A extrema-direita austríaca do Partido da Liberdade austríaco (FPÖ, sigla em alemão) publicou, no domingo, um vídeo no canal Youtube que condena o que dizem ser a "substituição da população" e o "terror do arco-íris". Cenas apocalípticas ao som de uma música angustiante - com alusões a Hitler e a Salazar - estão a causar agitação no país, um ano antes das eleições legislativas em que o partido FPÖ se apresenta como potencial vencedor.
A secção juvenil do partido austríaco FPÖ publicou no domingo um vídeo de dois minutos e meio com imagens da catedral de Notre-Dame em Paris em chamas e de tumultos urbanos, contrastando com imagens de jovens com tochas nas mãos no campo, dançando em trajes tradicionais, e soldados de arma ao ombro.
O vídeo provocou numerosas reações de políticos e dos meios de comunicação social que se mostraram indignados com o que descreveram como “reminiscências nazis” no país onde nasceu Hitler.
Não é a primeira vez que o partido choca o país, mas os comentadores acreditam que este vídeo “é preocupante” e representa um passo mais além.
Na opinião do politólogo Peter Filzmaier, o vídeo marca uma escalada, com elementos “inquietantes e até assustadores” que comparam os jovens membros do partido ao movimento identitário radical.
"É uma reminiscência dos períodos mais sombrios da história austríaca", afirmou Peter Filzmaier à agência France Presse (AFP)."Somos a última oportunidade da Áustria"
A voz-off no vídeo - da "Freiheitliche Jugend" (Juventude Livre) - elogia “a pátria” e proclama “somos a última oportunidade da Áustria” contra uma “doutrina liberal-esquerdista” e uma “distopia multicultural”.
Face à polémica, o virulento líder do Partido da Liberdade austríaco (FPÖ), afirmou que não havia motivo para “escândalo” e defendeu o empenho “formidável” destes jovens.
Karl Nehammer, o antigo ministro do Interior, foi escolhido há dois anos para novo líder do Partido Popular Austríaco (ÖVP, sigla em alemão) e, consequentemente, chanceler do país. Depois de um período conturbado no governo, conseguiu reconquistar os eleitores após a derrota causada por um escândalo de corrupção em 2019.
De acordo com as sondagens, a ascensão da extrema-direita no país parece sólida e deverá liderar nas eleições de 2024, com cerca de 30 por cento das intenções de voto, à frente dos conservadores do ÖVP, atualmente no poder com os Verdes.
A varanda de Hitler e os escritos de Salazar
O vídeo contém uma série de referências às ideologias da extrema-direita que reafirmam através das imagens e do som a sua orientação.
Desde a famosa varanda do Palácio de Viena, de onde Hitler celebrou a anexação da Áustria pela Alemanha nazi, a 15 de março de 1938, às referências literárias de António Oliveira Salazar e dos autores franceses Alain de Benoist e Pierre Drieu la Rochelle.
O investigador do Centro de Documentação da Resistência Austríaca (DÖW), Bernhard Weidinger, constata "a acumulação de referências mais ou menos abertas às ideologias da extrema-direita, quer nos termos utilizados, quer nas referências teóricas".
De acordo com Weidinger, o partido da extrema-direita austríaco (FPÖ), "na antecâmara do poder, envia sinais às franjas mais extremas sem pestanejar" porque é através delas que beneficia há meses de “uma onda de popularidade” que lhe permitiu já formar coligações com os seus adversários políticos em três regiões austríacas.
"Neste contexto, o partido tem poucos incentivos para mudar a sua abordagem", afirmou o investigador, que constata que a sua estratégia é contrária à dos seus homólogos europeus.
Por exemplo o Rassemblement National (RN) francês, de Marine Le Pen, que tem feito um trabalho de “desdemonização” do partido para se afastar da imagem do Front National (FN), do antigo líder e seu pai, Jean-Marie Le Pen.
Segundo noticiam os meios de comunicação austríacos - também retratados como “inimigos” que devem ser destruídos - o vídeo foi analisado pelos serviços de informação nacionais (DSN) e comunicado à justiça.
A DSN avançou à AFP que "vigia indivíduos e grupos suscetíveis de se envolverem em atividades extremistas e anticonstitucionais", mas não pode dar qualquer informação sobre "possíveis investigações".
c/AFP
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