Biden explica desistência da corrida presidencial como decisão em "defesa da democracia"

por Andreia Martins - RTP
Foto: Evan Vucc - Reuters

Três dias depois de ter anunciado a retirada da corrida à Casa Branca em 2024, o presidente dos Estados Unidos dirigiu-se esta quarta-feira à nação para explicar o que o levou a tomar essa decisão. Numa curta declaração a partir da Sala Oval, vincou que "nada pode interferir com a defesa da democracia", incluindo as "ambições pessoais".

Em jeito de balanço, quando faltam menos seis meses para terminar o mandato presidencial, Joe Biden explicou de viva voz os motivos que o levaram a abandonar a campanha.

"Eu venero este cargo. Mas amo ainda mais o meu país. Foi a maior honra da minha vida prestar serviço como vosso presidente. Mas a defesa da democracia - que é o que está em causa - é mais importante do que qualquer título", afirmou. 

Na primeira aparição pública desde que comunicou a decisão de deixar cair a candidatura a um segundo mandato, Joe Biden considerou que os EUA estão "num ponto de viragem", a ter de escolher entre "avançar ou retroceder, entre a esperança e o medo, entre a unidade e a divisão".

"Temos de decidir. Continuamos a acreditar na honestidade, na decência, no respeito? Na liberdade, na justiça, na democracia?" questionou. "Acredito que sei as respostas a todas estas perguntas porque conheço o povo americano e sei que somos uma grande nação porque somos boas pessoas".
Elogios a Kamala Harris
Na explicação aprofundada sobre a decisão comunicada no domingo, Joe Biden diz ter decidido que "o melhor caminho a seguir" seria o da "passagem de testemunho a uma nova geração".

"Acredito que o meu histórico como presidente, a minha liderança e a minha visão para o futuro dos EUA mereciam um segundo mandato. Mas nada pode interferir com a defesa da nossa democracia", vincou.

Numa declaração televisiva a partir da Casa Branca com o estatuto de presidente, Joe Biden não se coibiu de deixar elogios à sua vice-presidente, Kamala Harris, a quem declarou apoio no domingo, minutos depois de ter anunciado a decisão de desistir da corrida presidencial.

"Quero agradecer à vice-presidente Kamala Harris. Ela é experiente, ela é forte, ela é capaz.  Tem sido uma parceira incrível para mim e uma líder do nosso país", considerou.

De olhos postos no que resta do mandato presidencial, Joe Biden garantiu que estará focado em cumprir o trabalho na Casa Branca. Para além do foco na economia, prometeu "continuar a denunciar o extremismo e o ódio".

A nível internacional, destacou como prioridades o fim do conflito no Médio Oriente e a cessação da agressão russa na Ucrânia. Garantiu ainda que a sua Administração continuará a lutar para "manter a NATO forte, mais poderosa e mais unida do que em qualquer momento da nossa história".

Procurou defender o legado do mandato ao afirmar-se como "o primeiro presidente deste século que pode afirmar aos norte-americanos que os EUA não estão em guerra com qualquer parte do mundo".
Um inverno de "perigo e possibilidades"

Neste balanço antecipado do mandato presidencial, Joe Biden lembrou as circunstâncias em que chegou ao poder, em janeiro de 2021. Desde então, o país recuperou "da pior pandemia do século", da "pior crise económica desde a Grande Depressão" e do "maior ataque à nossa democracia desde a Guerra Civil".

O presidente referia-se indiretamente, neste último ponto, à invasão do Capitólio de 6 de janeiro e à contestação ao resultado eleitoral de 2020, encabeçada pelo então presidente, Donald Trump.

"Avançámos muito desde a minha tomada de posse. Estávamos num inverno. Num inverno de perigos e possibilidades", afirmou.

O presidente norte-americano defendeu que houve desde então avanços no acesso a cuidados de saúde, a diminuição da criminalidade violenta ou um maior controlo das fronteiras.

“Os salários aumentaram. A inflação continua a descer. A disparidade de riqueza racial é a mais baixa dos últimos 20 anos. Estamos literalmente a reconstruir toda a nossa nação”, asseverou ainda Biden.

E num tom quase nostálgico, num balanço da sua carreira como político, Joe Biden afirmou ter dado "o coração e a alma" pelo país. "Foi o privilégio da minha vida ter servido esta nação por mais de 50 anos", acrescentou.

"Em nenhum outro lugar do mundo uma criança com gaguez, de origem modesta em Scranton, na Pensilvânia ou em Claymont, no Delaware, poderia um dia sentar-se atrás desta mesa no Salão Oval como presidente dos Estados Unidos. Mas aqui estou eu”, referiu.
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