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Benjamin Netanyahu admite ter dado luz verde ao ataque de pagers contra o Hezbollah

por Graça Andrade Ramos - RTP
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel Reuters - arquivo

O primeiro-ministro de Israel reconheceu pela primeira vez este domingo ter autorizado o ataque com pagers contra a milícia xiita libanesa, em setembro, que deu o tiro de partida ao agravamento do conflito com o Hezbollah.

Segundo Omer Dostri, porta-voz de Benjamin Netanyahu, a admissão do líder do Governo israelita ocorreu durante a reunião do seu Conselho de Ministros. Não houve, contudo, qualquer comunicado oficial.

Noutra nota surpreendente, o novo ministro da Defesa, Israel Katz, reivindicou a derrota do Hezbollah no "campo de batalha", considerando como "momento culminante" desta a morte de Nassan Nasrallah, o líder da milícia xiita. Katz é velho aliado do primeiro-ministro, e substituiu Yoav Gallant, forte crítico de Benjamin Netanyahu. O afastamento de Gallant provocou enormes protestos em Israel.


"Os golpes que infligimos derrotaram o Hezbollah e a eliminação de Nasrallah foi a jóia da coroa", afirmou Katz este domingo, na cerimónia de passagem da sua anterior pasta, dos Negócios Estrangeiros, ao seu sucessor, Gideon Sa'ar.

Pouco antes da cerimónia, o Hezbollah lançou uma vaga de 15 morteiros contra a Galileia, Metula e outras áreas do norte de Israel.

Katz afirmou que a tarefa, agora, é "alterar a realidade securitária no norte" e evitar que o Irão consiga adquirir armas nucleares, além de impedir que o Hamas intervenha em qualquer futura reconstrução de Gaza.
Ataque simultâneo

Os bombardeamentos de Israel a posições do Hezbollah no Líbano duram há quase dois meses, depois de um ano de ataques do Hezbollah com artilharia e drones contra Israel. A milícia xiita rompeu as tréguas, que duravam desde 2006, a 8 de outubro de 2023, numa forma de apoio ao grupo islamita palestiano de Gaza, o Hamas.
De acordo com o balanço do Ministério libanês da Saúde, este domingo, as operações militares causaram pelo menos 3.186 mortos e 14.078 feridos desde outubro, a maioria civis.
Ao longo do último ano, a população do norte de Israel foi forçada a fugir para não ser vítima das ações da milícia xiita. Telavive acusou o Hezbollah de estar a preparar uma invasão semelhante à desencadeada pelo Hamas a 7 de outubro de 2023.

As hostilidades degeneraram em guerra aberta após uma ação sem precedentes por parte de Israel: a detonação simultânea, acionada à distância, dos dispositivos eletrónicos de comunicação usados pelos combatentes xiitas, no Líbano e na Síria.

Às explosões dos pagers ocorridas dia 17 de setembro, seguiu-se, um dia depois, uma onda de detonações dos walkie-talkies usados pelos combatentes do Hezbollah, ações que afetaram seriamente a capacidade de comunicação entre os elementos da milícia xiita.

Os ataques incapacitaram também milhares de operacionais do Hezbollah, devido a ferimentos graves nas mãos, no rosto e nos membros inferiores. Familiares, incluindo crianças, foram igualmente atingidos.

De acordo com as autoridades libanesas, as explosões dos pagers e dos walkie-talkies, assim como de painéis solares em locais atribuídos ao Hezbollah, fizeram 39 mortos e quase três mil feridos.

A 23 de setembro, Israel iniciou uma série de bombardeamentos aéreos intensos contra os bastiões da milícia xiita, a que se juntou, uma semana depois, a ofensiva terrestre.
Condenação
A operação dos dispositivos eletrónicos foi atribuída à Mossad, a agência israelita de serviços secretos, sem qualquer confirmação oficial.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos pediu a 21 de setembro uma investigação "independente, completa e transparente".

"O direito internacional humanitário proíbe o uso de dispositivos de armadilha na forma de objetos portáteis aparentemente inofensivos que são especificamente projetados e construídos para conter material explosivo", disse Volker Turk perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas, invocando um "crime de guerra" com intenção de "espalhar o terror entre civis". Turk exigiu a responsabilização de quem "ordenou e executou" esses ataques. Netanyahu admitiu perante o seu executivo, este domingo, a responsabilidade pela ordem.

Israel tem procurado apoios na região e este domingo apelou às populações curdas e druzas do Médio Oriente, para lutarem pela sua independência no Médrio Oriente, sobretudo na Síria e no Líbano.

Gideon Sa'ar, o novo ministro dos Negócios Estrangeiros, afirmou na sua tomada de posse este domingo, que as minorias regionais têm de se unir. 

"As comunidade curdas são uma grande nação, uma das grandes nações que não têm independência política. São o nosso aliado natural", afirmou. Sa'ar referiu-se aos curdos como as vítimas da opressão iraniana e turca, considerando que Israel "tem de se aproximar deles e reforçar os nossos laços com eles".

"Isto tem aspetos tanto políticos como securitários", acrescentou.

Durante a sua recente guerra contra o Hezbollah, Israel exortou várias vezes a população libanesa não xiita a revoltar-se contra a hegemonia da milícia apadrinhada pelo Irão na vida do país.
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