Ativista iraniana Narges Mohammadi vence o Nobel da Paz

por Andreia Martins - RTP
Reuters

A ativista iraniana Narges Mohammadi foi laureada com o prémio Nobel da Paz de 2023. O anúncio foi feito esta sexta-feira pelo Comité Nobel Norueguês.

"Mulher, Vida, Liberdade". Foi desta forma que o Comité Nobel Norueguês deu início ao anúncio da vencedora do Prémio Nobel da Paz de 2023. Durante vários meses, o slogan mobilizou milhares de manifestantes no Irão após a morte da jovem curda Mahsa Amini, sob custódia policial, por utilização incorreta do véu islâmico.

Narges Mohammadi, laureada com o Nobel da Paz, é uma das mais destacadas ativistas iranianas pelos Direitos Humanos, sobretudo na defesa dos direitos das mulheres e pela abolição da pena de morte.

A ativista encontra-se na prisão de Evin, em Teerão, a cumprir várias penas num total de cerca de 12 anos. É acusada, entre outros crimes, de difusão de propaganda contra o Estado.

O comité norueguês destaca que a "luta corajosa" de Narges Mohammadi pela liberdade de expressão lhe trouxe "tremendos custos pessoais".

"No total, o regime do Irão já a deteve por 13 vezes, condenou-a por cinco vezes e sentenciou-a a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas", enfatiza.

Mohammadi é vice-presidente da organização Centro de Defensores dos Direitos Humanos, uma organização não-governamental fundada por Shirin Ebadi, laureada com o Prémio Nobel da Paz em 2003 pela defesa dos direitos das crianças, mulheres e refugiados.

Em declarações à agência Reuters esta sexta-feira, Taghi Rahmani, o marido da galardoada, considera que o Prémio Nobel "irá encorajar a luta de Narges pelos Direitos Humanos, mas, ainda mais importante, este é um prémio para o (movimento) Mulher, Vida, Liberdade".

Narges Mohammadi foi a 19ª mulher e a segunda iraniana a ser distinguida com o Prémio Nobel da Paz.
Protestos deram início a mudança "irreversível"
“O Comité Norueguês do Nobel decidiu atribuir o Prémio Nobel da Paz de 2023 a Narges Mohammadi pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irão e pela sua luta para promover os Direitos Humanos e a liberdade para todos”, destaca o comité.

A distinção "também reconhece as centenas de milhares de pessoas que, no ano anterior, se manifestaram contra as políticas de discriminação e opressão do regime teocrático do Irão contra as mulheres".

"O lema adotado pelos manifestantes - "Mulher - Vida - Liberdade" - expressa adequadamente a dedicação e o trabalho de Narges Mohammadi", acrescenta o comité norueguês. 

Em declarações por escrito, à agência France Presse, em setembro último, a ativista considerou que a morte de Masha Amini às mãos da polícia e os protestos que se seguiram trouxeram uma mudança "irreversível" ao Irão.

"O movimento acelerou o processo de democracia, liberdade e igualdade" e "enfraqueceu os fundamentos de um governo religioso despótico", defendeu.
"Dor indescritível"
Narges Mohammadi tem 51 anos. Nasceu em 1972 na cidade de Zanjan, a noroeste de Teerão. Estudou física na universidade, mas acabou por se dedicar ao jornalismo. É casada com Taghi Rahmani, jornalista iraniano que esteve na prisão um total de 16 anos. Em 2011 foi considerado pelos Repórteres Sem Fronteiras como o "jornalista mais frequentemente detido" no Irão. Desde 2012 que vive exilado em França com os dois filhos do casal, atualmente com 17 anos. 

Numa entrevista ao jornal El País, em dezembro de 2022, Rahmani indicava que a mulher não via os filhos há sete anos e que, pelo menos durante sete meses, não teve sequer autorização para falar com eles por telefone.

"É uma dor insuportável e indescritível", assumia a ativista em resposta à agência France Presse sobre a separação da família.
Atos contra a "segurança nacional"

Na primeira reação em território iraniano, a agência Fars aponta esta sexta-feira que Narges Mohammadi foi laureada com o Prémio Nobel da Paz pelas ações que desencadeou "contra a segurança nacional do Irão".

Também em reação ao anúncio do comité norueguês, a ONU pediu esta sexta-feira a libertação da ativista iraniana distinguida com o Nobel da Paz.

"O caso de Narges Mohammadi é emblemático dos enormes riscos que as mulheres correm para defenderem os direitos de todos os iranianos. Exigimos a sua libertação, assim como de todos os defensores dos Direitos Humanos presos no Irão", reagiu o gabinete do Alto Comissariado para os Direitos Humanos em resposta à agência France Presse

A atribuição deste prémio "realça a coragem e a determinação das mulheres no Irão, que são uma fonte de inspiração para o mundo inteiro", acrescentou.

Na reação ao prémio, a família de Narges Mohammadi considera que a distinção representa "um momento histórico e importante para a luta pela liberdade no Irão".

"Dedicamos este prémio a todos os iranianos e, em particular, às mulheres e meninas iranianas que inspiraram o mundo inteiro com a sua coragem e a sua luta pela liberdade e igualdade", acrescenta.

"Infelizmente, Narges não pode estar connosco para partilhar este momento extraordinário", lamenta Taghi Rahmani, em nome da família. "Como sempre diz Narges: a vitória não é fácil de alcançar, mas é certa", acrescenta.

A cerimónia de entrega do Nobel da Paz realiza-se a 10 de dezembro, em Oslo. "O comité do Nobel espera que o Irão liberte a ativista iraniana de Direitos Humanos Narges Mohammadi, vencedora do Prémio Nobel da Paz de 2023, para receber o seu prémio em dezembro", afirmou a presidente do Comité Norueguês, Berit Reiss-Andersen.

Em 2022, o Nobel foi entregue a Ales Bialiatski, da Bielorrússia, e às organizações de defesa dos Direitos Humanos Memorial, na Rússia, e ao Centro de Liberdades Civis, na Ucrânia.
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