Sergey Dolzhenko - Reuters
O presidente português termina esta quinta-feira a visita de dois dias à capital ucraniana com a sensação de que a viagem virada para o passado, presente e futuro "atingiu todos os objetivos pretendidos". Marcelo Rebelo de Sousa fala numa "normalização" da vida na Ucrânia e esclareceu a posição portuguesa sobre a adesão do país à União Europeia e à NATO.
“O presente foi, em primeiro lugar, o estarmos dois dias. Não é vulgar. A maior parte de chefes de Estado ou chefes de Governo vieram à cimeira um dia (…). Foi intencional da parte da delegação portuguesa o ficar para compreender o pulsar da normalização da vida” no país, explicou Marcelo Rebelo de Sousa.
Já na parte final da visita, o presidente disse ter verificado “aquilo que não era possível ainda há uns meses, que é andarmos sem coletes”. “Andam os ucranianos e andámos nós sem coletes, embora todos respeitando os alarmes. Ainda há bocadinho tivemos os alarmes”, afirmou aos jornalistas.
O futuro é, para o presidente, a celebração do Dia da Independência, “já virado para a reconstrução”, assim como o dia de hoje, em que se falou, em várias reuniões, na recuperação económica, política, diplomática e militar “tudo isso já com um clima de esperança no futuro”.
Adesão à UE e NATO: “Sim, a Ucrânia tem direito”
Questionado sobre dúvidas quanto ao apoio de Portugal à adesão da Ucrânia à NATO, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que o primeiro-ministro e o presidente da Assembleia da República têm sido “muito claros”.
“A posição portuguesa é uma posição de princípio: sim, a Ucrânia tem direito a integrar-se nessa família política europeia que se chama União Europeia e a querer uma aproximação primeiro e depois uma inserção na NATO”, declarou.
“Só que nós sempre dissemos isto: isso implica trabalho de preparação, ao passo que outros terão dito ou dado a entender ‘está feito’ (…) e isso sim podia depois ser uma grande desilusão”.
Zelensky “muito esperançado”
O presidente português não avançou datas para uma eventual visita de Volodymyr Zelensky a Portugal, mas disse ter esperança “de o ver mais rapidamente do que pensava”.
“Agora, os termos em que isso ocorrerá, esperarão um tempinho para ver”, acrescentou.
Questionado sobre o estado da guerra na Ucrânia, Marcelo disse ter ficado com a sensação de que o homólogo ucraniano “está muito empenhado, muito esperançado no sentido de que está a ver avanços – muitos dos quais não são percetíveis, porque é um território tão grande e os avanços são difusos – e que haverá mais avanços ao longo do outono e na transição para o inverno”.“Mas qualquer pessoa de bom senso não tem calendários relativamente a guerras. Isso não existe”, defendeu.
Zelensky deixou ainda uma mensagem ao chefe de Estado quanto à cimeira da CPLP, dizendo estar “muito desejoso de utilizar todos os encontros para poder ter mais contactos ainda” e considerando que “o mundo fala português”.
Admitindo dificuldade em escolher um momento da visita à Ucrânia que destacasse, Marcelo Rebelo de Sousa referiu o momento em que, “perante o painel do [artista] Banksy, se encontrou por mero acaso uma moradora ali ao lado, muito velhinha”.
“E foi, de repente, ver o passado, o presente e o futuro juntos – o passado, a história dela ali (…), o presente, o que ela vive na esperança de ter futuro”, afirmou.