Astronautas da NASA a caminho da Terra após nove meses no espaço

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
NASA via AFP

Os dois astronautas da NASA há nove meses retidos na Estação Espacial Internacional (ISS) estão já a caminho da Terra, numa cápsula da SpaceX. Suni Williams e Butch Wilmore deverão aterrar na costa da Florida, no sudeste dos Estados Unidos, na noite desta terça-feira.

Williams e Wilmore chegaram à ISS a 6 de junho do ano passado, naquele que foi o primeiro voo tripulado do Boeing Starliner. A viagem estava prevista para durar apenas uma semana, mas uma série de problemas técnicos obrigou a uma mudança dos planos.

A cápsula da Starliner foi enviada de volta à Terra vazia e os dois astronautas juntaram-se à tripulação da ISS, onde permaneceram até agora.

Os astronautas estão agora de regresso à Terra na cápsula Crew Dragon da SpaceX, a empresa de Elon Musk, juntamente com o norte-americano Nicholas Hague e o cosmonauta russo Aleksandr Gorbunov. A viagem de regresso à Terra tem uma duração aproximada de 17 horas, prevendo-se que aterre na costa da Florida, no sudeste dos Estados Unidos, na noite desta terça-feira.


"A tripulação-9 está a ir para casa", disse o comandante Nick Hague de dentro da cápsula enquanto esta se afastava lentamente da estação.

Hague disse que era um privilégio "chamar a estação de lar" como parte de um esforço internacional para o "benefício da humanidade" e afirmou que as condições meteorológicas para a aterragem devem ser "perfeitas".

“Sentiremos a vossa falta, mas tenham uma ótima viagem de volta para casa”, disse Anne McClain, da NASA, da estação espacial enquanto a cápsula se afastava.
Missão falhada transforma-se num debate político
O regresso de Wilmore e Williams marca o fim de uma missão invulgar e prolongada, repleta de incertezas e problemas técnicos que transformaram o caso num espetáculo global e político.

A missão da Starliner chamou a atenção do presidente dos EUA, Donald Trump, que quando tomou posse, em janeiro, pediu o regresso rápido de Wilmore e Williams e alegou, sem provas, que o ex-presidente Joe Biden os "abandonou" na ISS por razões políticas.

"Esqueceram-se vergonhosamente dos astronautas porque sentiram que foi um acontecimento muito embaraçoso para eles", disse Trump na sua rede social Truth Social na segunda-feira, garantindo que tinha resolvido o problema pelas suas próprias mãos "com Elon".

O CEO da SpaceX, Elon Musk, conselheiro próximo de Trump, fez eco das palavras do presidente norte-americano, afirmando que Wilmore e Williams foram “abandonados no espaço por razões políticas” e que Joe Biden recusou a sua oferta de trazer os dois astronautas de volta, o ano passado. A Crew Dragon, da SpaceX, é a única nave espacial tripulada de classe orbital dos Estados Unidos, com a qual a Boeing esperava que o seu Starliner competisse.

Musk, entretanto, envolveu-se numa discussão pública com o astronauta dinamarquês Andreas Mogensen, que o acusou de mentir e ressalvou que o regresso de Williams e Wilmore, juntamente com seus colegas da tripulação 9 da ISS, estava programado para setembro.


Em resposta na rede social X, Musk disse que Mogensen era "completamente retardado", o que o levou a um conflito ainda maior com os veteranos da ISS e os irmãos Scott e Mark Kelly, que defenderam seu colega europeu.
“Viemos preparados para ficar muito tempo”
Em declarações aos jornalistas no início deste mês, Wilmore disse não acreditar que a decisão da NASA de os manter na ISS até à chegada da Crew-10 tivesse sido afetada pela política.

"Viemos preparados para ficar muito tempo, embora tivéssemos planeado ficar pouco tempo. É disso que se trata o programa de voos espaciais. Planear contingências desconhecidas e inesperadas. E nós fizemo-lo”, declarou.

Wilmore e Williams serão levados para os alojamentos da tripulação no Centro Espacial Johnson da agência espacial, em Houston, onde deverão permanecer durante alguns dias para serem submetidos a vários de exames de saúde, de acordo com a rotina de regresso dos astronautas, antes de receberem o aval para regressarem às suas casas.

Wilmore e Williams terão registado 286 dias no espaço — mais do que a duração média de seis meses de uma missão à ISS, mas muito aquém do recordista norte-americano Frank Rubio, que passou 371 dias na ISS também devido a um problema com a sua nave espacial.

Williams, a completar o seu terceiro voo espacial, terá acumulado 608 dias no espaço, o segundo número mais elevado para qualquer astronauta dos EUA, depois dos 675 dias de Peggy Whitson. O cosmonauta russo Oleg Kononenko estabeleceu o recorde mundial no ano passado, com 878 dias acumulados.
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