Atentados de Paris. França prepara-se para o maior julgamento da história
Salah Abdeslam, o único sobrevivente do grupo acusado de ter perpetrado os ataques à casa de espetáculos Bataclan, a seis estabelecimentos de restauração e ao perímetro do Estádio de França em 2015, começa a ser julgado esta quarta-feira. Morreram 130 pessoas e 350 ficaram feridas. À chegada ao tribunal, Salah Abdeslam declarou-se um "lutador do Estado Islâmico" e que "não há outro deus que não Alá e Maomé é seu mensageiro".
Mais seis outras pessoas, elementos do Estado Islâmico, vão ser julgadas à revelia por terem ajudado a organizar os ataques. Doze dos 20 acusados podem ser condenados a prisão perpétua.
A justiça francesa vai, nos próximos nove meses, reviver os factos da noite de 13 de novembro de 2015, quando os atentados jihadistas provocaram 130 vítimas mortais.
O julgamento do franco-marroquino Abdeslam é o maior alguma vez organizado em França e vai decorrer sob alerta máximo de segurança, num contexto de ameaça terrorista.
Este julgamento “é o de todos os superlativos”, disse o ministro francês da Justiça, após ter visitado a sala de 550 lugares, construída de propósito para as audiências. Eric Dupont-Moretti referia-se à “maratona judicial” que vai decorrer ao longo de nove meses e com 1.800 partes civis. Na sala tribunal, bem como nas salas adicionais, podem ser admitidas duas mil pessoas por dia. Estão ainda envolvidos 330 advogados.
O julgamento será gravado, mas não será transmitido em direto na televisão.
Nas primeiras semanas do julgamento, a polícia e os peritos vão descrever como decorreram os ataques. Depois, durante o mês de outubro, serão escutados os testemunhos das famílias das vítimas e dos sobreviventes, com uma semana destinada aos ataques perpetrados no Estádio de França e quatro no Bataclan.
No início de novembro, Abdeslam começa a ser interrogado e será analisado o seu perfil, ligações e viagens à Síria. Esta parte deverá decorrer até fevereiro.
Os restantes acusados também vão ser chamados a depor sobre a preparação dos ataques, que terá decorrido entre agosto e novembro de 2015, sobre os acontecimentos da semana que antecedeu os assaltos e sobre a noite de 13 de novembro de 2015.
Os advogados dos queixosos devem fazer as alegações finais durante o mês de abril de 2022, estando destinado o mês de maio para a defesa. O veredito deverá ser anunciado a 24 ou 25 de maio de 2022.
As investigações permitiram descobrir uma célula mais importante do que a que perpetrou os ataques, com ligações aos atentados no aeroporto de Zaventem e à estação de metro de Maelbeek, em Bruxelas, a 22 de março de 2016. Nestes atentados morreram 32 pessoas.
O belga-marroquino e veterano do Estado Islâmico Oussama Atar é considerado o principal cérebro dos atentados, mas não foi apanhado. Juntamente com os irmãos franceses Fabien et Jean-Michel Clain, possivelmente mortos, serão julgados à revelia.
Por isso, Salah Abdeslam e o também belga-marroquino Mohamed Abrini são a chave do processo. No entanto, Abdeslam nunca prestou declarações durante a fase de investigação, mas logo após a detenção terá dito que queria fazer-se explodir no Estádio de Saint-Denis. Contudo, os especialistas concluíram que o seu cinto de explosivos estava com defeito.
“Este julgamento promete ser carregado de emoções, mas a justiça terá de mantê-las à distância se não quiser perder de vista os princípios em que se baseia nosso Estado de Direito”, alertam as advogadas de Salah Abdeslam, Olivia Ronen e Martin Vettes.
Quem é Salah Abdeslam
Conhecido como “o décimo homem”, Abdeslam é apresentado como um antigo delinquente, que transportou três “homens-bomba” para o Estádio de França. Anteriormente, terá viajado pela Europa para ir buscar jihadistas, comprado material para os explosivos, alugado esconderijos e viaturas.
Abdeslam cresceu numa família com cinco filhos no bairro de Moelenbeek, na capital belga. Foi condenado por delitos de trânsito, tentativa de roubo. Gostava de festas, de fumar drogas e de frequentar casino. Sem emprego, era frequentador assíduo de cafés.