Aviso de Mueller. EUA não estão preparados para nova interferência russa nas eleições

por Joana Raposo Santos - RTP
Agora com 80 anos, Robert Mueller foi diretor do FBI entre 2001 e 2013. Jewel Samad - AFP

Robert Mueller, responsável pela investigação à interferência russa nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016, avisa agora que os Estados Unidos continuam a não estar preparados para ataques de Moscovo, que considera inevitáveis nas eleições que se aproximam.

“É evidente que os americanos não aprenderam as lições do ataque russo à nossa democracia em 2016”, escreve Mueller, ex-diretor do FBI, no prefácio do livro Interference: The Inside Story of Trump, Russia and the Mueller Investigation, da autoria de três procuradores que trabalharam consigo entre 2017 e 2019.

“Como explicámos detalhadamente no nosso relatório, as provas eram claras de como o Governo russo se envolveu em múltiplos e sistemáticos ataques destinados a minar a nossa democracia e a favorecer um candidato em detrimento do outro”, acrescenta.

Na altura, esse candidato favorecido era Donald Trump, que acabou por vencer a rival democrata Hillary Clinton na corrida à Casa Branca.

“Não estávamos preparados na altura e, apesar dos muitos esforços de pessoas dedicadas por todo o Governo, não estamos preparados agora. Esta ameaça merece a atenção de todos os americanos. A Rússia atacou-nos antes e vai fazê-lo novamente”, alerta Mueller no livro, ao qual o Guardian teve acesso.
Obstrução da justiça
Agora com 80 anos, Robert Mueller foi diretor do FBI entre 2001 e 2013. Mais tarde, em 2017, foi nomeado procurador especial pelo Departamento de Justiça dos EUA para conduzir a investigação sobre a interferência russa nas eleições presidenciais de 2016 e possíveis ligações entre a campanha de Donald Trump e o Governo russo.

Durante a sua investigação, o procurador não estabeleceu a existência de conluio entre Trump e Moscovo, mas deu início a processos criminais contra três entidades russas e 34 pessoas, entre as quais o diretor da campanha de Trump, Paul Manafort, que acabou por ser detido.

Além disso, Mueller apresentou dez casos de possível obstrução da justiça por parte do então presidente Trump.

No livro Interference, que será lançado nos EUA na próxima semana, os procuradores Aaron Zebley, James Quarles e Andrew Goldstein contam como a equipa de Robert Mueller chegou à conclusão de que a Rússia apoiou Trump em 2016.

Os três homens detalham as tentativas de entrevistar Trump que foram bloqueadas pelos seus advogados, entre os quais Rudy Giuliani. Agora, Giuliani enfrenta acusações criminais por ter alegadamente tentado anular a derrota de Donald Trump em 2020.
Supremo Tribunal posto em causa
O livro refere também como, em 2017, Trump convocou Mueller à Casa Branca para lhe pedir que voltasse a ser diretor do FBI, mas este recusou. O ex-presidente viria depois a alegar que foi Mueller quem lhe pediu para regressar à liderança do Departamento Federal de Investigação e que foi Trump quem lhe recusou o pedido. “Isto é falso”, garantem os procuradores.

Os autores manifestam ainda a sua consternação em relação ao Supremo Tribunal dos EUA, para o qual Trump nomeou três juízes conservadores e que, este ano, pôs duas vezes em causa os processos penais em que o ex-presidente está envolvido.

Segundo Mueller, os seus antigos procuradors Zebley, Quarles e Goldstein “preocupam-se profundamente com o Estado de Direito e sabem a importância de tomar decisões com integridade e humildade”.

“Estas qualidades são ainda mais importantes quando alguns se recusam a cumprir as regras e outros vos pedem que respondam da mesma forma”, acrescenta no prefácio do livro.
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