Atleta sem hijab. Elnaz Rekabi recebida no Irão como "heroína"

por Inês Moreira Santos - RTP
EPA

Depois de ter sido dada como desaparecida, Elnaz Rekabi regressou a casa e foi recebida no aeroporto por multidões como uma "heroína". A atleta iraniana que competiu na final dos mundiais de escalada sem hijab confirmou que estava bem e de regresso ao Irão, pedindo desculpa por ter causado "preocupação".

Na terça-feira, a atleta iraniana deixou uma mensagem através do Instagram a garantir que não estava desaparecida e que competiu sem hijab “involuntariamente”. À chegada ao aeroporto, recebida por multidões, Rekabi voltou a explicar aos jornalistas presentes que quando foi chamada para competir se esqueceu de colocar o véu na cabeça.

“Saudações a todos os meus queridos compatriotas do Irão. Com uma carreira de 20 anos como membro da Seleção Nacional de Escalada, peço desculpas pelas preocupações que causei. Estou agora a regressar ao Irão, conforme estava estabelecido”, afirmou numa história do Instagram.


São muito os vídeos que circulam nas redes sociais com centenas de fãs nos arredores do aeroporto a bater palmas à chegada de Rekabi e a gritar "Elnaz é uma heroína”.

Após usar o véu tradicional muçulmano que cobre a cabeça e os ombros nas primeiras eliminatórias do campeonato, Rekabi, de 33 anos, competiu de cabelo solto na final, que decorreu no domingo, na capital sul-coreana, Seul. Na altura, o gesto da atleta foi visto como uma demonstração de apoio às mulheres iranianas que protestam há um mês contra a obrigatoriedade do uso do hijab após a morte de Mahsa Amini.

Depois da polémica competição, começaram rumores e preocupações sobre o paredeiro da atleta – dada como desaparecida até terça-feira. O serviço da BBC em farsi disse que as autoridades iranianas tinham confiscado o telemóvel e o passaporte de Rekabi, citando fontes não identificadas. Também citando fontes não identificadas, o portal noticioso IranWire, fundado pelo jornalista iraniano-canadiano Maziar Bahari, disse que à chegada a atleta iria ser transferida de imediato para a prisão de Evin, onde são encarcerados presos políticos.
O Governo de Teerão negou logo que Elnaz Rekabi tivesse sido detida e obrigada a regressar ao Irão e, horas depois, a alpinista curda publicou no Instagram que estava bem e explicou que foi chamada de “forma inesperada” para competir, devido a uma alteração na programação, e por isso não usou o véu islâmico “involuntariamente”.

À comunicação social, a atleta repetiu a sua justificação.

"Fui repentina e inesperadamente chamada para competir enquanto estava no vestiário feminino", disse. “Estava ocupada a calçar os meus sapatos e ajeitar o meu equipamento e esqueci-me de colocar o meu hijab, que deveria ter usado”.

Rekabi lamentou as “reações extremas" ao vídeo da sua aparição com um rabo de cavalo e admitiu ter se sentido “stressada e tensa".

"Graças a Deus, voltei ao Irão de boa saúde e em segurança. E peço desculpas ao povo iraniano pela preocupação que aconteceu no meu regresso, estava muito ocupada", continuou, negando ainda que tenha estado sem conseguir contactar a sua família e amigos após a competição.

"Isso não aconteceu. Voltamos ao Irão exatamente como planeado", afirmou.

Contudo, muitas autoridades dizem-se céticas quanto às justificações de Rekabi e suspeitam que as tenha dado sob coação.

A Federação Internacional de Escalada Desportiva (IFSC) disse à BBC que estava em contacto com a atleta e a Federação Iraniana de Escalada e a tentar "estabelecer os factos".

“É importante enfatizar que a segurança dos atletas é primordial para nós e apoiamos todos os esforços para manter um membro valioso da nossa comunidade seguro nesta situação”, acrescentou. "O IFSC apoia totalmente os direitos dos atletas, as suas escolhas e a expressão da liberdade de expressão".

O Irão tem sido palco de protestos contra as leis do uso do hijab e os líderes clericais. As mulheres iranianas são obrigadas a cobrir os cabelos com um lenço na cabeça e os braços e as pernas com roupas largas. O mesmo se aplica a atletas do sexo feminino quando estão em representação do país em competições.
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