Autarca de Quelimane admite concorrer à liderança da Renamo

por Lusa

O presidente da câmara municipal de Quelimane, em Moçambique, admitiu hoje candidatar-se à liderança da Renamo a tempo de disputar as eleições presidenciais de 2024, defendendo que o partido deve ser muito mais atuante.

"Eu não me vejo como presidente da Renamo, mas se houver vontade que assim seja, bom... quando a pátria nos chama nós nunca devemos dizer não", disse Manuel de Araújo, em entrevista à Lusa, quando questionado sobre se se vê como líder da Renamo.

"Se o desafio for esse, acho que a decisão, na devida altura, vai ser tomada, mas para já estou concentrado no município de Quelimane", acrescentou o autarca, depois de ter feito diversas críticas à falta de rumo do Governo e à apatia da oposição.

O autarca defendeu que "a oposição deve organizar-se e traçar estratégias para poder diariamente mostrar as falhas do sistema de governação, mas isso não é suficiente, é preciso apresentar ideias alternativas", vincando que "é aí que a oposição não tem sido muito atuante, deixa muito a desejar, e Moçambique precisa de uma oposição muito mais atuante" do que a que existe atualmente.

Na entrevista à Lusa em Carcavelos, nos arredores de Lisboa, à margem da participação na Conferência NOVAFRICA 2022 sobre Desenvolvimento Económico, Manuel de Araújo disse que "a oposição já devia ter começado a reorganizar-se há três anos" e lamentou: "Já se perderam três anos".

Para o autarca, o país assemelha-se a um barco à deriva no alto mar, em tempo de tempestade, e com um comandante que não sabe como lidar com a situação.

"Moçambique está no mar alto, em tempo de ciclone, e infelizmente o nosso chefe de Estado, que é o piloto desse barco, parece ter perdido a bússola, não sabe para onde o barco vai; quer salvar o barco, não lhe falta vontade, mas não sabe para onde ir; precisamos de uma governação alternativa, a Frelimo esgotou-se, está há quase 50 anos no poder, já não consegue renovar-se a si própria, são escândalos atrás de escândalos, o projeto de governação chegou ao fim, bateu na rocha", argumentou.

Entre os "escândalos" elencados, Manuel de Araújo destacou a distribuição de livros "com seis meses de atraso e com erros graves, como dizer que Moçambique faz fronteira com o Iraque", a situação de guerra em Cabo Delgado, que "se não fossem os ruandeses, a guerra já estava no vale do Zambeze", e o setor dos transportes: "o transporte de cabotagem não existe, as linhas aéreas estão falidas, a estrada nacional está tão esburacada que não se consegue andar... assim como está só iremos afundar-nos cada vez mais", concluiu.

Moçambique realiza no próximo ano, em outubro, eleições municipais, e em 2024 terá cinco eleições para eleger os administradores dos distritos, os governadores das províncias, as assembleias provinciais, a assembleia da república e o Presidente da República.

No início de maio, o porta-voz da Renamo, José Manteigas, acusou Manuel de Araújo de "mentiras e calúnias", depois de o autarca de Quelimane ter acusado membros da comissão política de o pressionarem para canalizar dinheiro da autarquia para o partido.

O autarca moçambicano assegurou entretanto, no final do mês, que mantém "relações excelentes e intactas" com a direção.

Manuel de Araújo é um dos nove presidentes de município eleitos pela oposição (oito pela Renamo, principal partido da oposição no país, um pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM)) face a 44 da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder desde a independência, em 1975.

Araújo é um dos autarcas com maior notoriedade em Moçambique e, após uma passagem pelo MDM, partido pelo qual presidiu ao município de Quelimane por duas vezes, voltou para a Renamo em 2018, quando venceu mais uma vez as eleições para aquela autarquia.

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