Berlim "toma nota" de notícias sobre espionagem da NSA mas recusa comentar

por Lusa
Kay Nietfeld - EPA

Berlim disse hoje que os assuntos relacionados com serviços secretos não podem ser abordados de forma pública, acrescentando que "tomou nota" das novas informações sobre atos de espionagem norte-americanos com alegada colaboração dinamarquesa.

"Peço que entendam que os temas e atividades relacionados com (serviços) de informações não podem ser falados aqui publicamente, mas sim com as devidas comissões parlamentares", disse hoje o porta-voz do Executivo de Berlim, Steffen Seibert, acrescentando que o Executivo "tomou nota" das novas informações.

O porta-voz referia-se às notícias transmitidas pelo canal público de televisão da Dinamarca, DR, sobre o suposto envolvimento dos serviços secretos de Copenhaga no caso de escutadas dos Serviço Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos.

A chanceler Angela Merkel e outros líderes políticos europeus foram o alvo da vigilância da NSA, durante a Administração Obama, segundo as últimas notícias com a colaboração dos serviços de informações de Copenhaga, usando, por exemplo, recursos como os cabos submarinos dinamarqueses. 

O porta-voz do Governo alemão referiu-se também às declarações da ministra da Defesa da Dinamarca, Trine Bramsen, que em comunicado disse à televisão DR que o "Executivo (dinamarquês) não pode falar de especulações sobre assuntos relacionados com os serviços de informações que são tratados pelas respetivas comissões parlamentares".

Steffen Seibert disse ainda que o facto de o Governo alemão não tomar uma posição pública sobre as últimas informações não equivale a uma declaração quanto ao facto de as circunstâncias agora expostas "serem corretas ou não".

Para esclarecer este assunto, o Governo alemão, afirmou o responsável, "está em contacto com os postos relevantes tanto a nível nacional como internacional".

Por outro lado, assinalou que a chanceler Merkel "já tomou conhecimento do objeto da investigação através das perguntas que foram dirigidas pelos jornalistas".

O porta-voz declinou responder à pergunta sobre uma eventual resposta formal do Governo a estas informações que resultaram de uma investigação jornalística recente.

Seibert disse que a posição da Alemanha sobre o assunto foi expressa em 2012 e 2014 de forma detalhada quando na altura foram abordadas as práticas da NSA e que uma comissão de investigação no Parlamento "tratou de forma intensiva a problemática" tendo a chanceler feito declarações sobre a questão.

"Não há nada de novo a acrescentar", disse.

Na altura das primeiras notícias sobre atos de espionagem, divulgados pelo ex-agente da NSA, Edward Snowden, a chanceler alemã demonstrou mal-estar ao presidente norte-americano, Barack Obama considerando "inaceitável a espionagem entre amigos".

A ministra da Defesa da Dinamarca disse à estação de televisão DR que o Governo tem a mesma posição demonstrada em 2012 e 2014 pela ex-primeira-ministra social-democrata Helle Thorning-Schmidt que disse que as "escutas `sistemáticas` de aliados são inaceitáveis".

Hoje, na Dinamarca, dois partidos de esquerda pediram explicações aos ministros da Defesa e da Justiça após as notícias sobre o alegado o envolvimento dinamarquês nas escutas dos Estados Unidos a líderes europeus.  

"Isto faz com que políticos da Suécia, Noruega e Alemanha, nossos parceiros, não possam confiar na Dinamarca. Trata-se de um grande problema e, ainda para mais, se aceitou (atuar) `de olhos abertos`", disse Eva Flyvholm, porta-voz para os assuntos de Defesa da Lista Unitária, um dos aliados do Executivo social-democrata dinamarquês.  

O Partido Popular Socialista, outra formação política aliada do Governo minoritário da Dinamarca, liderado pela social-democrata Mette Frederiksen, apresentou também um pedido para a presença no parlamento dos titulares das pastas da Defesa, Trine Bramsen, e da Justiça, Nick Haekkerup. 

A estação de televisão DR cita nove fontes de informação, não identificadas, que tiveram acesso ao relatório dos serviços de informações da Dinamarca - Forsvarets Efterretningstjeneste (FE). 

O documento de 2015 concluiu que a NSA espiou políticos de países vizinhos da Dinamarca aproveitando a colaboração dos serviços de informações e os recursos de Copenhaga.

O relatório foi enviado à direção do FE sem que, aparentemente, se tivessem registado consequências. 

O organismo encarregado de controlar o FE abriu uma investigação em 2018, depois de receber um aviso de um informador, tendo emitido, em agosto de 2020, duras críticas às práticas dos serviços de informações de Copenhaga.

Entretanto, o Governo francês disse que vai verificar se altos funcionários de Paris foram também alvo de espionagem norte-americana com a suposta colaboração da Dinamarca, considerando "extremamente grave" caso as informações se confirmem.

 

 

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