Barreira de Coral em perigo. Austrália tenta atenuar política da UNESCO contra alterações climáticas

por RTP
O aquecimento da temperatura das águas do mar, devido à subida de temperaturas, provocou alterações na cor do maior sistema de recifes de coral do mundo Reuters

O governo australiano está a tentar interromper um processo que pode colocar a Grande Barreira de Coral numa lista do património mundial em perigo. Para isso, pediu uma nova política de alterações climáticas mas suscitou críticas de 12 países e tornou impossível o acordo dos mais de 190 Estados-membros da UNESCO.

Na assembleia geral da Convenção do Património Mundial da UNESCO, que decorreu na semana passada em Paris, o vice-secretário australiano do Meio Ambiente exigiu uma nova política para as alterações climáticas, que não é modificada desde a sua adoção em 2007. James Larsen disse recear que os locais incluídos ficassem para sempre na lista do património mundial em perigo.

O representante da Austrália questionou em particular como poderá um local sair da lista de perigo "se os perigos em questão são desenvolvimentos globais que exigem soluções globais?

“Devemos aceitar um futuro em que uma grande parte do património [natural] pode ficar permanentemente na 'lista de perigo', sem o Estado que é parte na questão poder propor nenhuma resolução [sobre isso]?”, disse.

Devido ao grande número de mudanças propostas pela Austrália, os Estados-membros não chegaram a acordo sobre a nova política para as alterações climáticas e concordaram em criar um grupo de trabalho.

Depois, e com o apoio do Japão e da Polónia, a Austrália pediu “que se evitassem decisões que, de outra forma, impediriam os resultados” dessas deliberações.

A representante da Noruega, Eva Hauge Fontaine, notou que a proposta iria suspender o processo de inclusão de sítios na lista de "em perigo" do património mundial.

À Noruega, que considerou “altamente impróprio” o pedido da Austrália, juntaram-se a Palestina, Irão, China, França, Rússia, Suécia, Alemanha, República Checa, Finlândia, Tailândia e Bélgica.

Apesar das garantias da Austrália de que o parágrafo não impediria os locais de integrarem a lista de perigo, os 12 países pressionaram para a retirada da proposta, o que veio a acontecer.

Movimentações de bastidores

Em junho, a UNESCO propôs incluir a Grande Barreira de Coral na lista de património mundial em risco. Seria a primeira vez que um local considerado Património Mundial Natural iria integrar a lista de risco por causa do impacto das alterações climáticas.

No início de novembro, a Austrália estava a movimentar-se contra a secção de novas políticas climáticas que pediam aos países para adoptar medidas que contivessem o aquecimento global 1,5 C acima do nível pré-industrial. Camberra advogava uma linguagem “mais genérica”, refere o jornal britânico The Guardian.

As movimentações do executivo de Scott Morrison levaram a que a decisão sobre a inclusão na lista de perigo fosse adiada para a decisão que será tomada na Rússia em meados de 2022.

No entanto, e desde Junho, a Unesco descobriu que cerca de um terço dos locais listados pela sua importância natural estão a sentir os efeitos do aquecimento climático, como o aumento das temperaturas, o nível do mar e eventos climáticos extremos.

Minar as políticas de alterações climáticas

O governo de Morrison tentou enfraquecer a política de alterações climáticas da UNESCO, para garantir que não fosse necessário tomar medidas [sobre as mudanças climáticas] para proteger a Grande Barreira de Coral. Falhou”, observou Imogen Zethoven, conselheira a Sociedade Australiana de Conservação Marítima.

“O fracasso das emendas do governo Morrison na assembleia geral significa que a Comissão do Património Mundial pode pedir uma atuação climática ambiciosa da parte da Austrália em linha com os 1,5ºC para ajudar a proteger o futuro do recife. O governo estava tentando garantir que isso não acontecesse ”, acrescentou.
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