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"Bazuca" no Conselho Europeu. Ibéricos defendem planos de 1,5 biliões

por Mário Aleixo, Carlos Santos Neves - RTP
Pedro Sánchez e António Costa fotografados a 22 de março do ano passado durante uma reunião do Conselho Europeu em Bruxelas John Thys - Reuters

Os líderes europeus reúnem-se esta quinta-feira, por videoconferência coordenada a partir de Bruxelas, para discutir a resposta ao terramoto da pandemia da Covid-19 na economia da União. O primeiro-ministro, António Costa, já deixou clara a vontade de ver adotado um plano com “uma magnitude” de um bilião a 1,5 biliões de euros – uma “bazuca”, nas suas palavras. E é precisamente este o valor defendido pelo homólogo espanhol, Pedro Sánchez.

É uma tarefa longe de ser pacífica. Os chefes de Estado e de governo dos 27 procuram um consenso sobre as formas de financiar as economias dos países abalados pela pandemia do novo coronavírus.

Espera-se que, nesta reunião por videoconferência, seja dada luz verde, no mínimo, ao pacote de medidas de emergência negociado no Eurogrupo, que ascende a 500 mil milhões de euros.
A parte controversa da discussão prende-se com os modelos de financiamento e de distribuição de verbas do fundo para a recuperação da economia.

Este plano é composto por uma linha de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade, que pode emprestar um montante equivalente a dois por cento do PIB, para despesas relacionadas com o combate à Covid-19. Tem outra vertente que consiste num fundo de garantia do Banco Europeu de Investimento, dirigido às empresas em dificuldades, e uma medida que visa proteger postos de trabalho, que a Comissão Europeia designou como programa Sure.

Entre as propostas sobre a mesa estão as coronabonds, embora se preveja um caminho áspero para ultrapassar as divergências que Mário Centeno registou durante as maratonas do Eurogrupo, no seio do qual “alguns Estados membros expressaram a opinião de que isso deve ser alcançado através da emissão de dívida comum”, mas outros “disseram que deveriam ser encontradas formas alternativas”.
Duarte Valente, Pedro Escoto - RTP

Há cerca de uma semana, o Parlamento Europeu aprovou outra proposta, em que pede à Comissão Europeia que proponha “um pacote em massa de recuperação e reconstrução” para a economia europeia, além das medidas como a emissão de títulos de dívida comum, que os eurodeputados designaram como recovery bonds.

Mas é de Espanha, país largamente secundado por Portugal neste capítulo da diplomacia europeia, que parte a posição tida como mais sólida.

O Governo de Pedro Sánchez leva para a mesa desta cimeira a ambiciosa proposta da criação de um fundo de reconstrução dotado de até 1,5 biliões de euros e financiado com dívida perpétua - a distribuir em transferências entre os Estados-membros mais atingidos pelos efeitos da pandemia.

A imprensa espanhola escreve esta quinta-feira que esta proposta estará a ser bem recebida.
“Uma bazuca”
Já António Costa emprega mesmo a expressão “bazuca” para descrever o plano de resgate das economias europeias que defenderá na reunião desta quinta-feira.

“O plano de recuperação terá de possuir uma magnitude entre um bilião e 1,5 biliões de euros. Para termos uma bazuca com esta dimensão, é necessário que a União Europeia mobilize recursos”, propugnou o primeiro-ministro, entrevistado para o podcast do PS “Política com Palavra”.

Para financiar um tal plano de recuperação, sustentou em seguida Costa, “é necessário proceder à emissão de dívida por parte da União Europeia”.

“As propostas da Comissão Europeia de emissão de dívida para a criação de um fundo de recuperação e a integração desse fundo de recuperação no Quadro Financeiro Plurianual (QFP) parecem-me particularmente inteligentes, porque desbloqueiam as negociações do QFP e dotam a União Europeia de um programa de recuperação”, propugnou.

No entender do primeiro-ministro português, “tem de haver emissão de dívida por parte da União Europeia, porque beneficia de melhores condições de mercado do que cada um dos Estados-membros individualmente”.

Perante um cenário de desacordo entre os chefes de Estado e de Governo da União Europeia, António Costa deixou um aviso, considerando estar "em causa a fragmentação e o empobrecimento do mercado interno".

“É fundamental que países em dificuldades como a Itália recuperem, mas também que países como a Holanda (dos maiores beneficiários do mercado interno) tenham esse mercado interno novamente a funcionar”, argumentou.

A União Europeia, admitiu o chefe do Executivo, pode ser apenas uma união aduaneira ou um mercado interno. "Mas se quer ser mesmo uma união política então tem de ser capaz de responder em conjunto a um desafio desta dimensão”, uma vez que “a fatura económica e social desta crise é brutal”.
Alemanha de mãos largas... por agora
Por sua vez, a chanceler alemã veio entretanto avançar que o seu Governo está disposto a reforçar, embora temporariamente, o orçamento europeu, tendo em vista ajudar os países-membros cujas economias foram mais atingidas pela pandemia.

“A Alemanha está disposta, no espírito de solidariedade e de forma temporária, a fazer contribuições claramente mais elevadas no quadro do orçamento comunitário”, clamou Angela Merkel no Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento alemão.

A governante reafirmou, todavia, que emitir dívida europeia, sob a forma de coronabonds, ditaria uma reforma dos tratados comunitários, que exigiria a ratificação pelos parlamentos nacionais.

Merkel defende, por essa razão, “instrumentos rápidos”.
E a Comissão Europeia?
O Executivo comunitário deverá avançar com um plano que pretende mobilizar 1,6 biliões de euros - de uma forma mista, que combinaria uma parte de subvenções, com empréstimos reembolsáveis.

Espera-se que a Comissão seja encarregue de, “em primeiro lugar, analisar as necessidades, e depois apresente os instrumentos necessários para providenciar os recursos suficientes, para fazer face a essas necessidades”, segundo fontes europeias citadas pelas agências internacionais.

O trabalho será a partir desta quinta-feira confiado à Comissão Europeia, que deverá apresentar propostas “tão depressa quanto possível”.

c/ agências
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