Bélgica abriu voto aos adolescentes mas extrema-direita pode capitalizar

por Lusa

A Bélgica decidiu em novembro do ano passado diminuir para os 16 anos a idade mínima para votar, a pensar nas eleições europeias de 2024, mas pode ser a extrema-direita a captar este aumento do universo eleitoral.

Nas eleições para o Parlamento Europeu (PE), a tendência é para a participação ser mais reduzida entre os jovens, nomeadamente entre os 18 e os 25 anos.

Em maio de 2023, a Bélgica anunciou que iria baixar a idade mínima para participar no sufrágio, numa tentativa de incentivar o envolvimento dos adolescentes com 16 e 17 anos nas questões europeias e, talvez, também a participação cívica e política.

Mas a possibilidade de participar nestas eleições, que no domingo coincidem com as eleições legislativas na Bélgica esteve envolta em alguma polémica.

Na Bélgica votar é obrigatório para adultos, mas uns meses depois de anunciada a decisão de alargar o voto a adolescentes com pelo menos 16 anos - que aumentaria o universo de eleitores naquele país em 270.000 - o Tribunal Constitucional decidiu que não era admissível e "razoavelmente justificável" obrigar os jovens desta faixa etária a votar.

A decisão foi contestada por um cidadão que exigia equidade no processo eleitoral, e em março deste ano o Tribunal Constitucional contrariou a sua própria decisão anterior para repor a obrigatoriedade do voto.

Por isso, os cerca de 270.000 novos eleitores terão de votar obrigatoriamente nestas eleições.

A inclusão automática dos jovens com 16 e 17 anos nos cadernos eleitorais também os sujeita a coimas na eventualidade de faltarem ao sufrágio sem uma justificação.

Se em Portugal, Espanha, Países Baixos e outros países europeus até um quarto do eleitorado jovem votou em partidos de extrema-direita, os dados disponíveis apontam para uma tendência semelhante na Bélgica, atingindo já os adolescentes. 

Perante esta tendência, o Vlaams Belang, partido de extrema-direita belga originário da região da Flandres, tem investido nas redes sociais para tentar captar eleitores. De acordo com as sondagens agregadas, 24% dos eleitores jovens que vão votar pela primeira vez admitem votar neste partido.

No YouTube, a maior plataforma digital para visualizar vídeos e uma das que agrega mais jovens, o Vlaams Belang divulgou vários anúncios direcionados aos jovens, incluindo um mostrando passo a passo como devem fazer para escolher o partido, verificou a Lusa. 

Na Meta Ad Library, uma plataforma que contabiliza os anúncios divulgados nas redes sociais da Meta, é possível verificar que desde o início de fevereiro o partido de extrema-direita da Flandres investiu mais de 300.000 euros em publicidade no Facebook e no Instagram, a maior parte endereçada à população mais jovem.

Num dos anúncios, o partido promete "acabar com toda esta multiculturalidade" e "restabelecer a ordem".

De acordo com uma análise feita pelo SamPol, uma publicação da Fundação Gerrit Kreveld, nas intenções de votos dos eleitores da Geração Z (nascidos entre a segunda metade da década de 1990 e 2010), 31,8% dos eleitores masculinos belgas nesta faixa etária têm como principal interesse as políticas anti-imigração.

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