"Os Estados-Membros vão aceitar esses empréstimos (…) e vão utilizá-los para aquisições conjuntas com a Ucrânia e para as necessidades ucranianas", afirmou Kubilius esta sexta-feira, em
entrevista ao
Guardian.
O programa SAFE, proposto pela Comissão Europeia, foi aprovado na quarta-feira e prevê também uma maior flexibilidade nas regras orçamentais do bloco em relação ao plano de rearmamento de 800 mil milhões de euros elaborado após a decisão de Donald Trump de suspender toda a ajuda militar dos EUA à Ucrânia.
Assim que o SAFE entrar oficialmente em vigor na próxima semana, os Estados-membros têm seis meses para elaborar planos para os projetos de defesa que pretendem financiar.
"Não podemos queixar-nos pelo facto de os 340 milhões de americanos não estarem prontos para defender 450 milhões de europeus contra 140 milhões de russos", disse Kubilius, que é também antigo primeiro-ministro da Lituânia.
"Podemos não gostar da linguagem e das mensagens, mas o que temos de evitar é aquilo a que chamo um divórcio zangado e caótico com os EUA. Precisamos de chegar a um acordo muito racional sobre a divisão de responsabilidades", defendeu.
O comissário europeu acredita também que
os 27 Estados-membros vão escolher agravar as suas dívidas nacionais para gastarem os 800 mil milhões de euros que a Comissão atribuiu ao setor da Defesa.
O presidente do Conselho Europeu, António Costa, considerou igualmente que a adoção do programa SAFE é "um passo importante para uma Europa mais forte".
Até ao momento,
15 países, entre os quais a Alemanha e a Polónia, anunciaram a sua intenção de utilizar as flexibilidades previstas nas regras orçamentais da UE, mas várias economias grandes e altamente endividadas têm-se abstido, incluindo a França, a Itália e a Espanha.
“Paz formal através da força”
De acordo com o Instituto Kiel para a Economia Mundial, ao longo de três anos de guerra
a Europa forneceu a Kiev cerca de 62 mil milhões de euros em ajuda militar, enquanto os Estados Unidos contribuíram com um valor semelhante: 64 mil milhões.
No entanto, os Estados-membros enviaram 70 mil milhões de euros em ajuda humanitária e financeira, em comparação com 50 mil milhões de euros dos EUA.
Para substituir os fluxos de ajuda dos Estados Unidos, a Europa teria de gastar 0,21 por cento do PIB, quando atualmente esse valor se fixa em 0,1 por cento.
Esse acréscimo "não seria, obviamente, zero, mas também não é algo que destrua a nossa situação financeira", assegurou Andrius Kubilius.
O responsável europeu considerou ainda “uma ilusão” que o presidente russo, Vladimir Putin, queira a paz, defendendo por isso que “a única forma de alcançar uma paz justa é implementar uma paz formal através da força”.