero”, mas não se comprometem com a proibição total do desmatamento da floresta amazónica, há muito exigido pelos ativistas ambientais.
O combate à desflorestação é um tema polémico no Brasil, especialmente desde que Jair Bolsonaro tomou posse e pôs em marcha medidas prejudiciais à Amazónia.
Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazónia, a desflorestação naquela que é a maior floresta tropical no mundo cresceu 56,6% durante o Governo de Bolsonaro.
Lula promete cumprir metas do Acordo de Paris
No seu programa de Governo, Lula da Silva promete o cumprimento das metas de redução das emissões de gás de carbono assumidas pelo Brasil no Acordo de Paris, em 2015.
“É imperativo defender a Amazónia da política de devastação posta em prática pelo atual Governo”, refere o programa, assinado pela coligação Brasil da Esperança, encabeçada pelo PT de Lula.
O candidato e os seus aliados dizem querer cuidar das riquezas naturais do país, “produzir e consumir de forma sustentável e mudar o padrão de produção e consumo de energia”, apoiando uma economia verde inclusiva.
“Nos nossos governos, reduzimos em quase 80% o desmatamento da Amazónia, a maior contribuição já realizada por um país para a mitigação das mudanças climáticas entre 2004 e 2012”, relembra Lula no documento. “Já nos comprometemos com o futuro do planeta, sem qualquer obrigação legal, e o faremos novamente”.
O Brasil da Esperança compromete-se também a combater “o crime ambiental promovido por milícias, grileiros, madeireiros e qualquer organização económica que aja ao arrepio da lei”.
“Nosso compromisso é com o combate implacável ao desmatamento ilegal e promoção do desmatamento líquido zero, ou seja, com recomposição de áreas degradadas e reflorestamento dos biomas”.
Sublinhando que o Brasil tem uma das maiores biodiversidades do planeta, Lula da Silva e os aliados falam num projeto que “harmonizará a proteção dos ecossistemas que estão em risco com a promoção do desenvolvimento sustentável, bem como exigirá o enfrentamento e a superação do modelo predatório de exploração e produção, atualmente, agravado pela completa omissão do Governo atual”.