Bispo de Pemba descreve cenário arrasador após ciclone

por Lusa
Destruição no distrito de Mecúfi, em Cabo Delgado, Moçambique Eduardo Mendes - UNICEF/AFP

Juliasse Sandramo relata que só numa comunidade há pelo menos 20 mortos por contabilizar oficialmente. O bispo descreveu hoje à Lusa como arrasador o resultado da passagem do ciclone Chido em Cabo Delgado, no norte de Moçambique.

"Em Mecúfi o relato que nós temos, a partir das religiosas que estão lá, há 20 mortos, que ainda não estão a ser divulgados. E as irmãs religiosas dizem que deve haver mais porque os enterros aconteceram imediatamente por causa da religião islâmica, alguns não foram comunicados devidamente às instituições. É preciso chegar às aldeias para ouvir [os efeitos]", disse, em entrevista à Lusa, o bispo da diocese de Pemba.

Pelo menos 28 pessoas morreram em Cabo Delgado, três em Nampula e três em Niassa, na passagem do ciclone tropical intenso Chido, no domingo, e 35 mil casas foram afetadas, além de 34 unidades sanitárias, indicou um balanço preliminar oficial com dados até segunda-feira.

O ciclone tropical, que se formou em 05 de dezembro no sudoeste do oceano Índico, entrou no domingo pelo distrito de Mecúfi, na província de Cabo Delgado, no norte do país, com ventos que rondaram os 260 quilómetros por hora e chuvas fortes.

"Arrasador. O distrito de Mecúfi, de Chiúre, ficou arrasado. Praticamente 80% das casas das populações ficaram danificadas. 80% até é pouco, deve ser mais. Também as casas convencionais ficaram sem os tetos, as paredes permaneceram, mas os tetos voaram ou parte do teto voou. E aqueles outros que ficaram sem nada mesmo. Então, é devastador", assumiu.

Segundo Juliasse Sandramo, os distritos de Cabo Delgado afetados pelo ciclone Chido "estão numa situação difícil", apesar de algumas organizações, incluindo da Igreja Católica, estarem no terreno a tentar ajudar, mas alertou que a necessidade de ajuda vai prolongar-se, nomeadamente no fornecimento de lonas para restabelecer as coberturas das casas precárias, quando se está em plena época das chuvas.

"Boa parte da população perdeu as suas habitações, aquelas de construção simples, material local. Podem conseguir estacas e o resto, mas será muito difícil conseguir nestes dias o capim para fazer a cobertura. O capim só aparecerá e vai estar em condições a partir de junho ou julho do próximo ano e aproxima-se o período das chuvas. É muito importante que cada família ao menos tenha uma lona, poderão fazer uma casa e cobrir quando houver chuva", apontou, descrevendo que esta urgência é "muito grande".

O bispo refere-se ainda a outros efeitos do ciclone, como na agricultura.

"Está-se no período da sementeira. Algumas famílias que tinham as sementes guardadas, ficaram também estragadas por causa das chuvas. Agora é preciso repor para que possam voltar a lançar à terra a semente. Isto é importante, depois vem o resto como a comida, a reposição das infraestruturas, como na saúde, para que as pessoas possam voltar a ser atendidas. Muitas pessoas ficaram feridas e vão emergir também certas doenças nos próximos dias", sublinhou ainda, reconhecendo igualmente que várias escolas estão sem condições para retomar as aulas em fevereiro.

"Todos nós vamos tentando lançar SOS para ver o que podemos conseguir em favor deste povo tão sofrido, por um lado pela guerra e agora por este esta catástrofe natural", lamentou, embora apontando que a população e as organizações locais estavam mais preparadas após as lições de ciclones anteriores que afetaram a província de Cabo Delgado.

O Governo moçambicano anunciou que enviou equipas multissetoriais para as províncias de Cabo Delgado e Nampula, para dar assistência às populações afetadas pelo ciclone, que saiu do território moçambicano na terça-feira.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) reconheceu que o ciclone Chido agravou as necessidades de populações no norte de Moçambique deslocadas pelo terrorismo, com 190 mil pessoas a precisarem de "apoio urgente".

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