Os muçulmanos bósnios elogiaram a resolução hoje aprovada na ONU sobre o genocídio de Srebrenica, considerando que é uma "lição importante para os criminosos", enquanto o líder sérvio separatista disse que a iniciativa fracassou.
A declaração de 11 de julho como o Dia Internacional do Genocídio de Srebrenica foi adotada na Assembleia-Geral das Nações Unidas com 84 votos a favor, 19 contra e um número invulgar de abstenções: 68.
As reações divergentes das lideranças dos dois grupos refletem as profundas divisões que persistem na Bósnia-Herzegovina, quase 30 anos após o fim da guerra que devastou o país dos Balcãs.
"Hoje foi dada uma lição importante aos perpetradores, aos criminosos e àquela parte da humanidade que ainda não sabe a diferença entre o bem e o mal", declarou Nermin Niksic, presidente do órgão comum de muçulmanos bósnios e croatas, que juntamente com a comunidade sérvia forma o Estado da Bósnia-Herzegovina.
"Srebrenica é a verdade que devemos sempre pronunciar em voz alta, não para regressar ao passado, mas para o futuro", defendeu Niksic, citado pelo portal bósnio Klix.
O político elogiou o texto aprovado por "proteger a verdade sobre Srebrenica, claramente definida nas sentenças" dos tribunais internacionais e nacionais.
Por seu lado, o líder sérvio da Bósnia e presidente da Republika Srpska, o separatista Milorad Dodik, que nega que o massacre de Srebrenica tenha sido um genocídio, interpretou que a iniciativa nas Nações Unidas fracassou.
"Cerca de 110 países não votaram a favor, votaram contra ou abstiveram-se. Esta foi uma resolução falhada, o que significa que a ONU não a apoiou", afirmou o político, segundo o portal Nezavisne.
Para Dodik, a intenção dos autores da resolução (Alemanha e Ruanda) "de impor o caráter genocida e a desqualificação moral dos sérvios não teve sucesso".
Dodik, conhecido pelas suas posições nacionalistas e pró-Rússia e pelos seus repetidos anúncios de possíveis iniciativas separatistas, anunciou que a entidade sérvia-bósnia planeia propor uma "separação pacífica" ao órgão muçulmano-croata no prazo de 30 dias.
Mais de 8.000 homens muçulmanos bósnios de Srebrenica foram assassinados em julho de 1995, após a tomada do enclave pelas tropas sérvias da Bósnia sob o comando do general Ratko Mladic, condenado a prisão perpétua por genocídio e outros crimes de guerra.
Antes, o Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, afirmou que a sua nação está "orgulhosa" após a Assembleia geral da ONU ter aprovado por maioria simples e numerosas abstenções a declaração do Dia Internacional em Memória do Genocídio de Srebrenica.
"Somos uma nação orgulhosa de representar o povo dos valentes (...) e quem queria estigmatizar o povo sérvio não o conseguiu nem o conseguirá", afirmou após a votação de um texto promovido pela Alemanha e Ruanda.
Entre os patrocinadores da resolução constam os Estados Unidos e Reino Unido, juntamente com muitos países da União Europeia (UE) e da Organização de Cooperação Islâmica (OCI), para além de todos os países que integravam a ex-Jugoslávia, à exceção da Sérvia e da Republika Srpska (RS).
Em julho de 1995, a cinco meses do final da guerra civil iniciada na Bósnia-Herzegovina durante a primavera de 1992, cerca de 7.500 homens e rapazes muçulmanos bósnios em idade de combater foram mortos na sequência do assalto militar das forças sérvias bósnias a este enclave do oeste.
As forças sérvias enviaram as mulheres, crianças e idosos para as regiões controladas pelos bosníacos (muçulmanos bósnios), e indicaram que a maioria das vítimas foi morta em combate quando milhares de detidos, muitos deles armados, escaparam dos centros de detenção em Srebrenica e tentaram romper as linhas sérvias em direção a territórios controlados pela Armija, o seu Exército. Muitos terão sido executados sumariamente.
Em 2004, o extinto Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ), uma instância judicial `ad hoc` da ONU com sede em Haia, determinou que os crimes cometidos em Srebrenica em julho de 1995 constituíam genocídio, uma deliberação apoiada pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), o principal órgão judicial das Nações Unidas, em 2007.
"O Tribunal estabeleceu para além de qualquer dúvida razoável que a morte de 7.000 a 8.000 prisioneiros muçulmanos bósnios foi genocídio", anunciou na ocasião o TPIJ.
Posteriormente, a justiça internacional condenou diversos altos responsáveis sérvios bósnios, incluindo os líderes político e militar, Radovan Karadzic e Ratko Mladic, ambos a cumprir prisão perpétua.