Ataques israelitas no norte de Gaza atrasam vacinação contra a poliomielite

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Ramadan Abed - Reuters

A Organização Mundial da Saúde afirmou que a "escalada de violência" no norte de Gaza obrigou ao adiamento da vacinação contra a poliomielite de mais de 100 mil crianças palestinianas. Numa altura em que Israel bombardeia intensamente o norte do território, a OMS avisa que as pausas humanitárias são fundamentais para avançar com a última fase da campanha de vacinação, que deveria ter começado na quarta-feira.

A intensificação dos bombardeamentos das forças militares israelitas, as deslocações em massa de palestinianos e a falta de acesso ao norte de Gaza obrigaram o Comité Técnico da Poliomielite para Gaza a adiar a terceira e última fase da campanha de vacinação, de acordo com a OMS.

A campanha de vacinação foi lançada no mês passado e a sua última fase visava vacinar 119.279 crianças no norte de Gaza.

“É imperativo travar o surto de poliomielite o mais rapidamente possível, antes que mais crianças fiquem paralisadas e o poliovírus se propague ainda mais”, alerta a OMS.

A agência de saúde da ONU explica que as condições atuais e a falta de pausas humanitárias, na maior parte do norte do enclave palestiniano, impossibilitam que o material de vacinação seja entregue às unidades de saúde, que as famílias acedam em segurança aos locais de vacinação e que os profissionais de saúde trabalhem.

Segundo dados do Ministério palestiniano da Saúde, os ataques israelitas em Gaza mataram 42 pessoas na quarta-feira.

O secretário-Geral da ONU, António Guterres, manifestou na quarta-feira a sua preocupação com o adiamento da vacinação resultante da "escalada de violência e da falta de acesso". “As pausas humanitárias são essenciais para o sucesso da campanha", afirma a OMS, alertando para a redução da imunidade em caso de maior espaçamento na administração da segunda dose. 

"Estou muito preocupado com o adiamento da última fase da campanha de vacinação contra a poliomielite no norte de Gaza",
escreveu na sua conta da rede social X.

"Temos de travar o surto de poliomielite antes que mais crianças fiquem paralisadas e o poliovírus se propague ainda mais", apelou. 


Mais tarde, o chefe da ONU apelou ao cumprimento do direito humanitário internacional que exige que os civis sejam protegidos e recebam assistência humanitária. "As pessoas que sofrem sob o cerco israelita em curso no Norte de Gaza estão a esgotar rapidamente todos os meios disponíveis para a sua sobrevivência.Os civis devem ser protegidos e devem poder receber assistência humanitária", reiterou.

Um dia antes, na terça-feira, os EUA apelaram a Telavive para que permitisse a entrada de mais ajuda humanitária no norte de Gaza. Após o apelo cara-a-cara feito pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, durante a sua visita a Israel na terça-feira, o secretário de Estado da Defesa dos EUA Lloyd Austin instou Telavive a tomar medidas para resolver a situação terrível no norte do enclave, numa chamada na quarta-feira com o ministro israelita da Defesa, Yoav Gallant, de acordo com o Pentágono.
Porque é que há poliomielite em Gaza?
O regresso da poliomielite a Gaza, um quarto de século depois de ter erradicado a doença, deve-se à guerra entre Israel e o Hamas e ao cerco à Faixa de Gaza, que dura há mais um de ano e que tem privado a população de acesso a serviços essenciais de água e saneamento e à sobrelotação de abrigos temporários improvisados, assim como à restrição da distruibuição de ajuda humanitária, imposta por Israel. "A poliomielite provoca paralisia e outros sintomas graves e pode propagar-se rapidamente", de acordo com a OMS.

O reaparecimento da doença levou a OMS e os seus parceiros no terreno, nomeadamente o Ministério palestiniano da Saúde, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA), a lançar uma campanha de vacinação em toda a Faixa de Gaza para vacinar 90 por cento das crianças de todas as comunidades de modo a travar a transmissão poliovírus e a sua propagação.
PUB