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Barão da droga detido no México após batalha violenta deportado para os EUA

por Graça Andrade Ramos - RTP
Veículos em chamas bloquearam vários cruzamentos durante a batalha em Nuevo Laredo, México, para capturar o líder do Cartel do Nordeste, Juan Gerardo Treviño Reuters

A captura de Juan Gerardo Treviño foi considerada "uma das mais importantes da última década" pelo Governo mexicano. O barão da droga, acusado de múltiplos crimes incluindo extorsão e assassínio, foi detido segunda-feira de manhã em Nueva Laredo no estado de Tamaulipas, um dos mais violentos do México.

Juan Gerardo Treviño, conhecido como El Huevo, o Ovo, tem cidadania norte-americana por ter nascido nos Estados Unidos e é herdeiro direto dos líderes do Los Zetas.

É acusado de liderar o Cartel do Nordeste, uma organização criminosa poderosa, a par de um gang fortemente armado, conhecido como Tropas do Inferno, composto por antigos membros Zetas.

A captura e uma possível tentativa de libertação coincidiram com uma autêntica batalha em Nuevo Laredo, cidade gémea da texana Laredo do outro lado da fronteira, entre os membros do Cartel do Nordeste munidos de explosivos e de armas de grande calibre e as forças militares mexicanas.  Mais de 700 soldados e quatro helicópteros foram necessários para controlar os combates. De acordo com o Ministério da Defesa mexicano o cartel atacou mais de 38 edifícios governamentais e 22 sedes militares.

Vídeos gravados na ocasião e publicados nas redes sociais mostraram grandes carrinhas em chamas a bloquear cruzamentos e estradas.

O consulado norte-americano da cidade, um dos principais pontos de entrada de emigrantes nos Estados Unidos, foi igualmente alvo de ataque e teve de encerrar temporariamente. Diversas pontes internacionais entre território mexicano e norte-americanos foram igualmente encerradas devido à revolta.

O estado mexicano de Tamaulipas é célebre pelos assassínios violentos e desaparecimentos, normalmente ligados a lutas entre cartéis pelo controlo do território.
Deportado para os EUA
Juan Gerardo Treviño estava numa lista de “mais procurados” e há poucos dias as autoridades de Tamaulipas tinham colocado a sua cabeça a prémio dando 100 mil dólares pela sua captura. A detenção de um dos líderes de cartel mais conhecidos do país foi descrita à CB Televisión pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do México, Marcelo Ebrad, como “uma das mais importantes da última década”.

El Huevo foi deportado esta terça-feira, tendo sido primeiro transferido de helicoptero para Piedras Negras, em Coahuila. Dali seguiu num avião militar para Ciudad de Mexico, onde foi presente à FEMDO, Fiscalía Especializada en Materia de Delincuencia Organizada.

Foi depois escoltado até Tijuana, perto da costa ocidental do México, onde foi entregue a agentes norte-americanos do FBI que o transportaram para San António, na Califórnia.

O juiz distrital Jason Pullman instaurou terça-feira à tarde um processo de acusação a Juan Gerardo Treviño por 11 crimes de tráfico de droga [marijuana, cocaína and metanfetaminas] com auxílio de armas [incluindo metralhadoras] e por lavagem de dinheiro.

A detenção de El Huevo coincidiu com a visita de uma delegação dos Estados Unidos ao México, onde se incluía o ministro para a Segurança Interna Alejandro Mayorkas, cujo gabinete realizou as investigações que levaram ao processo agora aberto em San António.

No México Juan Gerardo é suspeito de assassínio, de terrorismo, de extorsão e de associação criminosa. A sua rápida deportação para os EUA tentou evitar tentativas de libertação semelhantes a outras que já permitiram a fuga de outros condenados por crimes graves.
Herdeiro do Los Zetas
O acusado barão da droga terá ainda ligações a vários grupos de criminosos espalhados pelo México.

Dois dos seus tios, Miguel Ángel Treviño Morales e o seu irmão Óscar Omar, foram líderes do Los Zetas, um dos mais infames cartéis do México responsável por reprimir violentamente qualquer resistência. O gang começou por ser o braço armado do Cartel Mexicano do Golfo antes de assumir parte do negócio. Os seus membros torturavam e decapitavam as suas vítimas, pendurando depois os corpos em viadutos ou expondo-os em praças públicas no México.

Miguel Ángel Treviño Morales, o quarenta ou Z-40, era o líder principal da organização até ser detido em 2013, sendo conhecido por torturar e matar os seus rivais ou quem o contrariava enfiando-os em guisos, barris de petróleo que eram depois ateados.

Óscar Omar tinha o número Z-42 e assumiu o comando do Los Zetas até 2015, quando foi ele próprio detido.

Miguel Ángel e Óscar Omar estão ambos presos no México com o primeiro em prisão perpétua após ter sido considerado culpado de orquestrar massacres em San Fernando, Tamaulipas, e em Allende, Coahuila, e de traficar drogas à escala global.

Após a captura de Óscar Omar o cartel dispersou-se e dividiu-se em vários grupos, incluindo o Cartel do Nordeste e o Velha Guarda. O gang Tropas do Inferno é composto maioritariamente por ex-membros Los Zetas.

A captura e detenção de Juan Gerardo deixa agora vaga a liderança do Cartel do Nordeste e poderá desencadear uma luta pelo seu controlo e pelas áreas que domina.

Juan Gerardo era aliado do Cartel dos Beltrán Leyva, para evitar que o cartel rival Jalisco Nueva Generación (CJNG) entrasse em Tamaulipas.

O Cartel do Nordeste tem estado ainda em luta pelo controlo de áreas chave ao longo da costa mexicana do noredeste, incluindo a fronteira com o Texas, tanto com a  a Velha Guarda como com o Cartel do Golfo.
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