Bombardeamento israelita sobre cidade síria de Palmira provoca mais de 70 mortos

por Cristina Sambado - RTP
AFP Photo / Handout / Israeli Army

Um ataque israelita contra grupos pró-iranianos em Palmira, no centro da Síria, provocou mais de 70 mortos. Na Faixa de Gaza, dezenas de pessoas morreram esta quinta-feira em mais uma ofensiva das tropas de Telavive.

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), um dos ataques, ao final do dia de quarta-feira, teve como alvo uma reunião de comandantes de grupos pró-iranianos com dirigentes do movimento iraquiano Al-Noujaba e do Hezbollah libanês.

A organização não-governamental, sediada no Reino Unido, revelou ainda que 45 sírios, membros de grupos pró-iranianos, e 26 estrangeiros, na sua maioria iraquianos do Al-Noujaba, mas também quatro membros do Hezbollah, morreram nos ataques.


O Ministério sírio da Defesa adiantaram que pelo menos 36 pessoas tinham morrido em ataques israelitas à cidade milenar de Palmira.Pouco antes, a agência noticiosa estatal síria SANA noticiara “sons de explosões ouvidos em Palmira, produzidos por uma agressão israelita contra edifícios residenciais e a zona industrial”.

“O inimigo israelita levou a cabo um ataque aéreo que visou vários edifícios na cidade de Palmira, no deserto sírio, matando 36 pessoas, ferindo mais de 50 e causando danos materiais consideráveis nos edifícios visados e na área circundante”, referia na quarta-feira a agência noticiosa oficial síria Sana, citando fonte militar.

Declarada Património da Humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em 1980, Palmira alberga as ruínas de uma grande cidade que foi um dos centros culturais mais importantes da Antiguidade a partir de 3500 A.C., influenciada por várias civilizações, incluindo a grega clássica, a romana e a persa, bem como por tradições indígenas.


Israel aumentou consideravelmente os bombardeamentos em território sírio nas últimas semanas, especialmente na capital, Damasco, e seus arredores, como na zona de Al-Quseir, que faz fronteira com o Líbano, por onde o Exército israelita afirma que o grupo xiita libanês Hezbollah transporta armas.

Segundo as forças israelitas, estes ataques, que já causaram dezenas de vítimas, incluindo civis, visaram paióis do Hezbollah e dirigentes de grupos palestinianos. Contudo, as autoridades locais afirmam que muitos dos bombardeamentos realizados atingiram diretamente zonas residenciais.
Dezenas de mortos na Faixa de Gaza
Dezenas de pessoas morreram em ataques israelitas no norte da Faixa de Gaza, devastada por mais de um ano de guerra entre o exército israelita e o movimento islamita palestiniano Hamas. A Defesa Civil da Faixa de Gaza anunciou que 22 pessoas tinham sido mortas durante a noite por um ataque israelita a um bairro da cidade de Gaza (norte).

“Confirmamos que 22 mártires foram transferidos (para hospitais) após um ataque a uma casa (...) em Sheikh Radwan”, disse à AFP Mahmoud Bassal, porta-voz da organização.

O ataque teve lugar a algumas centenas de metros do hospital Kamal Adwan, na periferia das cidades de Jabalia e Beit Lahia, segundo os residentes locais.

Nem a Defesa Civil nem o Ministério da Saúde do Hamas para Gaza anunciaram ainda o número de mortos deste segundo ataque.

Há dezenas de mortos e desaparecidos sob os escombros”, disse à AFP Hossam Abou Safiyeh, diretor deste estabelecimento de saúde, um dos poucos no norte de Gaza que continua a funcionar, embora muito parcialmente.

“Os corpos estão a chegar ao hospital em farrapos”, acrescentou, acrescentando que a busca de corpos continua. “Não há ambulâncias, o sistema de saúde está em baixo no norte de Gaza”, acrescentou. Na quarta-feira, os Estados Unidos, aliados de Israel, impediram o Conselho de Segurança da ONU de apelar a um cessar-fogo “imediato, incondicional e permanente” em Gaza, apesar dos apelos internacionais para o fim do conflito, que conduziu a uma situação humanitária desastrosa no território.

Frisando querer impedir que os combatentes do Hamas se reagrupem e se reforcem na zona, o exército israelita lançou no início de outubro uma nova e importante ofensiva no norte da Faixa de Gaza, que já fez mais de mil mortos, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza.

Desencadeada em 7 de outubro de 2023, após um ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita, a guerra em Gaza estendeu-se ao Líbano, onde o movimento pró-iraniano Hezbollah abriu uma “frente de apoio” ao movimento palestiniano.

“No norte (da Faixa de Gaza), a população continua estritamente sob cerco. Estão encurraladas e não têm um sítio seguro para onde ir. Correm pela vida em círculos viciosos e estão privadas de ajuda humanitária há mais de 40 dias”, escreveu Philippe Lazzarini, chefe da agência da ONU para os refugiados palestinianos, na rede social X.
 

”Em toda a Faixa de Gaza, a entrega da pouca ajuda permitida tornou-se demasiado complexa, nomeadamente devido à insegurança das rotas. A ordem civil foi destruída".
Bombardeamentos prosseguem no Líbano
Esta quinta-feira, a Agência Nacional de Notícias do Líbano (Ani) noticiou três ataques em Haret Hreik, um bairro nos subúrbios do sul de Beirute, “causando a destruição de vários edifícios”.

Segundo a mesma fonte, durante a noite, outros ataques visaram várias zonas do sul do país, incluindo a grande cidade de Khiam, situada a cerca de seis quilómetros da fronteira, onde no dia anterior se registaram confrontos entre o Hezbollah e as forças israelitas.

Esta manhã, o porta-voz do exército em língua árabe, Avichay Adraee, apelou à evacuação dos habitantes de três zonas próximas da cidade de Tiro, no sul do país.

“A nossa nação está a sofrer com uma guerra destrutiva e bárbara conduzida pelo inimigo israelita”, declarou o comandante-em-chefe do exército libanês, general Joseph Aoun, esta quinta-feira, na véspera do 81.º aniversário da independência do país.

“Os esforços para alcançar um cessar-fogo estão a ser intensificados”, acrescentou o general.


A violência entre Israel e o Hezbollah no Líbano causou mais de 3.550 mortos desde outubro de 2023, a maioria dos quais desde o início da campanha de bombardeamentos israelitas em 23 de setembro. Do lado israelita, 79 soldados e 46 civis foram mortos em 13 meses.
Amos Hochstein em Telavive com cessar-fogo na agenda
O enviado dos Estados Unidos, Amos Hochstein, que está a tentar conseguir um cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah libanês, deverá encontrar-se com Benjamin Netanyahu esta quinta-feira, informou o Likud, partido do primeiro-ministro.

A imprensa israelita revela que, Hochstein aterrou em Israel na quarta-feira ao fim da tarde, vindo do Líbano, e manteve conversações durante a noite com Ron Dermer, ministro dos Assuntos Estratégicos e confidente de Netanyahu.
Esta visita surge no contexto de novos esforços para pôr em prática um cessar-fogo no Líbano, onde o exército israelita combate o movimento islamita Hezbollah.

Em Beirute, na quarta-feira, o enviado norte-americano referiu “novos progressos” no plano para um cessar-fogo e a retirada das forças israelitas do Líbano, com base na Resolução 1701 da ONU, que pôs fim à anterior guerra entre Israel e o movimento xiita libanês em 2006.

A 8 de outubro de 2023, no dia seguinte ao ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita que desencadeou a guerra em curso na Faixa de Gaza, o Hezbollah lançou uma “frente de apoio” contra o movimento palestiniano, disparando foguetes contra o norte de Israel quase diariamente.

Durante meses, os confrontos transfronteiriços relativamente limitados entre o exército israelita e os combatentes do movimento xiita provocaram a deslocação de dezenas de milhares de habitantes de ambos os lados da linha de demarcação entre Israel e o Líbano.

Alegando querer impedir o Hezbollah de realizar ataques no seu território e com o objetivo declarado de permitir que cerca de 60 mil habitantes do norte do país regressassem a casa em segurança, Israel lançou uma intensa campanha de bombardeamentos no Líbano em 23 de setembro e, sete dias depois, lançou uma ofensiva terrestre no sul do país.

c/ agências
PUB