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Assinado acordo de paz na Colômbia ao fim de 50 anos de conflito

por Sandra Salvado - RTP
Presidência da Colômbia - Reuters

A esperança é a de que tenha terminado meio século de um conflito armado na América Latina que causou milhares de mortes ou desaparecimentos. Foi assinado o acordo de paz entre o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e o líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Rodrigo Londoño, mais conhecido pelo nome de guerra Timochenko. Foi o último passo antes do referendo de 2 de outubro. Nessa altura os colombianos vão determinar se querem ou não construir a paz. Sabe-se já que a última sondagem dá uma vitória ao sim com 54 por cento dos votos.

Depois de quatro anos de negociações, o acordo de paz na Colômbia chegou finalmente e foi firmado com canetas feitas a partir de balas. Um conflito que provocou a morte a 260 mil pessoas, deixou quase sete milhões de desalojados e 45 mil desaparecidos.

A cerimónia histórica teve lugar a partir da cidade de Cartagena das Índias, perante dezenas de chefes de Estado e de governo e milhares de convidados, a quem foi pedido que vestissem roupa branca.

O documento com 297 páginas foi assinado primeiro por Timochenko e depois por Juan Manuel Santos. Depois da assinatura do acordo, o líder das FARC pediu perdão às vítimas do conflito e saudou o início de uma nova era de reconciliação.

“Em nome das FARC, peço sinceramente perdão a todas as vítimas do conflito, por toda a dor que possamos ter causado nesta guerra (…) Estamos a renascer para dar início a uma nova era de reconciliação e de construção da paz", referiu Timochenko.

O Presidente da Colômbia Juan Manuel Santos quis demonstrar o seu contentamento na rede social Twitter, para dizer que não haverá mais ninguém sacrificado por uma guerra absurda.


Já na cerimónia, o Presidente da Colômbia disse que este acordo é uma declaração do povo colombiano contra a guerra. “O que assinámos hoje é uma declaração do povo colombiano perante o mundo, de que nos fartámos da guerra, de que não aceitamos a violência como meio de defender ideias e dizemos alto e em bom som: chega de guerra!”.

Juan Manuel Santos reconheceu que o acordo não é perfeito, mas “é o melhor possível (…) Prefiro um acordo imperfeito que salve vidas, a uma guerra perfeita que continue a semear morte e dor no nosso país”, concluiu o líder colombiano.

Uma das esperanças agora é de que a Colômbia possa reocupar áreas do território para o investimento em sectores produtivos que estavam comprometidos pela atividade da guerrilha. “E é por isso que assinaremos o acordo com uma antiga bala, porque queremos marcar essa transição das armas para os livros, a educação e o futuro”, explicou o Presidente da Colômbia.

Um encontro emotivo com os convidados a agitarem lenços para marcar a assinatura do acordo. Também um grupo de aviões da Força Aérea colombiana desenhou nos céus de Cartagena das Índias a bandeira do país.

A cerimónia, que durou mais de uma hora, contou com a presença do Presidente de Cuba, Raul Castro, do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e do secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin.

O secretário-geral das Nações Unidas fez questão de realçar que está a começar uma nova era na Colômbia. Ban Ki-moon afirmou que este acordo vai criar condições para uma paz verdadeira.

“Hoje, os colombianos despedem-se de décadas de chamas e lançam uma esperança brilhante que ilumina o mundo inteiro. Viva a Paz! Viva a Colômbia!”, disse Ban Ki-Moon.

Também os Estados Unidos já tinham anunciado a transferência de um pacote de 390 milhões de dólares para a Colômbia, em 2017, no sentido de apoiar o processo de paz.

A União Europeia garantiu também que assim que o Presidente da Colômbia e o líder das FARC assinassem o acordo de paz, o movimento rebelde deixaria de integrar a lista de organizações consideradas como terroristas.
Os compromissos
De recordar que a guerrilha nasceu de uma revolta camponesa, em 1964, em Marquetalia, na região de Tolima. Um grupo de liberais armados, entre eles Pedro Antonio Marín, conhecido como "Tirofijo", que foi o fundador e comandante chefe das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, tentou deter uma ofensiva do Exército que pretendia acabar com uma comunidade autónoma de camponeses que existia no lugar.

O acordo prevê compromissos em seis pontos: reforma rural, participação política dos ex-combatentes da guerrilha, cessar-fogo bilateral e definitivo, solução ao problema das drogas ilícitas, ressarcimento das vítimas e mecanismos de implementação e verificação.



Apesar de todas as sondagens projetarem uma vitória do SIM, na segunda-feira cerca de 100 manifestantes insurgiram-se contra o acordo, incluindo o ex-Presidente Álvaro Uribe.

As expectativas de um futuro que ponha fim à guerra civil só deverão ser confirmadas na próxima semana, quando a população disser se concorda ou não com os termos que foram negociados pelo Governo e pelas FARC.
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