O continente asiático é potencialmente o que sentirá mais dificuldades devido à seca e à escassez de água, com as projecções actuais a anteciparem que a situação se continuará a agravar nos próximos anos, afirmou hoje um especialista das Nações Unidas.
Carlos Fernández-Jáuregui, do Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos (WWAP) da Unesco, explicou que a Ásia, onde reside 60 por cento da população mundial, só tem 36 por cento dos recursos hídricos mundiais, comparativamente à América Latina, por exemplo, onde seis por cento da população mundial têm 26 por cento da água de todo o mundo.
"As projecções actuais indicam que a procura de água, que tende a crescer, será um problema cada vez mais premente na Ásia", disse Fernández-Jáuregui, que intervinha no Fórum Internacional da Seca em Sevilha (Espanha).
Fernández-Jáuregui recorda que apesar de a seca ser "um problema de todos e que afecta tanto os países desenvolvidos como os em desenvolvimento", a falta de água tem impactos económicos maiores nos países mais pobres, onde as infra-estruturas são mais deficientes e as capacidades de lidar com o problema mais limitadas.
Uma situação agravada, tanto nos países ricos como nos pobres, pela ausência de informação "com suficiente base científica ou validez", falta de estratégias ou de organizações capazes de lidar com o tema da escassez de água e falta de gestão adequada dos recursos hídricos.
Dados da ONU indicam que o problema da seca e dos eventos associados é responsável por 48 por cento das mortes no planeta, representando perdas avultadas para todos os sectores da economia, desde a agricultura à pesca, do turismo à energia.
Informação parcial indica, por exemplo, que a seca representa perdas anuais de mais de 10 mil milhões de euros na China e de cerca de 5,5 mil milhões na Austrália.
A acrescentar há ainda o impacto ambiental da seca, com a perda de biodiversidade, a migração espécies, a perda de zonas húmidas, a erosão dos solos, os fogos florestais e a desflorestação bem como a diminuição geral da qualidade da água e do ar.
Apesar das carências de água, porém, Fernández-Jáuregui insiste que é "possível" e até "desejável" aprender a "conviver com a seca", um evento "recurrente e que tudo indica se tornará cada vez mais frequente".
Em particular, sustenta, se houver um esforço para sensibilizar a cidadania da necessidade de alterar as percepções ou melhorar a forma de gerir recursos hídricos, em particular na agricultura que consome em média, 75 por cento da água.
Como exemplo cita a situação do noroeste brasileiro onde 10 estados convivem regularmente com a seca, que afecta 10 milhões de pessoas e onde os projectos em curso apostam no uso mais eficaz da água necessária para a agricultura.
Neste caso o Brasil apostou em novas técnicas de rega, usando potes de barro, num projecto que já começou a ser exportado para várias regiões do planeta.
"Se não se melhorar a eficácia dos sistemas de rega na agricultura não será possível poupar água ou garantir um uso eficaz da água. Não se deve fazer produção de produtos de zonas húmidas em zonas secas", frisou.