Austrália deixa de reconhecer Jerusalém Ocidental como capital de Israel
O Governo da Austrália reverteu esta terça-feira a decisão do anterior executivo de reconhecer Jerusalém Ocidental como capital de Israel, defendendo que a situação do estatuto daquela cidade deve ser resolvida "por meio de negociações de paz entre Israel e o povo palestino". Israel criticou a decisão da Austrália e convocou com urgência o embaixador australiano para uma reunião. Já os palestinianos saudaram a reviravolta.
A ministra australiana dos Negócios Estrangeiros, Penny Wong, disse que a Austrália "sempre será uma amiga inabalável de Israel" e está comprometida “com uma solução de dois Estados na qual Israel e um futuro Estado palestino coexistam em paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas”.
"A questão do estatuto final de Jerusalém deve ser resolvida por meio de negociações de paz entre Israel e o povo palestino", disse a ministra em conferência de imprensa, esta terça-feira.Wong também sublinhou que o novo Governo, eleito em maio, após nove anos de executivo conservador, não pretende transferir para Jerusalém Ocidental a embaixada australiana, que irá manter-se em Telavive. O primeiro-ministro anterior, Scott Morrison, reverteu décadas de política no Médio Oriente em dezembro de 2018, anunciando que a Austrália iria reconhecer Jerusalém Ocidental como a capital de Israel, mas não transferiria a embaixada até que existisse um acordo de paz com a Palestina.
Wong disse a jornalistas que a decisão de Morrison "colocou a Austrália fora de sintonia com a maioria da comunidade internacional", e foi recebida com preocupação pela vizinha de maioria muçulmana, a Indonésia.
"Lamento que a decisão de Morrison de fazer política tenha resultado na mudança de posição da Austrália, e a angústia que essas mudanças causaram a muitas pessoas na comunidade australiana que se preocupam profundamente com essa questão", disse a ministra.
"Sei que isso causou conflitos e confusão no seio de parte da comunidade australiana, e hoje o Governo está a tentar resolver isso", disse Penny Wong.
Israel expressou "profunda deceção"
O Governo israelita expressou “profunda deceção” com a decisão da Austrália de deixar de reconhecer formalmente Jerusalém Ocidental como a capital de Israel e convocou com urgência o embaixador australiano para uma reunião.
"Jerusalém é a capital do povo judeu há três mil anos e continuará a ser a capital eterna e unida do Estado de Israel, independentemente desta ou daquela decisão", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel em comunicado.
O primeiro-ministro israelita, Yair Lapid, descreveu o anúncio executivo de Anthony Albanese, como "uma resposta precipitada à desinformação na imprensa".
"Só podemos desejar ao Governo australiano que lide com os seus outros assuntos com mais seriedade e profissionalismo", acrescentou Lapid em comunicado. "Jerusalém é a capital eterna e unida de Israel e nada vai mudar isso", sublinhou.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel convocou o embaixador australiano em Telavive, Paul Griffiths, para uma reunião que deverá decorrer ainda esta terça-feira.
Palestinianos saúdam “correção de um erro”
Por sua vez, os palestinianos aclamaram a decisão do executivo australiano, defendendo que é a "correção de um erro cometido pelo Governo anterior".
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana, Riyad al-Maliki, disse à Reuters que a Austrália deveria agora "passar para o passo mais importante, que é reconhecer o Estado da Palestina à luz do seu compromisso com a solução de dois Estados". A decisão de 2018 por parte do executivo australiano causou consternação na vizinha Indonésia - o país com o maior número de muçulmanos no mundo -, levando à suspensão temporária de um acordo de livre comércio com a Austrália.
Um ano antes, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tinha reconhecido também Jerusalém como a capital de Israel, rompendo com décadas de consenso internacional sobre a Cidade Santa, cuja parte oriental é ocupada por Israel desde 1967 e reivindicada pelos palestinianos como capital do seu Estado.
Esta decisão provocou mal-estar em Israel que, por seu lado, decidiu encerrar a sua representação em Assunção.