A esperança é a de que tenha terminado meio século de um conflito armado na América Latina que causou milhares de mortes ou desaparecimentos. Foi assinado o acordo de paz entre o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e o líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Rodrigo Londoño, mais conhecido pelo nome de guerra Timochenko. Foi o último passo antes do referendo de 2 de outubro. Nessa altura os colombianos vão determinar se querem ou não construir a paz. Sabe-se já que a última sondagem dá uma vitória ao sim com 54 por cento dos votos.
A cerimónia histórica teve lugar a partir da cidade de Cartagena das Índias, perante dezenas de chefes de Estado e de governo e milhares de convidados, a quem foi pedido que vestissem roupa branca.
O documento com 297 páginas foi assinado primeiro por Timochenko e depois por Juan Manuel Santos. Depois da assinatura do acordo, o líder das FARC pediu perdão às vítimas do conflito e saudou o início de uma nova era de reconciliação.
“Em nome das FARC, peço sinceramente perdão a todas as vítimas do conflito, por toda a dor que possamos ter causado nesta guerra (…) Estamos a renascer para dar início a uma nova era de reconciliação e de construção da paz", referiu Timochenko.
O Presidente da Colômbia Juan Manuel Santos quis demonstrar o seu contentamento na rede social Twitter, para dizer que não haverá mais ninguém sacrificado por uma guerra absurda.
NO MÁS jóvenes sacrificados por una guerra absurda ¡Ni soldados, ni policías, ni campesinos, ni guerrilleros! #LaPazGerminaYa pic.twitter.com/j2dirWgX3z
— Juan Manuel Santos (@JuanManSantos) 27 de setembro de 2016
Já na cerimónia, o Presidente da Colômbia disse que este acordo é uma declaração do povo colombiano contra a guerra. “O que assinámos hoje é uma declaração do povo colombiano perante o mundo, de que nos fartámos da guerra, de que não aceitamos a violência como meio de defender ideias e dizemos alto e em bom som: chega de guerra!”.
Juan Manuel Santos reconheceu que o acordo não é perfeito, mas “é o melhor possível (…) Prefiro um acordo imperfeito que salve vidas, a uma guerra perfeita que continue a semear morte e dor no nosso país”, concluiu o líder colombiano.
Uma das esperanças agora é de que a Colômbia possa reocupar áreas do território para o investimento em sectores produtivos que estavam comprometidos pela atividade da guerrilha. “E é por isso que assinaremos o acordo com uma antiga bala, porque queremos marcar essa transição das armas para os livros, a educação e o futuro”, explicou o Presidente da Colômbia.
Um encontro emotivo com os convidados a agitarem lenços para marcar a assinatura do acordo. Também um grupo de aviões da Força Aérea colombiana desenhou nos céus de Cartagena das Índias a bandeira do país.
A cerimónia, que durou mais de uma hora, contou com a presença do Presidente de Cuba, Raul Castro, do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e do secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin.
O secretário-geral das Nações Unidas fez questão de realçar que está a começar uma nova era na Colômbia. Ban Ki-moon afirmou que este acordo vai criar condições para uma paz verdadeira.
“Hoje, os colombianos despedem-se de décadas de chamas e lançam uma esperança brilhante que ilumina o mundo inteiro. Viva a Paz! Viva a Colômbia!”, disse Ban Ki-Moon.
Também os Estados Unidos já tinham anunciado a transferência de um pacote de 390 milhões de dólares para a Colômbia, em 2017, no sentido de apoiar o processo de paz.
A União Europeia garantiu também que assim que o Presidente da Colômbia e o líder das FARC assinassem o acordo de paz, o movimento rebelde deixaria de integrar a lista de organizações consideradas como terroristas.
Os compromissos
De recordar que a guerrilha nasceu de uma revolta camponesa, em 1964, em Marquetalia, na região de Tolima. Um grupo de liberais armados, entre eles Pedro Antonio Marín, conhecido como "Tirofijo", que foi o fundador e comandante chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, tentou deter uma ofensiva do Exército que pretendia acabar com uma comunidade autónoma de camponeses que existia no lugar.
O acordo prevê compromissos em seis pontos: reforma rural, participação política dos ex-combatentes da guerrilha, cessar-fogo bilateral e definitivo, solução ao problema das drogas ilícitas, ressarcimento das vítimas e mecanismos de implementação e verificação.
Apesar de todas as sondagens projetarem uma vitória do SIM, na segunda-feira cerca de 100 manifestantes insurgiram-se contra o acordo, incluindo o ex-Presidente Álvaro Uribe.
As expectativas de um futuro que ponha fim à guerra civil só deverão ser confirmadas na próxima semana, quando a população disser se concorda ou não com os termos que foram negociados pelo Governo e pelas FARC.