Os bispos da Terra Santa acusaram Israel de "falta de respeito" à Igreja, na sequência da intervenção da polícia israelita durante o funeral, na passada sexta-feira, de Shireen Abu Akleh, jornalista palestiniana da Al Jazeera.
Numa conferência de imprensa no Hospital St. Joseph, líderes de 15 denominações condenaram o que apelidaram de “intrusão violenta” da polícia no funeral de Abu Akleh.
Um consórcio independente internacional de investigadores admitiu, com base na análise de imagens e áudios do local, que a jornalista do canal Al Jazeera assassinada na Cisjordânia possa ter sido atingida por fogo israelita.
O representante do Vaticano em Jerusalém acusou Israel de “violar brutalmente” um acordo de décadas para defender a liberdade religiosa.
Monsenhor Tomasz Grysa, que representa a Santa Sé em Jerusalém, considera que a ação foi injustificada e não provocada.
O representante do Vaticano recorda um acordo de 1993 entre a Igreja Católica Romana e Israel que “defende e observa o direito humano e a liberdade religiosa, que neste caso foi brutalmente violado”.
Milhares de palestinianos participaram nas exéquias da jornalista palestiniana-norte-americana, morta na passada quarta-feira com uma bala na cabeça quando efetuava a cobertura noticiosa de um raide militar israelita no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia, território palestiniano ocupado por Israel desde 1967.
Para o administrador apostólico do patriarcado latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, que se exprimiu em nome dos bispos da Terra Santa, “a polícia entrou num estabelecimento de saúde cristão, faltando ao respeito à Igreja, faltando ao respeito ao estabelecimento de saúde, faltando ao respeito à memória dos mortos”.
O arcebispo Pierbattista Pizzaballa considera que “a invasão da polícia israelita e o uso desproporcionado de força – atacando as carpideiras, atingindo-as com bastões e assustando os doentes do hospital – constitui uma grave violação das normas e regulamentos internacionais, incluindo o direito humano fundamental da liberdade religiosa”.
Muitos médicos e enfermeiros estavam no exterior do hospital para prestar homenagem a Abu Akleh quando as forças israelitas invadiram o local.Nos funerais palestinianos, o caixão é frequentemente levado à mão em público como marca de tributo popular, especialmente com o óbito de uma figura notável. Em tais eventos não é raro que os planos mudem subitamente se mais pessoas quiserem prestar a última homenagem.
No decurso do cortejo, o caixão de Shireen Abu Akleh escapou das mãos dos homens que o transportavam quando foram agredidos pela polícia armada de matracas, mas conseguiram a custo mantê-lo erguido, segundo as imagens das televisões locais.
A polícia israelita, que abriu um inquérito após as fortes reações motivadas por essas imagens, disse por sua vez que foi forçada a enfrentar “desordeiros” presentes no cortejo.
“A polícia esteve no local para manter a ordem pública e permitir que o funeral tivesse lugar, numa altura em que existiam extremistas no terreno que provocaram e se envolveram numa tentativa de transformar o funeral num evento violento”, acrescentou.
A família de Shireen Abu Akleh rejeitou esta versão dos factos.
Israel conquistou Jerusalém Oriental durante a Guerra israelo-árabe dos Seis Dias, em junho de 1967, juntamente com a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
Posteriormente anexou Jerusalém Oriental, uma decisão nunca reconhecida pela comunidade internacional.
Os palestinianos pretendem recuperar a Cisjordânia ocupada e Gaza e reivindicam Jerusalém Oriental como capital do futuro Estado da Palestina a que aspiram.
c/ agências