No mesmo dia em que tomou posse como 38.º Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro assinou três decretos que estabelecem reestruturações na administração federal e a alteração do salário mínimo, assim como uma medida provisória que pretende modificar o número de pastas ministeriais.
Outro decreto assinado no primeiro dia de Presidência serviu para nomear os ministros do novo Governo.
Sérgio Moro, ex-juiz da Operação Lava Jato que em 2017 condenou Lula da Silva a nove anos e meio de prisão, foi o escolhido para liderar o Ministério da Justiça e Segurança.
A reestruturação ministerial dita que a pasta da Justiça passará a incorporar o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), que aplica penas administrativas e investiga suspeitas relacionadas com lavagem de dinheiro.
Assim sendo, o Ministério da Justiça passa a ter como responsabilidade a “prevenção e combate à corrupção, à lavagem de dinheiro e ao financiamento ao terrorismo e cooperação jurídica internacional”, assim como o combate ao “crime organizado e crimes violentos”.
O novo ministro da Casa Civil é Onyx Lorenzoni, braço direito de Bolsonaro que em dezembro foi acusado de ter utilizado verbas públicas durante a campanha presidencial do agora Presidente brasileiro.O terceiro decreto assinado diz respeito à organização das entidades da administração pública federal indireta.
As relações governamentais passarão a estar sob a tutela de dois secretários de Lorenzoni, estando um deles responsável pela Câmara e outro pelo Senado.
A pasta da Saúde foi atribuída ao médico Luiz Henrique Mandetta, que defende o direito das crianças à vacinação e a melhoria da política de prevenção ao HIV. Apesar de se considerar “pró-vida”, Mandetta acredita que a lei deve ser respeitada e que, enquanto o aborto no Brasil for permitido, deve ser realizado da “maneira menos traumática possível”.
A Secretaria do Governo ficou entregue a Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-comandante das forças da ONU no Haiti e no Congo. Este ministério está agora vinculado às secretarias dos Assuntos Federativos, da Articulação Social e da Comunicação Social.
Já a medida provisória indica que o Governo passará a ter 22 pastas em vez das 29 que existiam sob a Presidência de Michel Temer. De acordo com o Diário Oficial da União, esta medida “estabelece a organização básica dos órgãos da Presidência da República e dos Ministérios”.
Os critérios para a aplicação de medidas provisórias pelo Presidente são urgência e relevância. Estas medidas vigoram por um período de apenas 60 dias, que pode ser prorrogado por outros 60, após o qual poderão ou não ser convertidas em leis.
“Viés ideológico”
No dia da tomada de posse, Bolsonaro discursou por duas vezes, uma diante do congresso dos deputados e outro no Palácio do Planalto, onde se encontra o gabinete presidencial.
Começando por frisar a necessidade de um combate ao “viés ideológico” que associou às políticas de esquerda do Partido dos Trabalhadores, o Presidente brasileiro defendeu o regresso à “moral cristã” e aos “valores tradicionais da família”.
“Podemos, eu, você, as nossas famílias, todos juntos restabelecer padrões éticos e morais que transformarão o nosso Brasil”, afirmou.
Bolsonaro relembrou a intenção da liberalização do uso de armas para que “o cidadão de bem” disponha de “meios para se defender”.
Defendeu ainda reformas estruturais a nível financeiro, declarando que é necessário “criar um ciclo virtuoso para a economia, que traga a confiança necessária para permitir abrir o nosso mercado ao comércio internacional, estimulando a competição, a produtividade e a eficácia”.
Com a promessa de “colocar os interesses dos brasileiros em primeiro lugar”, Bolsonaro declarou que a corrupção e os privilégios “precisam de acabar” de modo a que “o Governo e a economia sirvam de verdade toda a nação”.
Outra promessa, que começou a aplicar no próprio dia ao assinar os três decretos e a medida provisória, foi a de “fazer reformas, ampliar infraestruturas, simplificar a burocracia, tirar o peso do Governo, acabar com a ideologia que criminaliza os polícias e desculpa os criminosos, e que levou o Brasil a viver elevados índices de violência e crime organizado”.
Donald Trump já elogiou o discurso de Bolsonaro. “Os Estados Unidos estão consigo”, escreveu numa publicação no Twitter à qual o Presidente do Brasil já respondeu.
Dear Mr. President @realDonalTrump, I truly appreciate your words of encouragement. Together, under God’s protection, we shall bring prosperity and progress to our people! https://t.co/dplAFNJGdA
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 1 de janeiro de 2019
“Caro Presidente Trump, agradeço verdadeiramente as suas palavras de encorajamento”, declarou. “Juntos, sob a proteção de Deus, traremos prosperidade e progresso aos nossos povos!”.