O chefe do Estado-Maior do Exército russo manteve hoje uma conversa telefónica com os homólogos dos Estados Unidos e Reino Unido sobre a suposta `bomba suja` radioativa, que Moscovo insiste que a Ucrânia pode utilizar, o que o Ocidente nega.
Moscovo levantou este domingo a ameaça de que a Ucrânia poderá usar uma `bomba suja`, contendo material radioativo, acusação que foi firmemente rejeitada por Kiev.
O responsável do Exército russo, Valery Gerasimov, conversou com o chefe do Estado-Maior do Exército norte-americano, Mark Milley, sobre "o possível uso de uma `bomba suja` pela Ucrânia", referiu o Ministério da Defesa russo em comunicado.
Desde 19 de maio que os chefes do Estado-Maior russo e norte-americano não discutiam o conflito na Ucrânia.
Os norte-americanos confirmaram o diálogo entre as duas partes, num breve comunicado à imprensa que não especificou os assuntos debatidos.
Também hoje, Gerasimov conversou com o homólogo britânico, Tony Radakin, numa outra rara comunicação entre estas figuras militares.
O Ministério da Defesa russo indicou, também em comunicado, que os dois responsáveis falaram sobre a `bomba suja`.
Já o governo britânico apontou que a conversa ocorreu "a pedido" do lado russo.
Durante o diálogo, Tony Radakin "rejeitou as alegações da Rússia de que a Ucrânia estava a planear ações para agravar o conflito", realçou o Ministério da Defesa britânico.
Os dois responsáveis "concordaram sobre a importância de manter abertos canais de comunicação entre o Reino Unido e a Rússia para gerir o risco de erro de cálculo e facilitar a desescalada", observou ainda a mesma fonte.
Londres, Washington e Paris já tinham sublinhado anteriormente que consideram as acusações de Moscovo sobre a `bomba suja` como "falsas".
"Ninguém será enganado por uma tentativa para utilizar esta alegação como um pretexto para uma escalada", referiram os três países em comunicado conjunto.
A Rússia referiu hoje que a Ucrânia entrou no "estágio final" da construção da sua `bomba suja`.
Ucranianos e os seus aliados ocidentais alertaram que esta pode ser uma ameaça de preparativos para uma operação de `bandeira falsa`, usada num conflito de modo a aparentar ser realizada pelo inimigo para tirar partido das suas consequências, suspeitando que a Rússia esteja a preparar-se para detonar a suposta `bomba suja` e justificar a escalada militar, utilizando, por exemplo, uma arma nuclear tática como retaliação.
Uma `bomba suja` consiste em explosivos convencionais rodeados por materiais radioativos destinados a serem disseminados em pó no momento da explosão.
Fonte militar norte-americana adiantou hoje que os Estados Unidos ainda "não têm nenhuma indicação" de que a Rússia tenha decidido usar armas nucleares, químicas ou biológicas no conflito na Ucrânia.
"Ainda não temos indicação de que os russos tenham tomado a decisão de usar armas nucleares", revelou o alto funcionário, que pediu anonimato, em declarações aos jornalistas.
Questionado sobre se esta informação incluía a decisão de usar uma `bomba suja`, o alto oficial militar respondeu que "sim".
"É claro que continuamos a observar de perto e mantemos as linhas de comunicação abertas com os nossos aliados e parceiros, os ucranianos e os russos", acrescentou.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.374 civis mortos e 9.776 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.