Atos anti-semitas aumentam na Europa. Medidas de segurança reforçadas na comunidade judaica
Cerca de 25 pessoas detidas em França, devido a mais de 400 atos anti-semitas registados esta semana, e a denúncia de Rishi Sunak, o primeiro-ministro do Reino Unido, do "aumento repugnante" dos ataques contra judeus no país, são apenas dois sintomas de uma tendência que se agravou em vários países europeus desde a resposta musculada de Israel aos ataques do Hamas no último sábado, 7 de outubro.
Reportagem do Telejornal na RTP1, 13 de outubro de 2023
Em França, o Partido dos Indígenas, organização política francesa residual que luta contra a discriminação de negros e de muçulmanos, provocou repúdio generalizado após classificar a "resistência palestiniana" como "heróica", quando começavam a ser divulgados os detalhes macabros dos massacres de centenas de israelitas junto à fronteira de Gaza, por militantes do Hamas.
Em Londres houve quem dançasse nas ruas e em Berlim e em Duisburg, na Alemanha, quem, de bandeira palestiniana sobre os ombros, distribuísse goluseimas e bolos a quem manifestava alegria pela ofensiva do Hamas. Em quatro dias, a polícia de Londres registou um aumento de atos anti-semitas, com um número de incidentes cinco vezes superior ao período homólogo de 2022.
Manifestações pró-palestinianas proibidas em FrançaAs tensões têm sido especialmente elevadas em França, que abriga a maior comunidade judaica europeia, ao lado da mais populosa comunidade muçulmana da Europa ocidental.
Numa atitude preventiva para garantir a ordem pública, o executivo de Emmanuel Macron interditou em todo o país a realização de manifestações pro-palestinianas. Um ajuntamento que tentou furar a proibição quinta-feira à noite em Paris, foi dispersado à força pela polícia.
A primeira-ministra Elizabeth Borne já anunciara terça-feira 10 de outubro que "não seriam permitidos atos de ódio contra os judeus" em França. O presidente reforçou a mensagem dia 12, dirigindo-se ao país para apelar à unidade de todos os franceses contra a cedência de "qualquer forma de ódio" e para "enviar uma poderosa mensagem de paz e de segurança para o Médio Oriente".
"Tentemos não somar divisões nacionais às divisões internacionais", pediu Macron, lembrando ainda que Paris apoia o direito de Israel à auto-defesa "com ataques certeiros que poupem a população civil". O conflito, sublinhou o presidente francês, não é entre Israel e a Palestina, mas entre "terroristas e um país com valores democráticos".
O ministro do Interior de França, Gerard Darmanin, revelou que cerca de 10.000 agentes da polícia foram chamados para proteger cerca de 500 locais judaicos em França. "É importante que todos os cidadãos franceses de fé judaica saibam que estão protegidos", afirmou, ao lado do ministro da Educação Gabriel Attal, durante uma visita a uma escola judaica em Paris.
"Tolerância zero" na Alemanha
Na Alemanha, o chanceler Olaf Scholz afirmou quinta-feira perante o Parlamento que, enquanto milhares de pessoas no país se tinham manifestado em apoio a Israel, se tinham registado "algumas imagens hediondas nas nossas ruas, onde os atos de terror mais brutais foram celebrados à luz do dia".
Logo no sábado, dia dos ataques do Hamas, a polícia alemã foi forçada a dispersar bandos de pessoas que cantavam cânticos de "glorificação da violência". Várias pessoas foram detidas e dois agentes ficaram feridos nos confrontos.
"Uma escalada da situação em Israel tem sempre infelizmente um impacto na nossa comunidade", reagiu Ilan Kiesling, um porta-voz da Comunidade Judaica de Berlim. O Conselho Central para os judeus na Alemanha afirmou por seu lado que estava em contacto com os responsáveis pela segurança para garantir proteção acrescida em torno das instituições judaicas a nível nacional.
"Nenhuma violência, nenhuns motins e nenhum ódio nas ruas alemãs", apelou o grupo em comunicado.
A cidade de Berlim proibiu já a realização de manifestações pró-palestinianas "por perigo de ordem pública".
O governo alemão anunciou por seu lado "tolerância zero" com reações anti-semitas no país após e baniu todas as atividades em apoio aos crimes do Hamas em Israel, incluindo o uso dos símbolos do grupo e de expressões de elogio aos assassínios e mortes, e a queima da bandeira israelita.
Qualquer pessoa encontrada a cometer tais atos será processada, advertiu o chanceler, lembrando a responsabilidade do povo alemão no Holocausto. "A nossa legislação que gere as associações é uma espada afiada. E nós, enquanto forte estado constitucional, empunharemos essa espada", prometeu. "Haverá tolerância zero para o anti-semitismo", acrescentou.
Aumento "massivo" de ataques em Londres
O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, seguiu as pisadas dos líderes europeus e referiu que o Community Security Trust (CST), uma organização criada para proteger os judeus britânicos contra o antissemitismo e outras ameaças, iria receber três milhões de libras (3,5 milhões de euros) para reforçar a sua missão e contratar guardas adicionais para escolas e entradas das sinagogas nas noites de sexta-feira e nas manhãs de sábado.
A polícia de Londres revelou ter registado 139 incidentes anti-semitas em quatro dias, cinco vezes mais que no período homólogo de 2022. "Um aumento massivo", denunciou.
"O número de incidentes que se deram desde sábado praticamente triplicou o que seria expectável normalmente neste período", afirmou por seu lado Dave Rich, líder do CDT. "Esperamos que os números aumentem", acrescentou. "Ainda estamos a registar e a verificar os relatos antes de os introduzir no sistema".
O mayor de Londres, Sadiq Khan, condenou os atos de vandalismos contra negócios da comunidade judaica na cidade, garantindo aos judeu da capital britânica que os culpados iriam "sentir todo o peso da lei".
Rishi Sunak denunciou por sua vez esta sexta-feira "o aumento repugnante" do número de atos anti-semitas nos últimos dias no país após o ataque do Hamas contra Israel.
"Registou-se um aumento francamente repugnante" do número de atos anti-semitas "nestes últimos dias", declarou perante as câmaras das televisões da Suécia, onde se encontra para participar numa cimeira com aliados da Europa do Norte.
Antes de viajar, Sunak já tinha deixado clara a sua determinação em "fazer tudo o que estiver ao alcance" do seu governo para "proteger o povo judeu em todo o país". "Se alguma coisa estiver a dificultar a segurança da comunidade judaica, nós resolvemos o problema. Têm o nosso total apoio", vincou.
A decisão do executivo britânico surge depois de a Polícia Metropolitana de Londres ter já ter reforçado a presença nas ruas, especialmente em bairros com comunidades judaicas. O governo reuniu-se ainda com responsáveis pela segurança, sobre os protestos relacionados com a guerra entre Israel e o Hamas, que incluiu a ministra da Administração Interna, Suella Braverman, e representantes da polícia.
Braverman escreveu na terça-feira aos chefes de polícia de Inglaterra e do País de Gales recordando que o Hamas é uma organização terrorista proscrita, pelo que é ilegal apoiar ou ser seu membro.
Anti-semitismo "anda no ar"
Em Portugal, o Bloco de Esquerda participou segunda-feira numa manifestação pró-palestiniana realizada no largo de Camões em Lisboa. Na quarta-feira dia 11, a sua líder, Mariana Mortágua, condenou publicamente os "crimes de guerra cometidos pelo Hamas e por Israel", reconhecendo "historicamente o direito à autodeterminação da Palestina".
O PCP esperou por quinta-feira dia 12 para condenar oficialmente os ataques do Hamas e considerar que não servem os "interesses do povo palestiniano".
Também em Portugal, as paredes da sinagoga da comunidade israelita do Porto, a maior da Europa, foram vandalizadas com mensagens anti-israelitas e pró-palestinianas. A Polícia Judiciária está a investigar o incidente.
Já em Espanha registou-se um ato semelhante ao do Porto, o que levou a sinagoga de Barcelona a cancelar semanas de eventos previstos devido a preocupações securitárias.
"Estamos assustados, sobretudo pelos novos filhos e filhas mais novos", afirmou Sara Hasson entrevistada pelo jornal El Periódico. "O anti-semitismo anda no ar", explicou.
Em Portugal, o Bloco de Esquerda participou segunda-feira numa manifestação pró-palestiniana realizada no largo de Camões em Lisboa. Na quarta-feira dia 11, a sua líder, Mariana Mortágua, condenou publicamente os "crimes de guerra cometidos pelo Hamas e por Israel", reconhecendo "historicamente o direito à autodeterminação da Palestina".
O PCP esperou por quinta-feira dia 12 para condenar oficialmente os ataques do Hamas e considerar que não servem os "interesses do povo palestiniano".
Também em Portugal, as paredes da sinagoga da comunidade israelita do Porto, a maior da Europa, foram vandalizadas com mensagens anti-israelitas e pró-palestinianas. A Polícia Judiciária está a investigar o incidente.
Já em Espanha registou-se um ato semelhante ao do Porto, o que levou a sinagoga de Barcelona a cancelar semanas de eventos previstos devido a preocupações securitárias.
"Estamos assustados, sobretudo pelos novos filhos e filhas mais novos", afirmou Sara Hasson entrevistada pelo jornal El Periódico. "O anti-semitismo anda no ar", explicou.
Em Amesterdão, três escolas judaicas decidiram manter-se encerradas na sexta-feira, dia de celebrações religiosas dos muçulmanos, para garantir a segurança de alunos e de professores, de acordo com relatos da agência de notícias nacional.
O primeiro-ministro da Bélgica, Alexander de Croo, anunciou quinta-feira dia 12 numa publicação na rede X, antigo Twitter, que estava a ser incrementada "a vigilância contra ataques anti-semitas" e que o país ia reforçar a segurança em torno da comunidade judaica.
O primeiro-ministro da Bélgica, Alexander de Croo, anunciou quinta-feira dia 12 numa publicação na rede X, antigo Twitter, que estava a ser incrementada "a vigilância contra ataques anti-semitas" e que o país ia reforçar a segurança em torno da comunidade judaica.