Borrell adverte que "resultado da guerra está em risco" se apoio militar falhar

por Lusa

O chefe da diplomacia europeia defendeu hoje que a União Europeia (UE) deve decidir rapidamente como acelerar o fornecimento de armamento, sobretudo munições, à Ucrânia, advertindo que se este apoio falhar, "o resultado da guerra está em risco".

Em declarações à entrada para uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, Josep Borrell disse que esta semana, que assinala o primeiro aniversário do início da agressão militar russa à Ucrânia, será marcada por discussões em diferentes fóruns sobre como acelerar o fornecimento de armamento, designadamente munições a Kiev, pois essa é sem dúvida "a questão mais urgente" nesta fase da guerra.

"Amanhã [terça-feira} deslocar-me-ei à NATO com ministro [ucraniano] Dmytro Kuleba para falar com o secretário-geral, Jens Stoltenberg, e o assunto será, tal como hoje, como fornecermos mais rapidamente armamento à Ucrânia, sobretudo munições", apontou.

O Alto Representante da UE para a Política Externa e de Segurança disse que é conhecido que "a questão mais urgente hoje para o exército ucraniano é ter um fluxo contínuo de munições, sobretudo de calibre 155 milímetros".

"A Rússia dispara cerca de 50 mil tiros de artilharia por dia, e a Ucrânia necessita de estar ao mesmo nível de capacidade. Têm canhões, mas faltam-lhes munições. Por isso, faremos tudo o que pudermos", disse, apontando designadamente que será analisado o contínuo recurso ao mecanismo europeu de apoio à paz para providenciar financiamento, mas também será discutida a compra conjunta de armamento, assim como a possibilidade de os Estados-membros recorrerem às suas reservas.

"Esta é a questão mais urgente. Se falharmos nisto, o resultado da guerra está em risco", disse então.

Assinalando que "esta semana marca um ano da agressão da Rússia contra a Ucrânia", Josep Borrell disse que também será uma semana intensa na resposta a essa agressão, pois depois do encontro de hoje ao nível dos chefes da diplomacia dos 27, haverá a reunião de terça-feira no quartel-general da Aliança Atlântica, reuniões nas Nações Unidas ao nível do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral, onde espera que seja uma vez mais vincado o isolamento de Moscovo, e na próxima semana os ministros da Defesa da UE terão um encontro informal em Estocolmo.

Borrell antecipou que a questão do fornecimento de munições ao exército ucraniano só deverá ser decidida em Estocolmo, pois, "no final, são os ministros da Defesa que têm de tomar este tipo de decisões".

"Vamos apresentar várias propostas e vamos ver qual a melhor. E a melhor terá de ser implementada rapidamente", insistiu.

Relativamente ao décimo pacote de sanções à Rússia, o responsável espanhol observou que "todos falam de sanções, todos querem sanções, mas no final é o Conselho que decide".

"Não garanto que teremos um acordo final hoje, mas vamos continuar a trabalhar nele. Os ministros têm de chegar a um acordo", disse.

Os chefes de diplomacia da União Europeia discutem hoje, em Bruxelas, a continuação do apoio militar a Kiev e o décimo pacote de sanções a Moscovo, em vésperas do primeiro aniversário do início da invasão da Ucrânia pela Rússia.

Numa reunião que contará com a participação presencial do seu homólogo ucraniano, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 deverão escutar de Dmytro Kuleba as necessidades mais urgentes das forças armadas ucranianas face à esperada ofensiva da primavera que a Rússia poderá lançar, devendo focar-se na questão das munições.

No sábado, intervindo na Conferência de Segurança de Munique, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apelou a uma aceleração da produção de armamento convencional, como munições, de que Kiev "precisa desesperadamente", e sobre a mesa voltará a estar a possibilidade de os Estados-membros da UE avançarem para compras conjuntas.

A Estónia, país báltico na vanguarda do apoio à Ucrânia, apresentou aos seus parceiros uma proposta quantificada: uma dotação de quatro mil milhões de euros dos Estados-membros ao Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, o instrumento que tem sido utilizado há praticamente um ano para a compra e fornecimento de armamentos para a Ucrânia.

Os 27 também irão discutir o décimo pacote de sanções à Rússia, com base na proposta apresentada na semana passada pela Comissão, e que abrange tecnologias críticas para a máquina de guerra russa, num montante total estimado em mais de 11 mil milhões de euros, e visa também a "máquina propagandista" do Kremlin.

Este pacote, que a UE quer adotar esta semana para assinalar o primeiro aniversário do início da agressão militar russa, que se cumpre na próxima sexta-feira, 24 de fevereiro, contempla bens industriais de que a Rússia necessita, como equipamentos eletrónicos, veículos especializados, peças de máquinas e motores, peças sobressalentes para camiões e motores a jato.

Por outro lado, a lista de indivíduos e entidades alvo de medidas restritivas deverá ser alargada, pela primeira vez, a entidades iranianas, incluindo aquelas ligadas à Guarda Revolucionária do Irão, por Teerão estar a fornecer à Rússia drones que têm sido utilizados para atacar infraestruturas civis na Ucrânia.

Num almoço de trabalho, os 27 vão ainda reunir-se com o vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros e da Integração Europeia da Moldova, Nico Popescu.

Portugal está representado na reunião pelo ministro João Gomes Cravinho.

Lusa/Fim

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