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Blinken no Médio Oriente. Israel matou dezenas de atiradores palestinianos

por Cristina Sambado - RTP
Amir Cohen - Reuters

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, prossegue esta terça-feira o quinto périplo pelo Médio Oriente, numa tentativa de impor uma trégua no conflito entre Israel e o Hamas, que está prestes a entrar no quinto mês. Em 24 horas, as forças israelitas mataram dezenas de atiradores palestinianos e capturaram dezenas em operações em toda a Faixa de Gaza.

Segundo as Forças Armadas israelitas, o sul de Khan Younis foi o foco dos combates nas últimas 24 horas, onde cerca de 80 pessoas foram detidas, incluído algumas acusadas de terem participado no sequestro de 7 de outubro no sul de Israel pelos islamitas do Hamas, que desencadeou a guerra em Gaza.

O exército israelita afirmou que estava envolvido em "combates próximo" em Khan Younis, a maior cidade do território, que Israel acredita ser o lar de líderes do movimento islamista palestiniano.

O líder do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, originário de Khan Younis, está "em fuga" e a deslocar-se "de esconderijo em esconderijo", declarou na segunda-feira à noite o ministro israelita da Defesa, Yoav Gallant.
"Tornou-se agora um terrorista em fuga, deixando de ser o líder do Hamas" no território palestiniano, acrescentou Gallant, sem explicar presumível localização atual de Sinwar, que acusa de ter planeado o ataque de 7 de outubro.

O Ministério da Saúde do Hamas comunicou 99 mortos entre a noite de segunda-feira e a manhã desta terça-feira, bem como os ataques aéreos e os disparos de artilharia nos sectores de Rafah e Khan Younis.

O Crescente Vermelho Palestiniano revelou nas redes sociais que as forças israelitas detiveram o diretor-geral e o diretor administrativo do hospital Al-Amal em Khan Younis.


Cerca de oito mil pessoas foram retiradas da unidade hospitalar na sequência dos bombardeamentos israelitas, acrescentou a organização comunitária. No entanto, quarenta idosos deslocados, cerca de 80 pacientes e feridos, bem como uma centena de trabalhadores administrativos e médicos permanecem no interior do hospital Al-Amal.

A organização indicou que "centenas de famílias deslocadas" estavam a abandonar o hospital e a sede da agência, dois locais "sitiados durante mais de duas semanas (...) devido a bombardeamentos e disparos contínuos".

Nas últimas 24 horas, os ataques também visaram Rafah, no extremo sul do território, uma cidade que tinha 270 mil habitantes antes da guerra, mas onde mais de 1,3 milhões de pessoas que fugiram dos combates estão agora amontoadas em condições desesperadas, segundo a ONU.

Pelo menos 20 palestinianos foram mortos durante o fim de semana em ataques israelitas em Rafah, a cidade anteriormente designada como zona segura pelos militares israelitas.

De acordo com a ONU, os recém-chegados a Rafah dispõem agora apenas de 1,5 a dois litros de água por dia para beber, cozinhar e lavar, e os casos de diarreia crónica entre as crianças estão a aumentar. Para agravar a situação, a agência da ONU para os refugiados palestinianos (Unrwa) viu os países doadores, incluindo os Estados Unidos, suspenderem o seu financiamento na sequência das acusações de Israel de que 12 dos seus funcionários participaram no ataque de 7 de outubro.

A cidade sobrepovoada, situada na fronteira fechada com o Egito, poderá ser o próximo alvo de Israel, que afirma querer "exterminar" o movimento islamita, classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia.

Já a cidade de Gaza está há várias semanas praticamente isolada do resto do território. As Nações Unidas condenaram a impossibilidade de fazer chegar a ajuda humanitária às centenas de milhares de pessoas que permanecem no norte do território palestiniano, gravemente atingido desde o início da guerra.

Na cidade, os cadáveres foram deixados nas ruas, enquanto outros estão presos nos escombros dos edifícios que desmoronaram.
Tentativa de novas tréguas
Antony Blinken, que iniciou na segunda-feira a sua quinta viagem à região desde o início da guerra, começou pela Arábia Saudita e aterrou esta manhã no Cairo para se encontrar com o presidente egípcio Abdel Fatah al-Sisi.

Ao final do dia desloca-se ao Catar, antes de visitar Israel e a Cisjordânia ocupada. Em cima da mesa com os responsáveis dos países que vai visitar está a discussão para a libertação dos reféns, os planos pós-guerra e perspetiva de normalização das relações entre as nações do Médio Oriente.

Durante a sua nova visita à região, Blinken apoia o plano elaborado pelos mediadores do Catar, dos Estados Unidos e do Egito, em Paris, no final de janeiro, que deve ainda ser aprovado pelo Hamas e por Israel.

Segundo uma fonte do Hamas, a proposta prevê uma trégua de seis semanas durante as quais Israel deverá libertar 200 a 300 prisioneiros palestinianos em troca de 35 a 40 reféns detidos em Gaza e 200 a 300 camiões de ajuda poderão entrar diariamente no território.No final de novembro, uma primeira trégua conduziu a uma pausa de uma semana nos combates, à entrada de ajuda humanitária e à libertação de cerca de 250 reféns em Gaza, bem como a libertação de prisioneiros palestinianos.

O Hamas, que está no poder em Gaza desde 2007, exige um cessar-fogo total. Por seu lado, Israel continua a afirmar que só porá um fim definitivo à sua ofensiva quando o movimento islamita tiver sido eliminado e os reféns libertados.


"O Hamas tem exigências que não vamos aceitar", declarou o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, na segunda-feira.

Em Israel, Blinken deverá frisar a necessidade urgente de permitir a entrada de ajuda na Faixa de Gaza, que se encontra sitiada e mergulhada numa grave crise humanitária após quatro meses de guerra.

O conflito em Gaza estendeu-se também a toda a região, com tensões entre Israel e os seus aliados, por um lado, e o Irão e o seu "eixo de resistência", que inclui o Hamas, o Hezbollah libanês, as milícias iraquianas e os Houthis iemenitas, por outro.

Na semana passada, os Estados Unidos realizaram ataques contra instalações na Síria e três no Iraque, visando os Guardiães da Revolução Islâmica, o exército ideológico do Irão, e grupos armados pró-iranianos, segundo Washington.

Na reunião do Conselho de Segurança da ONU, na segunda-feira, a subsecretária-geral para os Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo, apelou aos Estados para que "cooperem ativamente" para "evitar uma nova escalada".

Mas, durante a noite, a empresa de segurança Ambrey registou um ataque de drones que danificou ligeiramente um navio de carga britânico no Mar Vermelho. E Washington anunciou ataques contra os rebeldes Houthi, que há semanas têm como alvo a navegação nesta via estratégica em "solidariedade" com Gaza.

A guerra eclodiu a 7 de outubro com um ataque sem precedentes em solo israelita, perpetrado por comandos do Hamas infiltrados a partir de Gaza, que causou a morte de mais de 1.160 pessoas, na sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelitas.

Em resposta, Israel lançou uma vasta ofensiva militar que causou 27.478 mortos na Faixa de Gaza, a grande maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

c/ agências internacionais
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