Subiu para quatro o número de vítimas mortais nos ataques que ocorreram em Viena na noite de segunda-feira. Há ainda registo de pelo menos 17 feridos, entre eles um jovem português, e duas detenções. A polícia está agora em busca de um outro suspeito. O Governo austríaco fala em "terrorismo islâmico", à medida que o Ministério do Interior revelou que um dos atacantes era simpatizante do Daesh.
O ministro do Interior, Karl Nehammer, anunciou esta manhã que o suspeito, morto a tiro pela polícia nove minutos após o ataque, era um jovem de 20 anos, com dupla nacionalidade austríaca e da Macedónia do Norte, que já tinha sido condenado no ano passado por terrorismo.
Segundo o governante, o agressor abatido pela polícia era Fejzulai Kujtim, um seguidor do Estado Islâmico que tinha sido condenado a prisão em 25 de abril de 2019 por tentar viajar para a Síria para se juntar ao grupo extremista. Acabou por ser colocado em liberdade condicional em dezembro do ano passado. O atacante já era conhecido pelos serviços de informação porque fazia parte da lista dos 90 austríacos islâmicos que queriam viajar para a Síria.
“Nós sofremos um ataque na noite passada de pelo menos um terrorista islâmico”, disse Nehammer aos jornalistas esta terça-feira. A polícia não descarta a possibilidade de haver mais pessoas implicadas no crime e já iniciaram as buscas para localizar um outro suspeito que estará em fuga.
O governo austríaco anunciou que foram feitas detenções relacionadas com este tiroteio e que estão também em curso buscas domiciliárias. A agência Reuters avança que duas pessoas foram detidas numa cidade próxima de Viena esta terça-feira.
O que se sabe do ataque?
O ataque, o primeiro em Viena em 35 anos, começou com um tiroteio por volta 20h00 de segunda-feira (19h00 em Lisboa) numa rua central onde fica a sinagoga principal de Viena, então fechada, próxima de uma área de bares muito frequentada.
Testemunhas descrevem multidões a serem alvejadas com armas automáticas e semiautomáticas de forma indiscriminada contra transeuntes e pessoas que se encontravam em bares enquanto aproveitavam a última noite antes de ser implementado um toque de recolher obrigatório, para prevenir a propagação da pandemia de Covid-19.
Depois do ataque inicial na rua onde fica a sinagoga, os agressores deslocaram-se pelo centro da cidade, disparando sobre quem ocupava as esplanadas. Centenas de pessoas refugiaram-se em bares e restaurantes, outras permaneceram no interior da Ópera de Viena, ou em salas de concerto como o Konzerthaus ou o Musikverein, durante horas, até saírem sob escolta policial. No total, seis locais foram alvo de ataques no centro de Viena.
Na manhã desta terça-feira, centenas de pessoas estavam ainda refugiadas nestes espaços, com grande parte do centro histórico da cidade isolado pela polícia durante a noite enquanto conduziam patrulhas as ruas. Os transportes públicos também foram encerrados durante a noite.
As autoridades montaram um enorme dispositivo de segurança para localizar pelo menos um terrorista que fugiu, com dezenas de agentes das forças especiais e especializadas em ações antiterroristas a participarem nos esforços de busca, que também inclui o controlo das fronteiras.
"Estou feliz que os nossos polícias já tenham eliminado um dos autores. Nunca seremos intimidados pelo terrorismo e lutaremos contra esses ataques com todos os meios", disse o chanceler austríaco, Sebastian Kurz, que classificou os atos de "ataques terroristas nojentos".
O chanceler disse serem desconhecidos os motivos dos ataques, considerando, no entanto, que motivos "antissemitas" não podem ser descartados, "pelo lugar onde o ataque começou".
O ministro austríaco do Interior confirmou que as autoridades estão a considerar os incidentes como um ataque terrorista. “A Áustria é uma democracia, moldada pela liberdade de expressão e tolerância no convívio”, disse Nehammer. “O ataque de ontem é um ataque a esses valores e uma tentativa inadequada de nos dividir. Não vamos tolerar isso. Haverá consequências”, concluiu. O último ataque em Viena ocorreu em 1985, quando o grupo palestiniano Abu Nidal matou três pessoas e feriu 39 no aeroporto da cidade.
O Governo austríaco alertou que a situação de perigo ainda não passou, e pediu aos cidadãos para não saírem de casa, a não ser que seja estritamente necessário. Embora as escolas fora do centro da cidade tenham sido reabertas na terça-feira, os pais foram incentivados a manter os filhos em cassa, se possível.
António Costa e PR condenam ataque
Vários líderes políticos de todo o mundo já reagiram ao ataque em Viena. O presidente norte-americano escreveu na sua conta do Twitter: “As nossas orações estão com o povo de Viena, depois de mais um abominável ato de terrorismo na Europa”.
Our prayers are with the people of Vienna after yet another vile act of terrorism in Europe. These evil attacks against innocent people must stop. The U.S. stands with Austria, France, and all of Europe in the fight against terrorists, including radical Islamic terrorists.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) November 3, 2020
“Estes ataques cruéis contra pessoas inocentes devem parar. Os EUA apoiam a Áustria, França e toda a Europa na luta contra os terroristas, incluindo radicais do Estado Islâmico”, acrescentou Donald Trump.
Em Portugal, António Costa deixou uma mensagem no Twitter, onde partilha “a angústia do povo austríaco diante do grave atentado terrorista ocorrido em Viena”. “A Europa mantém-se unida diante da ameaça do terrorismo e da violência motivada pelo ódio”, declara o primeiro-ministro.
Partilhamos a angústia do povo austríaco diante do grave atentado terrorista ocorrido em Viena. Ao Chanceler @sebastiankurz transmito a nossa solidariedade. A Europa mantém-se unida diante da ameaça do terrorismo e da violência motivada pelo ódio.
— António Costa (@antoniocostapm) November 3, 2020
Marcelo Rebelo de Sousa também deixou uma mensagem. Na página oficial da Presidência da República, é apresentada a mensagem “de condolências e repúdio do ataque em Viena” enviada por Marcelo ao Presidente da República da Áustria, Alexander Van der Bellen.
Num telegrama de condolências enviado ao Presidente e ao chanceler austríaco, o Presidente da Rússia garantiu que o seu país irá colaborar com a comunidade internacional na luta contra o terrorismo.
Na mensagem, Vladimir Putin condena o crime “cruel e cínico”, considerando que constitui mais uma confirmação “da essência desumana do terrorismo”. No entanto, sublinhou, “as forças do terror não serão capazes de intimidar ninguém ou semear discórdia e inimizade entre pessoas de diferentes religiões”.
O chefe do Kremlin reiterou ainda a disponibilidade da Rússia em “aumentar a interação com a Áustria e outros membros da comunidade internacional para lutar contra todas as formas e manifestações de terrorismo”.
Também a Turquia condenou esta terça-feira o ataque, expressando solidariedade “como um país que enfrenta várias formas de terrorismo há décadas”, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco, em comunicado.