O Papa emérito Bento XVI publicou um documento de 18 páginas com reflexões sobre os abusos sexuais na Igreja Católica, argumentando que a sua origem está na revolução sexual que marcou a década de 1960.
O texto, intitulado “A Igreja e o abuso sexual”, apresenta fundamentos teológicos para enfrentar um dos “momentos mais complicados” da Igreja Católica.
O antecessor de Francisco vai para além da esfera eclesiástica nas suas reflexões e atribui a origem dos abusos sexuais na Igreja ao “colapso moral” da sociedade, que ocorreu com a revolução sexual dos anos sessenta.
Bento XVI denuncia ainda no documento uma justiça que durante anos foi baseada em garantias a padres pedófilos, em que “a pedofilia foi declarada como admissível e apropriada”.
Contudo, de acordo com o autor do texto, o Papa João Paulo II decidiu entregar os crimes de pedofilia à Congregação para a Doutrina da Fé, que Ratzinger dirigia, tornando possível “impor a pena máxima, isto é, a expulsão do estado clerical, que não poderia ter sido imposta sob outras disposições legais”.
Antes de publicar o documento, o Papa emérito, que renunciou ao pontificado em fevereiro de 2013, afirma ter contactado o Papa Francisco e o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin.
“Ausência de Deus”
O texto de 18 páginas está dividido em três partes. Bento XVI começa por analisar o contexto histórico dos anos sessenta e situa a origem do flagelo de abusos na revolução de maio de 1968, e no consequente “colapso dos padrões da sociedade”.
Refere também que a “total liberdade sexual” que a revolução reivindicou deu origem a este “colapso”. Segundo Ratzinger, diante da alteração dos padrões da sociedade, a teologia moral católica também foi afetada e a Igreja ficou “indefesa”.
Na segunda parte do trabalho, refere-se ao impacto de uma certa decadência moral dos sacerdotes da época. Por último, lança uma proposta para enfrentar a situação. No entanto, o texto não fornece orientações sobre como erradicar os abusos de menores dentro da Igreja e conclui que a pedofilia atingiu estas proporções diante da “ausência de Deus”.