Imprevisível. É assim que se encara, nos corredores das Nações Unidas, o discurso que o 45.º Presidente dos Estados Unidos vai dirigir na próxima terça-feira, em Nova Iorque, à Assembleia Geral. Há um ano Donald Trump prometia cilindrar a Coreia do Norte, caso o regime passasse da retórica à ofensiva. Em junho apertaria a mão a Kim Jong-un. Em vésperas da 73ª sessão, retoma críticas a uma organização que, diz, falha o potencial.
Outra voz que não se fará ouvir é a da chanceler alemã, Angela Merkel, que, tal como Vladimir Putin, confiou a representação do seu país ao titular da pasta dos Negócios Estrangeiros.
O mesmo fará o líder da Coreia do Norte, que, após a - tão histórica como vazia de conteúdo - cimeira de Singapura com Donald Trump, em junho, muitos esperavam ver estrear-se no fórum nova-iorquino.
Os diplomatas auscultados pelas agências internacionais não arriscam previsões sobre o teor da intervenção do Presidente norte-americano. As palavras que Trump ensaiou nas últimas horas fornecem pelo menos uma pista: entre os alvos estará a própria Organização das Nações Unidas.
“Na próxima semana estarei nas Nações Unidas, em Nova Iorque. E sempre disse que a ONU tem um enorme potencial. Mas não tem estado à altura desse potencial”, apontou o Presidente dos Estados Unidos.
“Sempre achei surpreendente que não haja mais coisas resolvidas, porque temos imensos países reunidos num único lugar, mas não parecem conseguir fazê-lo. Acho que vai conseguir”.
“Mais uma vez, anseio por estar nas Nações Unidas na próxima semana. Vamos fazer um discurso, teremos muitas reuniões. Podem acontecer muitas coisas boas”, perspetivou.
O debate deste ano da Assembleia Geral tem por tema Tornar a ONU relevante para todos: liderança global e responsabilidade partilhada para sociedades pacíficas, equitativas e sustentáveis.
Irão
Se não é esperada uma reedição da retórica belicista empregue há um ano contra o regime de matriz estalinista da Coreia do Norte, os holofotes da Administração norte-americana deverão agora incidir sobre o regime iraniano.
Como sintetizou à AFP a comitiva que acompanhará o Presidente francês, Emmanuel Macron, a Nova Iorque, ninguém está à espera de “um grande momento de reconciliação” entre os líderes norte-americano e iraniano.
Os Estados Unidos presidem este mês ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, a cada vez mais fraturada espinha dorsal da ONU. Este órgão vai reunir-se na quarta-feira, um dia depois do início da Assembleia Geral, para discutir a não-proliferação de armas de destruição em massa, leia-se os dossiers do Irão e da Coreia do Norte, mas também os casos de envenenamento no Reino Unido, que as chancelarias ocidentais atribuem à Rússia de Putin.
Os interlocutores serão os líderes com bilhete para Nova Iorque. O condutor designado dos trabalhos será, por inerência, Trump.
A agenda portuguesa
Depois de em 2017 a representação portuguesa ter cabido ao primeiro-ministro, António Costa, será o Presidente da República a pronunciar-se pelo país na 73ª sessão da Assembleia Geral da ONU.
Em Nova Iorque estarão cerca de 130 chefes de Estado e de governo, mais do que em 2017, quatro vice-presidentes e mais de 40 ministros dos Negócios Estrangeiros.
Marcelo Rebelo de Sousa reúne-se ainda este domingo (madrugada de segunda-feira em Lisboa) com o secretário-geral da ONU, António Guterres, na antecâmara da Assembleia Geral.
Vai estar amanhã na Cimeira de Paz Nelson Mandela e com os presidentes do Quénia, Uhuru Kenyatta, e das ilhas do Palau, Tommy Remengesau.
Na terça-feira, Marcelo marcará presença num evento sobre ação para a manutenção de paz e num encontro de chefes de delegação da CPLP. Haverá também lugar a reuniões bilaterais com os homólogos de Moçambique, Filipe Nyusi, e da Colômbia, Iván Duque Márquez.
O Chefe de Estado português fará o seu discurso a partir do púlpito na quarta-feira, já depois de um encontro com o Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, e da participação na cimeira “Um Planeta”, dedicada à resposta às alterações climáticas.
c/ agências
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