Benazir Bhutto morreu em atentado suicida

por Carlos Santos Neves, RTP
Benazir Bhutto fotografada durante uma conferência de imprensa a 16 de Novembro Rahat Dar, EPA

A antiga primeira-ministra paquistanesa Benazir Bhutto morreu na sequência de um atentado suicida perpetrado na cidade de Rawalpindi. O ataque foi levado a cabo após um comício da formação política de Bhutto, o Partido do Povo Paquistanês (PPP).

A principal figura da Oposição ao regime de Pervez Musharraf ainda foi transportada com vida para o hospital de Rawalpindi, mas acabou por sucumbir aos ferimentos.

Um conselheiro de segurança do PPP adiantou que Benazir Bhutto foi atingida a tiro no pescoço e no peito quanto se preparava para entrar num automóvel.

"Pedimos repetidamente ao governo que providenciasse segurança adequada e equipamento adequado, mas não deram atenção aos nossos pedidos", afirmou o conselheiro de segurança do partido de Bhutto, Reham Malik.

Por sua vez, o porta-voz do Ministério do Interior, Javed Chreema, indicou que a líder do PPP morreu na sequência de ferimentos causados por estilhaços de bomba.

Segundo fonte da polícia, citada pela agência Reuters, o autor do atentado terá disparado contra o automóvel que transportava a líder da Oposição antes de detonar uma carga explosiva.

A explosão, ocorrida à saída de um comício de campanha eleitoral do PPP em Rawalpindi, cidade vizinha da capital Islamabad, fez pelo menos 16 vítimas mortais.

O ataque que hoje decapitou a principal força política de oposição ao regime é o mais recente de um conjunto de atentados suicidas sem precedentes na história do Paquistão.

A própria Bhutto e a comitiva do Partido do Povo Paquistanês haviam já sido o alvo de um dos atentados mais mortíferos. A 18 de Outubro, dois bombistas suicidas mataram 139 pessoas que participavam numa marcha de apoiantes do PPP em Karachi, a maior cidade do Sul do país. Centenas de pessoas celebravam, então, o regresso de Benazir Bhutto ao Paquistão, ao cabo de seis anos de exílio.

Na esteira do duplo atentado de 18 de Outubro, a líder do PPP acusou "altos responsáveis" conotados com as mais altas esferas do regime de Pervez Musharraf - ou com os serviços secretos paquistaneses - de pretenderem eliminá-la. Uma acusação rejeitada pelo Governo de Islamabad, que se desdobrou em alertas para a possibilidade de Benazir Bhutto voltar a ser alvo de ataques preparados por fundamentalistas islâmicos.

Foi aliás com base no argumento da ameaça do terrorismo que o general Pervez Musharraf instaurou, a 3 de Novembro, o estado de emergência no Paquistão. Poucas semanas depois, Bhutto cumpriria três dias de prisão domiciliária em Lahore, uma medida que deixou a cúpula do regime debaixo de uma intensa pressão diplomática da comunidade internacional.

De potencial aliada a figura de proa da Oposição

Benazir Bhutto regressou ao seu país em Outubro com uma agenda de aproximação a Pervez Musharraf. Mas as negociações entre a líder do PPP e o Presidente para um acordo de partilha de poder, tendo em vista as eleições legislativas e provinciais previstas para o início de Janeiro, redundariam num impasse e a antiga primeira-ministra acabaria por inverter o rumo, esforçando-se - sem resultados assinaláveis - por federar as forças da Oposição.

Foi no quadro das negociações com Musharraf que o regime amnistiou Bhutto dos processos por corrupção que a haviam votado ao exílio - a líder do PPP chefiou por duas vezes o Governo paquistanês, de 1988 a 1990 e de 1993 a 1996; ambos os mandatos foram ceifados por acusações de corrupção e "má gestão".

Sob a sombra do estado de emergência, a clivagem entre Musharraf e Bhutto acentuou-se. Depois de reformular a colectivo de juízes do Supremo Tribunal, o general Pervez Musharraf obteve da mais alta instância judicial do país a validação da expressiva vitória obtida no sufrágio presidencial indirecto (Parlamento e assembleias provinciais) de 6 de Outubro. E o levantamento do regime de excepção só seria anunciado a 29 de Novembro, na esteira da cerimónia de investidura de Musharraf para um segundo mandato de cinco anos na Presidência do Paquistão, agora como Chefe de Estado "sem farda".

Musharraf prometia, então, envidar todos os esforços para garantir a segurança da campanha eleitoral das legislativas.

Em campanha pelo PPP, Benazir Bhutto vinha somando aos ataques contra o Presidente a promessa de dureza no combate ao fundamentalismo islâmico. "Eliminar a ameaça islamista" era um dos objectivos declarados da antiga primeira-ministra.
PUB